A etapa 8 da
Volta a França foi um dia de transição, proporcionando aos sprinters uma terceira oportunidade para garantir a vitória. A etapa foi predominantemente plana, apresentando apenas uma subida categorizada, o que a tornou num terreno ideal para os sprinters.
A Lidl-Trek e Intermarché - Wanty partilharam o trabalho no pelotão desde o início, mas desta vez não tiveram de se preocupar em perseguir qualquer fuga, pois não houve nenhuma. Foi apenas a 82 quilómetros do final que a equipa TotalEnergies decidiu tentar a sua sorte, enviando dois corredores para a frente e proporcionando alguma emoção aos espectadores.
Mattéo Vercher e Mathieu Burgaudeau tiveram de desistir a 9 km do fim, quando o pelotão, liderado pela Visma e a Alpecin, os perseguiu.
Mathieu van der Poel preparou um sprint de forma exemplar para Kaden Groves, mas
Jonathan Milan foi o ciclista mais forte hoje e conquistou uma vitória incontestada, com
Wout van Aert a terminar em segundo lugar.
Uma vez terminada a etapa, pedimos a alguns dos nossos escritores que partilhassem os seus pensamentos e as suas principais conclusões sobre o que aconteceu hoje.
Ivan Silva (CiclismoAtual)
Pela 2ª vez em 8 etapas tivemos uma etapa sem fuga. Sou bastante crítico deste tipo de percursos que mais uma vez não encorajam tentativas de fuga e infelizmente acho que isto ainda vai acontecer em mais etapas neste Tour, nomeadamente amanhã. Entendo que a organização tenha de negociar com as várias localidades para traçar o percurso e que dentro desta zona não haja grande margem para se colocarem dificuldades nas etapas mas uma etapa desenhada desta forma simplesmente não dá qualquer tipo de incentivo à formação de uma fuga e com isso acabamos por ter uma etapa percorrida a um ritmo mais calmo e com potencial para haverem ciclistas a chegarem mais frescos aos quilómetros finais e com isso provocarem quedas coletivas, coisa que felizmente hoje não aconteceu.
Em relação à chegada em si venceu o mais forte, como aliás tem sido o caso em praticamente todas as etapas desta Volta a França. Jonathan Milan é o sprinter puro mais forte da corrida e venceu a etapa mesmo sem um grande comboio da Lidl-Trek no final. Acabou por apanhar o comboio da Alpecin e na linha de meta apenas Wout van Aert ficou perto dele, os restantes adversários viram-no cruzar a linha de meta já ao longe. Acredito que Jonathan Milan será o vencedor da Camisola Verde este ano.
Rúben Silva (CyclingUpToDate)
De forma geral, foi um dia bastante aborrecido, mas isso era de esperar. A TotalEnergies pelo menos honrou a corrida hoje, algo que não aconteceu na etapa 3... Tudo o que há a dizer é que o final foi bastante interessante para uma chegada ao sprint. Atravessar uma cidade significava muitas zonas técnicas e, por isso, houve uma verdadeira luta pelo posicionamento e muitos momentos de tensão até ao sprint.
O sprint foi tão caótico como seria de esperar, com talvez só dois ou três ciclistas a terem lançadores à entrada do último quilómetro. Poderíamos ter tido surpresas numas situação destas, mas Jonathan Milan foi claramente o mais forte, posicionando-se sempre na perfeição e lançando depois um sprint devastador.
O Wout van Aert esteve muito bem e surpreendeu-me bastante com um segundo lugar, antecipando-se aos seus rivais e ganhando lanço, mas nem ele teve a velocidade necessária para bater o italiano, que é um digno vencedor e que finalmente conseguiu o que eu esperava que ele já tivesse atingido por esta altura n corrida.
Jonathan Milan venceu a 8ª etapa da Volta a França 2025
Carlos Silva (CiclismoAtual)
Após a brutal queda na etapa de ontem, foi bom ver João Almeida, Santiago Buitrago, Ben Healy, Enric Mas, Louis Barre e Guillaume Martin na linha de partida. O João Almeida esteve sempre na parte de trás do pelotão, com toda a equipa ao seu lado, inclusive Tadej Pogacar.
