ENTREVISTA: "Acho que foi bastante injusto" - Rui Oliveira sobre a relegação polémica na Volta à Eslovénia; Pogacar; calendário de 2026, com passagem por Portugal e com monumentos

Ciclismo
domingo, 14 dezembro 2025 a 12:30
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Rui Oliveira inicia a temporada de 2026 ainda sem vitórias como profissional. O corredor da UAE Team Emirates - XRG, após seis anos completos na equipa, cortou a meta na Volta à Eslovénia e ergueu os braços pela primeira vez desde que se tornou profissional em 2019, mas foi desclassificado, injustamente na sua opinião. Em Benidorm, falou sobre esse episódio, o seu calendário para 2026, no qual fará dupla com Tadej Pogacar, e mais assuntos.
Conciso e direto, o ciclista de 29 anos revela ao CiclismoAtual, CyclingUpToDate e à TopCycling onde vai competir na primavera de 2026: “Sim, já me deram o calendário. Vou fazer Maiorca, só no último dia (Trofeo Palma). Depois vou à Figueira [Champions Classic] e à Volta ao Algarve. No Algarve já terei uma oportunidade [para mim]. E depois seguem-se as clássicas, o Fim de semana de abertura (Omloop Het Nieuwsblad e Kuurne–Bruxelas–Kuurne). Depois vou correr a Nokere [Koerse] e o [GP de] Denain, onde também quero estar bem. E depois vou ao mais importante, Gent [Wevelgem], [Volta à] Flandres e [Paris-]Roubaix”.
Uma primavera preenchida, construída em torno das provas de um dia. Não surpreende: Oliveira é um forte rolador, um gregário experiente, capaz de posicionar os líderes nas situações mais tensas; e tem também uma boa ponta final, que lhe permite ambicionar resultados sólidos em chegadas ao sprint.
Entre estas corridas estão a Volta à Flandres e Paris-Roubaix, um mérito relevante numa equipa carregada de qualidade, com ciclistas que seriam líderes noutros conjuntos. Em 2024 sagrou-se campeão olímpico na pista e, em 2025, continuou a evoluir e a apresentar grande nível. A equipa mantém um plano semelhante para 2026. Isso significa ausência nas Grandes Voltas e muitas corridas ao lado de Juan Sebastián Molano, o principal sprinter do conjunto.

Sem Grandes Voltas em 2026

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Rui Oliveira participou em 5 grandes voltas na carreira
“Sim, vamos manter o plano. As Grandes Voltas têm muita montanha e poucas oportunidades para sprints. Talvez se percam três meses de preparação entre estágios, corridas e descanso, para ter talvez seis oportunidades”, argumenta.
“Como não temos muitos sprinters, é só o Molano e eu tenho de estar com ele, optamos por voltar a fazer mais corridas, de nível mais baixo, mas para tentar vencer. Tanto eu como ele, quando tiver oportunidades. Portanto, vamos manter este plano”. Recentemente, circulou nas redes um vídeo dos dois a sprintar lado a lado. Mas Oliveira não acredita que o seu sprint puro seja necessariamente mais forte.
“Sprints puros, acho que não. E também não é esse o meu objetivo. Quero conseguir fazer um pouco de tudo. Mas sim, este ano já há muitos meses que estou a apostar nesta parte do sprint. Nesta época, embora não tenhamos conseguido muitas vitórias, senti-me muito melhor no meu papel de lançador, muito mais confiante e sei que sou dos melhores a fazê-lo".
“Este ano escolhi ganhar um pouco mais de peso. Tenho trabalhado há alguns meses, mesmo desde o fim da época, na massa muscular. Ganhei algum peso, ganhei mais força e já notei resultados, mesmo no início da pré-época. Por isso, estou confiante”.

