Debate sobre a 4ª etapa da Volta à Polónia e 3ª etapa da Volta a Burgos, com comentário à 1ª etapa da Volta a Portugal

O dia de hoje foi absolutamente frenético. Assistimos a um calendário repleto de corridas no mesmo dia, com ação na Polónia, em Burgos, na Noruega e em França e, claro também, em Portugal! Na Polónia, a quarta etapa teve o segundo sprint em pelotão compacto na corrida. A Visma era a clara favorita, com dois sprinters de grande calibre, Olav Kooij e Matthew Brennan. No entanto, a equipa holandesa não conseguiu cumprir o seu objetivo. Nenhum dos ciclistas foi capaz de disputar a vitória e a equipa deixou uma má impressão geral. Apesar de ter trabalhado arduamente durante todo o dia para controlar a fuga, a Visma desapareceu completamente da frente quando realmente importava, deixando escapar por entre os dedos uma vitória quase certa.

Paul Magnier foi o homem mais forte hoje. Ganhou sem contestação graças a um sprint imbatível. A classificação geral não registou grandes alterações, com Paul Lapeira a manter-se na liderança após a dura queda de ontem.

Na Volta a Burgos, assistimos a um desempenho impressionante de uma nova joia francesa. Léo Bisiaux superou grandes nomes como Giulio Ciccone, Isaac Del Toro e Giulio Pellizari para vencer uma das etapas mais difíceis da corrida. O futuro parece incrivelmente brilhante tanto para a Decathlon AG2R La Mondiale Team como para o ciclismo francês de forma geral. E não esqueçamos Paul Seixas, outro jovem talento que tem dado sinais de que se irá tornar uma das próximas grandes estrelas do desporto.

Em Portugal tivemos vitória de German Tivani na 1ª etapa em linha da Volta a Portugal, com Rafael Reis a manter a liderança da corrida.

Uma vez terminadas as etapas, pedimos a alguns dos nossos redatores que partilhassem os seus pensamentos e as suas principais conclusões sobre o que aconteceu hoje.

Hoje o grande foco do dia da minha parte tem de ir para a Volta a Portugal! Depois do prólogo da Maia, que foi vencido pelo homem que eu esperava ver vencer, estava curioso para saber quem eram os tubarões que iam mostrar os dentes na etapa de hoje. A etapa prometia espetáculo e não desiludiu.

Eu sou particularmente um adepto das chegadas que menos vezes são ultrapassadas na Volta e esta era daquelas que eu estava mais curioso para assistir, à semelhança da chegada ao Alto do Montejunto no final da prova. Estava curioso para ver quem seriam os primeiros ciclistas a lançar ataques e até onde Rafael Reis conseguiria aguentar a sua Camisola Amarela. Um dos momentos que mais me impressionou na corrida foi o ataque de Hugo Nunes na primeira passagem pelo alto do Sameiro. O Rei da Montanha da Volta de 2020 demonstrou uma grande capacidade de explosão e acredito que ainda poderá dar cartas noutro tipo de etapas com chegadas em final curto.

Outro dos momentos que destaco foi a ousadia de Daniel Lima, que é relativamente inexperiente por estas andanças mas que é uma das grandes esperanças do futuro do ciclismo nacional. Hoje tentou, não deu, mas deu um ar de sua graça. Mesmo depois de alcançado foi interessante ver que continuamos a ver vários ataques e que tivemos até ao último quilómetro na dúvida sobre se os atacantes iriam ou não ter sucesso.

Depois de alcançada a fuga creio que a vitória foi académica, German Tivani é de longe o sprinter mais completo do pelotão nacional e com uma colocação daquelas a vitória estava mais que assegurada.

Preciso que alguém me explique o que é que a Visma estava a tentar fazer hoje na Polónia. A equipa (Kruijswijk) esteve o dia todo a afastar-se do pelotão. A estratégia era clara: queriam lutar pela vitória com Olav Kooij. Matthew Brennan era o plano de reserva para o caso de Kooij não conseguir ultrapassar a subida. No final, todos os ciclistas da Visma conseguiram ultrapassar a última subida. Mas a 20 km do fim, e com dois ciclistas sozinhos na frente, deixaram de imprimir um ritmo forte no pelotão e deixaram que outras equipas assumissem a responsabilidade de perseguir a fuga.

Parecia uma jogada arriscada, contar com a cooperação da outra equipa quando tinham tantos ciclistas no pelotão. No final, a fuga foi perseguida, mas nenhum ciclista da Visma trabalhou para Brennan e o jovem britânico não conseguiu encontrar espaço para sprintar.

A Visma perdeu uma grande oportunidade de garantir mais uma vitória na Volta à Polónia. Mas depois de observar o sprint de Magnier, duvido que Kooij ou Brennan conseguissem igualar o seu ritmo. Foi uma grande vitória para o ciclista da Soudal.

O francês está na equipa perfeita para desenvolver todo o seu potencial. Com a saída de Evenepoel, a equipa vai claramente mudar o seu foco para outros objetivos, algo que pode beneficiar o crescimento de Paul Magnier.

Falando de ciclistas franceses, hoje foi o dia perfeito para os adeptos franceses. Nicolas Prodhomme venceu a segunda etapa do Tour de l'Ain e Léo Bisiaux, a joia francesa, fez uma excelente prestação em Burgos. Com apenas 19 anos, o ciclista da Decathlon superou duas estrelas consagradas, Del Toro e Ciccone, para vencer uma etapa difícil.

Lidera agora a classificação geral e veremos até onde pode ir. A etapa de amanhã é bastante plana e o sábado traz a etapa rainha, mas a julgar pela sua forma atual, não seria uma surpresa se ele acabasse por ganhar a geral.