Bernard Hinault deixa aviso a Tadej Pogacar: "Já vimos muitos ciclistas vítimas de esgotamento"

Ciclismo
terça-feira, 01 julho 2025 a 12:24
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Quarenta anos após o seu último triunfo na Volta a França, Bernard Hinault continua a ser a última lenda francesa a vestir a Camisola Amarela em Paris. E o "Badger" voltou a não poupar nas palavras. Em declarações contundentes ao L'Équipe, o pentacampeão do Tour criticou de forma severa o estado atual do ciclismo francês e apontou o dedo à falta de ambição dos seus sucessores.
"Não têm resultados e, sobretudo, não têm hipóteses de ganhar o Tour", disparou Hinault. "É uma constatação terrível, mas é inevitável: já não há grandes campeões em França que possam ganhar o Tour."
A crítica não se ficou pelos resultados. O francês aponta uma mudança de mentalidade e ambição como principal obstáculo. "Queixar-se é um sinal de fraqueza. Deveria tê-los motivado a mostrar-me que eu estava errado", desafiou. "Quando se pratica desporto de alto nível, quer-se ganhar. Há anos que não tenho essa impressão quando ouço os franceses anunciarem o seu objetivo no início do Tour: um lugar entre os 10 primeiros na classificação final."
Hinault recordou ainda o quarto lugar de David Gaudu em 2022 como exemplo da complacência: "Foi tratado como se ele tivesse quase ganho. Isso não o ajudou a ambicionar mais alto depois, porque em França já tinha recebido quase todas as honras que normalmente são dadas a um vencedor."
Num cenário globalizado e altamente competitivo, em que talentos emergem de países com pouca tradição na modalidade, a França continua sem produzir um candidato sólido à vitória numa Grande Volta. Hinault não perdoa: "Quem é que os obriga a fazer a Volta a França? Há corridas mais bonitas para ganhar. Julian Alaphilippe deveria ter servido de exemplo para muitos ciclistas franceses."
Ainda assim, não deixou de fazer uma ressalva: "Temos corredores com muito bom desempenho, que podem ganhar clássicas. Por que é que ele teria como objetivo um top 10 no Tour, quando toda a gente esquece imediatamente essa listagem?"
Quanto ao futuro, o nome de Paul Seixas, jovem promessa de apenas 18 anos, começa a gerar esperanças no público francês. Mas Hinault alerta para o perigo da pressão precoce. "Deixem-no ganhar primeiro a Volta a L’Avenir. Foi muito bom deixá-lo fazer o Critérium du Dauphiné este ano. Não vejo porque é que ele não faria o Tour no próximo ano. Ele terá 19 anos e pode aprender tudo lá", afirmou, apontando prudência, mas também ousadia.
Já sobre Tadej Pogacar, que este ano parte como principal favorito à vitória na Volta a França e ameaça alcançar o recorde de cinco títulos, Hinault mostrou respeito e alguma empatia. "Não está muito longe. Ele é muito impressionante. Ouço aqui e ali que começa a ser aborrecido vê-lo ganhar tanto, mas não é culpa dele que os outros não o consigam tirar do pedestal, pois não?"
Hinault vê no esloveno um reflexo do seu próprio estilo competitivo. "Ele correu cinco Tours e ganhou três, mas também perdeu dois. Conhece as duas experiências. A parte mais difícil é concentrar-se e começar com a ideia de que se quer ganhar. Mas ele também vai para o Tour com a ideia de desfrutar durante três semanas, e aí revejo-me um pouco nele. Também senti que estava a divertir-me, e não a trabalhar."
Contudo, o francês deixa um aviso sério: "Ele pode muito bem ceder e ser vítima do seu próprio sucesso. Tem uma confiança absoluta em si próprio e nunca mostra o mínimo sinal de cansaço, mas manter-se nesta forma também o torna vulnerável. Já vimos muitos mais ciclistas que foram vítimas do esgotamento."
A menos de uma semana do arranque da edição de 2025 da Volta a França, as palavras de Hinault ressoam como provocação, crítica e, talvez, como um último apelo para que o ciclismo francês acorde de vez do seu longo sono.
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