Uma demonstração de união de equipa, onde Almeida tem trabalhado para ganhar o respeito e carinho dos seus colegas, que com este ato simbólico, mostram que quando se dá tudo pela equipa nos momentos mais difíceis a equipa está ao nosso lado. Chapeau para a TotalEnergies, que deu o pontapé de saída no marasmo que foi a corrida ao colocarem dois homens na frente, dando assim aos seus patrocinadores o que se espera deles: tempo de antena na televisão.
Mais uma chegada ao sprint em que a organização gosta de colocar o pelotão em risco de queda e sob muita pressão. Porque é que o pelotão tem de passar pelo centro da cidade nos últimos quilómetros? Uma cidade com ruas estreitas, curvas e mais curvas, ilhas de trânsito, ruas estreitas... em suma, o caos. É verdade que não houveram quedas graves, mas e se houvessem?
Tenhamos paciência para quem desenha os percursos das corridas ano após ano, e para a UCI que assobia para o lado e não faz nada em defesa dos ciclistas. No sprint final, não ganhou quem foi mais forte. Ganhou quem não teve azar nem avarias mecânicas e que soube tirar partido da ausência de grandes nomes na frente do pelotão. Milan venceu, mas não convenceu. Amanhã vou tirar as dúvidas, porque a meta é mais limpa.
Félix Serna (CyclingUpToDate)
Não quis acreditar quando vi os perfis das etapas de hoje e de amanhã. Não compreendo que tipo de lógica leva os organizadores a colocar duas etapas completamente planas durante um fim de semana, altura da semana em que as audiências televisivas são muito mais elevadas.
Mesmo que não sejam necessariamente altas montanhas, deveriam pelo menos acrescentar alguns condimentos às etapas para que estas possam ser atrativas e dignas de serem vistas, especialmente para os adeptos casuais, que têm muito menos probabilidades de voltar para ver outra etapa se o que virem for tão pouco movimentado como hoje.
O único momento que valeu a pena ver foi o magnífico sprint de Jonathan Milan. Sinceramente, não estava à espera que ele tivesse de esperar até à etapa 8 para garantir a sua primeira vitória na Volta a França, mas acredito que esta vitória lhe vai dar o impulso necessário para ir atrás de mais algumas vitórias nesta corrida.
Wout van Aert apareceu finalmente no Tour deste ano. Até agora, tinha passado praticamente despercebido. Eu tinha dúvidas se ele estava na sua melhor forma, por isso fiquei surpreendido ao vê-lo disputar a vitória da etapa. De forma geral, o belga teve uma boa prestação hoje. Não esteve perto de bater Milan, mas Kaden Groves também esteve longe de o bater.
Acredito que Van Aert tem potencial para se tornar uma peça fundamental nas estratégias de Visma para vencer Pogacar. Ele já mostrou no passado que pode pedalar de forma inteligente. Ele compreende qual é o seu papel e o que Jonas precisa dele. Se conseguir mostrar a sua melhor forma, Vingegaard terá ao seu lado um poderoso aliado.
Um dos ciclistas que não vi no sprint, para além de Tim Merlier, que sofreu um furo inoportuno, foi Jordi Meeus. Continuo a não compreender a estratégia da Red Bull-BORA. Por um lado, trouxeram dois líderes para a classificação geral (Primoz Roglic e Florian Lipowitz) e só um verdadeiro domestique de montanha para os apoiar (Vlasov). O resto da equipa parece ter sido construída para outros tipos de terreno e, além disso, trouxeram um sprinter como Jordi Meeus, que até agora não esteve na luta por qualquer chegada ao sprint. Hoje, foi Danny van Poppel quem sprintou, mas terminou na 11ª posição.
Neste momento, a sua estratégia parece uma mistura de ideias sem uma clara definição de prioridades, e numa corrida tão exigente como a Volta a França, isso normalmente não acaba bem.
E você? O que pensa sobre o que aconteceu hoje? Deixe um comentário e junte-se à discussão!