A maior e mais conhecida corrida de ciclismo do planeta, a
Volta a França traz consigo um sentimento especial que não pode ser reproduzido em mais lado nenhum. Antes da edição de 2024, o diretor da corrida,
Christian Prudhomme, tem sido aberto e honesto sobre a profunda ligação entre a corrida e o povo francês.
"A filosofia da família Amaury (ASO) também é diferente da imagem que se cria dela. Muitas pessoas no mundo do ciclismo não vão acreditar no que vou dizer. O mais importante para a família é que o Tour possa ser visto pelo maior número possível de pessoas", afirma Prudhomme na RIDE Magazine. "É por isso que também querem acordos com canais públicos e não querem certamente que o Tour esteja atrás de um descodificador e/ou de uma paywall. O seu objetivo é divulgar o Tour da forma mais ampla possível, para que as pessoas possam assistir à corrida gratuitamente. Não estão interessados em ganhar o máximo de dinheiro possível, mas sim em tornar o evento o mais popular possível".
Com a notícia da realização de eleições legislativas no país, havia uma preocupação genuína de que a Volta a França pudesse ser afetada pela afluência dos eleitores às urnas. Felizmente, as coisas parecem estar a decorrer sem problemas, mas como o próprio Prudhomme diz, a importância do governo francês nos bastidores da Volta a França não pode ser subestimada.
"Costumamos dizer que o ministro mais importante para nós não é o Ministro do Desporto, mas sim o Ministro do Interior", confirma Prudhomme. "Precisamos da aprovação do governo para organizar o Tour. Por vezes digo: o governo francês é o nosso patrão. Se o Ministro do Interior não nos apoiar, não haverá Volta a França".
"Os 28.000 polícias que protegem o percurso, os polícias de mota, os bombeiros, etc. Sem o Ministro do Interior, eles não estão lá. É algo de que o mundo do ciclismo não tem consciência. Como intervenientes no ciclismo, podemos decidir o que quisermos entre nós, mas sem a aprovação desse ministro não podemos fazer nada", prossegue o organizador da prova.
"Tomemos como exemplo o Corona Tour [o Tour de 2020]. É claro que todos trabalhámos bem em conjunto. A UCI, os organizadores, as equipas e os ciclistas uniram esforços. Mas o Tour só foi para a frente porque o Presidente da República Francesa disse que devia haver um Tour. Foi fácil para nós falar em Place Beauvau [Ministério do Interior em Paris] quando foi dito de cima que o Tour devia acontecer. Sem esse apoio, não teríamos chegado a lado nenhum", conclui Prudhomme. "Por vezes, tenho a sensação de que o mundo do ciclismo não compreende que as coisas não são assim tão simples. Sobretudo em circunstâncias difíceis, por vezes já não nos cabe a nós decidir. Para a França, o Tour é muito mais do que uma corrida de ciclismo".