Debate sobre a 16ª etapa do Giro: A implosão de Ayuso, o abandono de Roglic, Del Toro fraquejou e mais...

É uma loucura tentar resumir isto corretamente. A etapa foi absolutamente louca, é claro, mas foi uma etapa que adorei ver. Primeiro, um Primoz Roglic completamente desmoralizado que caiu e depois abandonou. Bernal também cai, mas consegue continuar.

Ayuso fica para trás e perde minutos, claramente frustrado. Pellizzari foi-se embora do grupo dos restantes favoritos com uma facilidade surpreendente. Carapaz tentou mais do mesmo, pensando que podia apanhar e acompanhar Pellizzari, mas acabou por falhar. E, por último, mas não menos importante, Yates consegue livrar-se de Del Toro.

Esta etapa foi especialmente bonita porque nenhum dos candidatos à CG brincou às escondidas. Até Derek Gee, que foi o primeiro a responder ao ataque de Carapaz, mostrou que tinha pernas ainda mais fortes do que Simon Yates. Sim, esta etapa vai ficar na memória dos fãs durante muito tempo.

Para mim, Pellizzari destacou-se. Mostrou coragem - e não esqueçamos que agora está completamente livre de ter Primoz Roglic a respirar-lhe no pescoço. Até que ponto é que ele está atrás? Vou ter de consultar o artigo da GC para descobrir.

Tudo isto, num dia em que três italianos terminaram em 1º, 2º e 3º lugar - nunca se poderia imaginar este desfecho.

Etapa louca. Determinante, tanto para o bem como para o mal. A melhor do Giro até agora. Devido ao percurso já era expectável, mas foi ainda melhor.

Quanto à etapa em si, grande gesto de Lorenzo Fortunato para com o seu colega de equipa e compatriota Christian Scaroni... Fortunato era claramente o mais forte da fuga, mas em reconhecimento do seu trabalho e dedicação, deu-lhe a vitória numa bandeja.

Em terceiro lugar ficou Giulio Pellizzari, que, após o abandono de Primoz Roglic, terá agora muito mais liberdade e dará certamente o seu melhor para terminar como o melhor italiano na classificação geral. Aos 21 anos, mostrou que o próximo italiano a ganhar o Giro poderá ser ele.

Richard Carapaz foi um dos grandes vencedores do dia. Reduziu 42 segundos a diferença para Simon Yates e 1:36m para Del Toro e colocou-se claramente na luta pela maglia rosa. Derek Gee e Michael Storer confirmam que não é preciso ser-se um jovem prodígio para se chegar um dia ao top 10 de uma Grande Volta.

Por fim, os Emirados Árabes Unidos podiam ter perdido tudo num só dia. Mantêm camisola rosa com Del Toro, mas a diferença diminuiu consideravelmente. Juan Ayuso disse adeus à Maglia Rosa, ao pódio e até ao Top 10...

Outro grande derrotado do dia foi Antonio Tiberi, que foi completamente ultrapassado pelo seu compatriota e colega de equipa Damiano Caruso, 14 anos mais velho.

Com tanta coisa a acontecer, talvez seja mais fácil ir por pontos.

Luta pela fuga: Scaroni é um tremendo ciclista, mas nunca o tinha visto subir assim. Uma vitória verdadeiramente definidora da sua carreira, porque veio realmente naquela que foi a etapa mais difícil do Giro.

Primoz Roglic: O seu abandono já era esperado, mas uma queda precipitou as coisas. Para além do azar, parece claro que tem problemas com a condução da bicicleta ou com a sua condução no pelotão. Não é algo que me agrade dizer, mas é evidente, que essa lacuna custou-lhe outra Grande Volta. Ele irá ao Tour, mas não creio que esteja perto da luta pelo pódio, muito menos a pensar em ganhá-lo.

Juan Ayuso: Ele está a quebrar, física e mentalmente. Estava escrito. Ele ainda estava a lutar com os efeitos da queda na 9ª etapa. Os comentários constantes e a pressão colocada sobre ele, a UAE e suas tácticas, definiram o restante.

No seu melhor, hoje ele teria provavelmente andado na frente e proporcionado aos Emirados Árabes Unidos a segunda carta de que precisavam após Del Toro explodir. A partir de agora, o seu papel é claro: Domestique. Mas será interessante ver se ele e os Emirados Árabes Unidos se irão entender depois de mais um fracasso do espanhol.

Isaac del Toro: Ele mostrou o seu nível, o seu verdadeiro nível. Acho que durante toda a corrida ele andou acima de todas as expectativas e hoje dentro das expectativas. Uma grande etapa, mas ele quebrou claramente. Dias longos nas montanhas, subidas longas e íngremes... Os pontos fracos do seu arsenal foram expostos, mesmo que a terceira semana seja uma incógnita.

A sua vantagem sobre Yates e Carapaz é demasiado curta para estar confiante na vitória final e o nervosismo poderá apoderar-se dele. Acredito que ele estará melhor amanhã, onde o terreno não será tão difícil, mas a almofada que ele criou nas duas ultimas semanas acabou.

As coisas parecem sombrias para os Emirados Árabes Unidos, que não foram dominantes hoje, e têm de mudar de táctica - mais homens para as fugas - para manterem esta estreita liderança da corrida.

