Robbie McEwen sabe do que fala quando o tema é a camisola dos pontos da
Volta a França. O antigo sprinter australiano, vencedor da classificação por pontos em 2002, 2004 e 2006, acredita que a luta pela camisola verde deste ano ainda está longe de estar decidida. Para McEwen, o domínio pontual de
Jonathan Milan poderá não resistir à consistência de
Tadej Pogacar e à versatilidade de Mathieu van der Poel.
“Está muito longe do fim”, afirmou McEwen ao Cyclingnews. “Jonathan Milan tem a liderança, mas não está seguro, porque o Tadej Pogacar vai continuar a ganhar etapas e, se não ganhar, vai ficar muito bem classificado. Ele é a verdadeira ameaça para Milan.”
Com a sua habitual visão táctica, McEwen aponta que Milan terá de se reinventar como ciclista ofensivo, procurando os sprints intermédios e capitalizando ao máximo nas etapas planas, sempre que o perfil se ajustar às suas características.
Van der Poel em crescendo
Mathieu van der Poel, apesar de estar a 58 pontos de Milan, tem subido paulatinamente na tabela da classificação por pontos, sobretudo graças à sua presença constante nos grupos da frente em etapas acidentadas. Sem a pressão de lutar pela geral, como Pogacar, e dividindo esforços ao serviço de Kaden Groves, o holandês tem-se mantido discreto, mas eficaz.
“O Van der Poel está a conseguir entrar nos intervalos e a ganhar pontos”, observa McEwen. “Ele seria uma ameaça muito maior e estaria muito mais perto se se tivesse concentrado apenas em si próprio. Mas tem sido um bom colega de equipa.”
A análise do australiano deixa subentendido um cenário alternativo: se Van der Poel tivesse apostado desde o início na classificação por pontos, possivelmente estaria já com a camisola verde. “Se o Mathieu chegasse ao Tour e se concentrasse apenas em si próprio e nos sprints intermédios, então com certeza poderia ganhar a camisola verde”, conclui McEwen.
Jonathan Milan vence a etapa 8 em Laval
Pogacar e o efeito colateral das vitórias
Tadej Pogacar, por sua vez, nem sequer tem manifestado uma intenção clara de conquistar a camisola verde. No entanto, o esloveno soma tantos pontos através das vitórias e classificações nos lugares cimeiros que, por arrasto, se tornou numa ameaça directa para Milan. “Ele vai continuar a pontuar bastante em várias chegadas, mesmo em etapas difíceis. O Milan terá de reagir”, alerta McEwen.
Se Milan quiser resistir ao avanço de Pogacar, terá de sair da sua zona de conforto e arriscar. Estar presente em fugas, disputar sprints intermédios e não desperdiçar nenhuma chegada ao sprint serão condições essenciais para manter a vantagem.
Merlier: o bloqueador silencioso
Embora não esteja envolvido na luta pela camisola verde,
Tim Merlier já teve impacto na classificação. Com duas vitórias em sprints, o belga da Soudal - Quick-Step retirou pontos preciosos a Milan, impedindo-o de somar 50 pontos em etapas planas. “
Isso também pode ser algo no final que impeça Milan de ganhar a camisola verde”, avisa McEwen. “
Se ele perder 50 pontos porque Merlier o vence, isso pode acabar por fazer a diferença entre Milan e Pogacar.”