A apenas cinco dias da
Grand Depart em Lille,
Remco Evenepoel prepara-se para alinhar pela segunda vez na
Volta a França. As expetativas são elevadas e, depois da sua estreia auspiciosa em 2024, o belga chega à edição de 2025 com um estatuto renovado.
No ano passado, Evenepoel impressionou ao vencer uma etapa, conquistar a camisola branca e terminar no pódio final, atrás apenas de Jonas Vingegaard e
Tadej Pogacar. Agora, carrega não só o peso de uma nação, como também as esperanças de uma equipa que acredita finalmente ter em mãos um líder capaz de bater os grandes dominadores das Grandes Voltas.
Mas será que a ambição e a fé colectiva serão suficientes?
O desafio de Evenepoel foi analisado com franqueza por um dos veteranos mais respeitados do pelotão belga. Em declarações à Cycling News,
Thomas De Gendt foi claro sobre a magnitude da tarefa. "Para ser honesto, quando Tadej Pogacar chega tão forte à Volta a França, e eu não desejo isso a ninguém, a única maneira de Remco Evenepoel ter uma verdadeira hipótese de vencer é se o Pogacar cair", afirmou De Gendt. "Caso contrário, vai ser muito, muito difícil para o Remco, ou para qualquer outro, sequer aproximar-se."
A observação pode soar dura, mas reflete o realismo de quem conhece bem a consistência e a forma avassaladora do esloveno. Pogacar chega ao Tour depois de dominar o Critérium du Dauphiné e acumular vitórias convincentes na primavera, enquanto Evenepoel ainda parece a caminho da sua melhor condição. "O interessante, claro, é que na cabeça do Remco, provavelmente nem o Pogacar está fora de alcance", continuou De Gendt. "Mas isso acontece porque, se estás na posição dele e assumes que o Pogacar é imbatível, já perdeste antes sequer da corrida começar. O mesmo vale para o Vingegaard: ele também não entra a pensar no segundo lugar, só pensa em vencer."
Os vencedores das classificações especiais do Tour 2024: Evenepoel (Juventude), Carapaz (Montanha), Girmay (Pontos) e Pogacar (Geral)
Para De Gendt, esse traço mental de Evenepoel é um dos seus maiores motores. “O Remco tem, e não se deve interpretar isto de forma negativa, um grande ego. Não é uma crítica, mas uma constatação: ele gosta de se desafiar. Basta lembrar o dia mau que teve no Tourmalet durante a Volta a Espanha de 2023, quando até eu o ultrapassei. Estava irreconhecível. Mas 24 horas depois, estava a voar novamente.”
A leitura de De Gendt é clara: Evenepoel não se esconde perante a adversidade, reage. A sua motivação vai além do reconhecimento externo. “Essas reviravoltas não servem para provar algo ao público... é quase como se ele quisesse demonstrar o seu valor, não só a si próprio, mas também à equipa. Que merece ter uma formação a trabalhar para ele, que é um investimento justificado.”
A prestação recente no Critérium du Dauphiné deixou sensações mistas. Evenepoel brilhou no contrarrelógio, batendo Pogacar por quase 45 segundos num esforço de 13 quilómetros, mas voltou a perder tempo significativo nas etapas de montanha e terminou em quarto lugar na geral.
Ainda assim, a vitória no "crono" alimentou as esperanças para a primeira semana do Tour, que incluirá um esforço semelhante. “Acredito que conheço suficientemente bem o Remco para saber que ele pensa que pode bater o Pogacar no contrarrelógio inicial”, comentou De Gendt. “Se vencer o ‘crono’ e limitar as perdas nas montanhas, o Remco vai acreditar que pode discutir a geral com o Pogacar.”
Contudo, nas etapas de alta montanha, sobretudo em altitude prolongada, Evenepoel continua a parecer vulnerável em comparação com os trepadores puros.
De Gendt reconhece que o seu compatriota tem os pés assentes no chão. “O Remco também é realista e sabe que é uma tarefa muito difícil. Mas essa é precisamente a mentalidade de um campeão.”
Enquanto Pogacar já demonstrou uma forma irrepreensível ao longo de toda a temporada, a preparação de Evenepoel foi delineada para atingir o pico de forma no verão, após o acidente sofrido em dezembro. Para De Gendt, o Dauphiné poderá ter representado uma etapa essencial nesse processo.
“Mentalmente, esta semana no Dauphiné deve tê-lo afetado um pouco”, admitiu. “Mas mesmo assim, é plausível pensar que ele vai estar muito melhor no Tour e que talvez consiga superar o Vingegaard na geral. O Remco ainda pode melhorar a sua condição física. Talvez tenha mesmo precisado do Dauphiné para subir mais um degrau e atingir o nível necessário para lutar pela vitória final. O mesmo se aplica ao Vingegaard. É claro que vai ser difícil, mas ainda falta muito para as etapas decisivas do Tour e tudo pode acontecer.”