GC: Richard Carapaz a correr com a GRINTA! Porque os Emirados Árabes Unidos não usaram a sua equipa para colocar alguém como Yates ou McNulty também na luta pela CG, eles agora só têm uma carta para jogar. Carapaz e Yates, que não têm muita equipa para os apoiar, não foram colocados sob pressão e podem simplesmente correr frente a frente com Del Toro e ganhar tempo crucial.

Carapaz é um ciclista rebelde que agora está cheio de confiança e sabe que pode ganhar tempo aos seus dois rivais... o que significa que irá provavelmente atacar na maioria das oportunidades que lhe surgirem.

A luta pela classificação geral não será apenas entre eles, uma vez que Derek Gee está totalmente ao alcance do pódio ou mesmo da vitória, pelo que não o descartem, uma vez que ele esteve muito forte hoje. Egan Bernal vai continuar a tentar atacar de longe e a surpreender para ter uma hipótese de subir ao pódio, Giulio Pellizzari também vai provavelmente atacar, porque hoje esteve demasiado forte e acabou o dia em 9º lugar na classificação geral...

Este é o verdadeiro Giro, uma corrida a sério e um dia que adorei. É isto que as organizações do Tour e da Vuelta precisam de ver e assim implementarem mais etapas de montanha de 200 quilómetros nas suas corridas - especialmente depois de um dia de descanso.

A fadiga acumula-se e pode criar mais facilmente momentos como os de hoje. Estas duas últimas etapas foram muito bem sucedidas, como o Giro não fazia há anos, e acredito que ainda vamos ter mais fogo de artifício nos próximos dias.

Que dia fantástico de ciclismo. Tivemos todos os ingredientes possiveis e imaginários no percurso e a etapa, que no papel tinha um percurso desafiante após um dia de descanço, tornou-se mais duro devido à chuva.

A INEOS viu três dos seus homens irem ao chão, tal como foram Roglic, que precipitou o seu abandono ( que já estava anunciado), Carapaz, que fez uma etapa soberba e muitos outros. O que dizer do ataque do equatoriano? Fantástico. Foi o unico ciclista, a par de Bernal noutros dias, que tem ousado fazer frente à toda poderosa UAE, que hoje implodiu.

Uma equipa sem líder e sem norte. Ayuso amua facilmente e gosta de ter protagonismo. Hoje teve protagonismo, ao rebentar na penúltima subida. Podemos argumentar que foi por causa do joelho. Eu quero acreditar que sim, porque a equipa não recuou para o ajudar, sinal de que eles já sabiam que ele não estaria bem. Del Toro pode agradecer a Adam Yates e a Rafal Majka ( o ultimo dos Emirates a estar a seu lado) não ter perdido mais tempo e ainda vestir a Rosa.

Pellizzari soltou a besta que tem dentro dele. O italiano enche-me as medidas. Se já gostava da sua forma de correr, hoje provou que a Red Bull tem de rever os papeis. Roglic manteve-o na sombra, agora que o esloveno abandonou, veremos o verdadeiro Pellizzari na alta montanha.

Palavras finais para Derek Gee e Egan Bernal. Gee vem de menos a mais e tem o pódio na mira. Simon Yates e Carapaz olham para Del Toro e querem o lugar dele na geral, mas Gee não será de descartar. Vêm aí muitas montanhas, muita dureza, e Gee terá uma palavra a dizer.

Bernal é um lutador. Nota-se que quer mais, mas faltam-lhe pernas e liberdade. Liberdade dada pelos rivais, que quando o vêm atacar, seguem-lhe a roda, por respeito, medo e porque sabem que o antigo Bernal pode estar de volta. Uma etapa dar-lhe-ia o impulso necessário para o colombiano explodir.  

Parabéns à Astana que faz 1º e 2º na etapa e... ao ciclismo italiano, que completou o pódio da etapa, como há muito não se via numa Grande Volta.

Quando liguei a televisão a meio da etapa, pensei que teríamos mais um jogo de xadrez aborrecido na luta pela CG. Enganei-me redondamente. A luz do sol em Trento foi o sinal para que todos acordassem e o resto? Puro ciclismo.

Pensámos que o Giro de 2025 seria uma batalha táctica entre Roglic e Ayuso? Errado! A partir de hoje, ambos desapareceram da classificação geral.

Pensávamos que Isaac del Toro era invencível só porque vestia a camisola rosa? Richard Carapaz quer ter uma palavra a dizer relativamente a isso. Assim como em 2019, negligenciamos o equatoriano e como há 6 anos atrás, ele aparece repentinamente no caminho para a vitória na Volta a Itália. Eu já tinha essas sensações quando ninguém o conseguiu acompanhar na etapa que ganhou a semana passada.

Hoje vimos muitos vencedores e ainda mais homens derrotados, alguns até desiludidos. Como fãs de ciclismo, é exatamente isto que esperamos e desejamos nestas "etapas rainha". A melhor parte? Há mais três menus iguais esta semana!

Neste momento, não me atrevo a adivinhar quem vai subir ao pódio em Roma, mas devemos estar atentos a Derek Gee. O sucessor de Ryder Hesjedal está longe de estar afastado da corrida.