Os dias de descanso nas Grandes Voltas são, por tradição, momentos de balanço - e por vezes, também de despedida. Este ano, a
Volta a Itália 2025 assinala a iminente saída de dois ciclistas com carreiras longas e marcadas pela dedicação total ao desporto:
Jonathan Castroviejo e
Simon Clarke anunciaram oficialmente que pendurarão a bicicleta no final da temporada.
Castroviejo: a excelência silenciosa de um gregário de luxo
Aos 38 anos, Jonathan Castroviejo
revelou nas redes sociais que este será o seu último ano no pelotão profissional. Atual ciclista da INEOS Grenadiers, onde tem sido peça-chave desde 2018, o espanhol é um dos nomes mais respeitados no papel de gregário, sobretudo nas Grandes Voltas, onde este Giro marca a sua 20.ª participação.
"Chegou o momento de encerrar este capítulo da minha vida", escreveu Castroviejo. "Foram anos de empenho, esforço e paixão na bicicleta. Nada disto teria sido possível sem o apoio da minha mulher, filhos e pais".
Embora nunca tenha vencido uma etapa num dos três grandes palcos, Castroviejo somou segundos lugares nas três Grandes Voltas e construiu um palmarés sólido: foi seis vezes campeão espanhol de contrarrelógio, venceu o Europeu de 2016 na disciplina e desempenhou um papel crucial no sucesso coletivo das equipas por onde passou - seja a proteger líderes ou a controlar o ritmo do pelotão nas fases mais exigentes.
"O ciclismo deu-me tudo: aprendizagens, amizades, desafios e memórias que levarei para sempre comigo. Estou cheio de gratidão".
Simon Clarke: um combatente até ao fim
Também com 38 anos, o australiano Simon Clarke (Israel - Premier Tech) anunciou o fim de uma carreira que começou em 2006 e que só ganhou mais brilho com o passar dos anos. Foi um lutador nato, com uma carreira marcada por inteligência tática, espírito ofensivo e capacidade de reinvenção.
"Após 17 épocas inesquecíveis no pelotão profissional, gostaria de anunciar a minha retirada", partilhou Clarke. "Deixei a Austrália com 16 anos apenas com um sonho. Essa decisão mudou a minha vida".
Vencedor do Herald Sun Tour, de duas etapas na
Volta a Espanha e de uma Camisola da Montanha, Clarke terá vivido talvez o seu momento mais emblemático em 2022, quando venceu uma etapa da
Volta a França, escapado num dia infernal nos paralelos, superando os especialistas numa exibição de astúcia e dureza.
"Não se trata apenas dos resultados, mas também das relações e lições que o ciclismo me ensinou".
Clarke, que se despede das estradas com um regresso simbólico a casa, anunciou que as suas últimas corridas serão o Tour Down Under e a Cadel Evans Great Ocean Road Race em janeiro de 2026, encerrando o percurso no seio do pelotão diante do seu público e da sua família.
"Conheci a minha mulher em 2011, temos dois filhos e quero agora dedicar-lhes mais tempo. Não há melhor forma de fechar este ciclo do que correr em casa".
Dois estilos distintos, duas carreiras que simbolizam diferentes formas de excelência no ciclismo. Castroviejo, o mestre do trabalho invisível, sempre leal e incansável. Clarke, o estratega da fuga e do esforço oportuno, com um faro único para os dias grandes. Ambos sairão pela porta da frente, com a admiração do pelotão e de quem acompanha o desporto.