Na classificação final da
Volta a França 2025, a diferença de 4:24 entre Tadej Pogacar e o segundo classificado Jonas Vingegaard não conta toda a história da corrida. Durante grande parte da prova, os dois rivais pareciam estar em pé de igualdade. No entanto, para Vingegaard, alguns dias específicos foram decisivos e custaram-lhe caro, como recorda o seu colega de equipa na
Team Visma | Lease a Bike,
Edoardo Affini.
Depois de disputar seis Voltas a Itália e duas Voltas a Espanha, o campeão europeu de contrarrelógio estreou-se este verão na tão aguardada Volta a França.
"A exposição mediática, as multidões, todo o circo… O Tour tem uma câmara de eco muito maior. Talvez seja pela altura do ano, julho, quando muita gente está de férias. Talvez seja simplesmente porque eles sabem contar melhor a história. Seja qual for o motivo, há muito mais atenção, tanto da imprensa como do público dentro do ciclismo",
explicou o italiano à Bici.Pro, ao comparar as diferenças entre as Grandes Voltas.
"No Giro, os meios de comunicação que seguem o ciclismo estão sempre presentes ao longo do ano. No Tour, até aqueles que normalmente nem sabem que o ciclismo existe aparecem de repente."
Isso traduz-se em maior pressão sobre os ciclistas do pelotão. "No Giro, o nosso objetivo era chegar à liderança, mas era mais um trabalho em construção. Não sabíamos muito bem como iria evoluir, fomos construindo as coisas dia após dia",
conta Edoardo Affini sobre as expectativas da Visma.
"No Tour, sabíamos desde o início que a luta seria entre o Tadej e o Jonas. Claro que podíamos incluir o Remco Evenepoel e o Primoz Roglic, mas na realidade, seriam esses dois."
Para Affini, a pressão não era apenas negativa. "Não se tratava só de stress. Saber que se está a trabalhar para alguém que luta pela vitória na Volta a França dá-nos um verdadeiro impulso. Desde o início concentrei-me muito mais em estar na frente, proteger o Jonas e manter-me sempre alerta."
As tácticas da Visma na Volta a França geraram um intenso debate no mundo do ciclismo. A equipa adoptou uma abordagem agressiva e implacável durante a semana de abertura, em terreno maioritariamente plano, procurando desgastar Tadej Pogacar com ataques e ritmos elevados. No entanto quando a corrida chegou às altas montanhas, parecia que a Visma estava a pagar o preço do seu esforço inicial e estavam queimados pelo seu próprio ritmo.
Quando questionado sobre os planos da equipa, Edoardo Affini reconhece que a estratégia não era rígida: "É difícil definir. Não havia propriamente um plano específico. Sabes como é nas entrevistas, às vezes também conta o psicológico. O que posso dizer é que tentámos sempre fazer a nossa corrida, com as ideias que tínhamos e que discutíamos diariamente no autocarro da equipa. Fizemos tudo para colocar o Pogacar e a UAE sob pressão, esperando que a algum momento se abrisse uma porta."
No entanto, essa oportunidade nunca surgiu. "No final essa porta nunca se abriu. Tanto o Tadej como a sua equipa foram sólidos como uma rocha. A certa altura, quando já era apenas o duelo entre eles os dois, a dinâmica colectiva deixou de importar."
Affini estreou-se na Volta a França em 2025
Como já foi referido, embora Jonas Vingegaard e Tadej Pogacar tenham estado em pé de igualdade em grande parte da corrida, dois dias maus custaram caro ao dinamarquês.
"O Jonas tentou várias vezes, mas nunca conseguiu," analisa Edoardo Affini. "Infelizmente ele teve alguns dias maus, especialmente no primeiro contrarrelógio e depois no Hautacam. Essas duas etapas deram ao Tadej a sua margem. Se somarmos tudo, 1’28’’ perdidos no contrarrelógio de Caen e 2’10’’ no Hautacam, percebemos logo de onde veio a diferença na geral."
Para Affini, a intensidade da corrida foi determinante. "No final estavam os dois a pedalar a todo o gás. Foi a Volta mais rápida da história. Isso diz muita coisa."
O italiano admite que as tácticas agressivas da Visma tiveram um efeito colateral claro: desgastaram tanto Pogacar como o próprio Vingegaard.
"Em todos os inícios do dia dizíamos: ‘Hoje eles devem estar cansados, de certeza que não vai começar como ontem’. E depois… começava igual ou pior. Conjugámos o verbo explodir em todos os tempos verbais possíveis. Em negrito, maiúsculas e sublinhado!"