Polémica na Volta à Eslovénia

A época de Oliveira ficou, claro, marcada pelos acontecimentos na Volta à Eslovénia, onde, na etapa 2 integrou a fuga do dia e sprintou para a vitória. No entanto, não a pôde manter, pois acabou relegado após protesto de Fabio Christen. Teria sido o seu primeiro triunfo como profissional, algo que continua a perseguir. A decisão de desclassificar Oliveira gerou forte contestação nas redes sociais na altura.
“Acho que quiseram, talvez, favorecer a equipa mais pequena (Q36.5 Pro Cycling Team) e, talvez, olhando para as vitórias que já tínhamos… Não pensaram no atleta, pensaram na equipa que já ganhava muito e, talvez, viram ali uma oportunidade”, interpreta o corredor de 29 anos.
“O Fabio [Christen] protestou e, talvez para não prejudicar as equipas mais pequenas, prejudicaram as maiores. Mas, no meu caso, estou numa equipa grande e ainda não tinha uma vitória, por isso acho que foi um pouco ingrato e um pouco injusto, porque acho que não fiz nada que…”
“Acho, não, tenho a certeza de que não fiz nada que prejudicasse o sprint dele. Quando o vou passar faço uma ligeira mudança de trajetória, mas não é suficiente e ele também saberá que não é suficiente, porque eu já o estava a passar, era uma ligeira descida… Portanto, não havia forma de ele me voltar a passar naquele sprint, porque eu já ia em vantagem, com mais velocidade”.
Mas o colégio de comissários decidiu e o corredor não pôde guardar aquilo que seria um triunfo muito significativo.
“Portanto, acho que foi uma questão de… Acho que ele não pensou, talvez ficou chateado porque sabia que ia perder e viu aquela ligeira mudança e levantou o braço. Por isso, acho que foi bastante injusto. Mas temos de seguir em frente”.

O irmão Ivo

Dias depois, viu o irmão Ivo vencer a etapa final na Eslovénia. Ivo deu um salto grande de rendimento este ano, somando quatro triunfos, incluindo o título nacional português. “Sim, ele já tinha passado alguns anos, muitos anos, no WorldTour, desde o início, com algumas quedas e talvez nunca tenha conseguido mostrar o valor que realmente tem”.
“E penso que este ano, em 2025, ele desbloqueou esse patamar e, finalmente, também com a equipa a dar-lhe mais oportunidades, ao procurá-las, mostrou quem é: que está aqui para ganhar corridas e não apenas para trabalhar. E, claro, isso dá-me muito mais motivação para subir o meu nível e, se surgir um obstáculo, encaro-o de frente. Acho que é bom para ambos”.
E os dois mantêm-se na UAE, embora entrem agora no último ano de contrato. “Sim, a cada ano que passa sinto-me mais em casa, mais tranquilo. Sinto que posso fazer carreira aqui. Obviamente depende de muitos fatores, mas ano após ano sinto-me melhor, cada vez mais forte. Senti uma evolução. Portanto, estou bastante tranquilo aqui. Vai depender de muita coisa, mas espero continuar a melhorar”.
Tal como Ivo, entra em 2026 com ambições elevadas: “Sim, continua a ser um dos objetivos, ser campeão nacional, mas sim, claro que concordaria com isso (Oliveira quer dizer que aceitaria, num cenário hipotético para 2026). Não sei se concordo com apenas uma vitória, tenho ambição de fazer mais e acho que estou bastante motivado. Penso que o próximo ano será aquele em que vou dar tudo”.
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Oliveira é campeão olímpico de pista
Ainda assim, as quedas condicionaram o seu 2025, e espera que o mesmo não volte a acontecer no próximo ano: “Acho que melhorei um pouco em tudo, tive um pouco de azar, com uma costela fraturada numa queda parva no Tirreno–Adriatico, que me impediu de estar disponível para as clássicas, para as quais estive a preparar-me durante um mês. Entretanto consegui recuperar bem e venci aquela etapa na Eslovénia, que depois foi retirada”.
“Mas sim, tive também uma queda na Hungria, que me limitou um pouco, por isso tive momentos em que estava a melhorar e algo me acontecia. Neste caso tive estas duas quedas e, também na China (na Volta a Guangxi), estava bastante motivado para fechar a época, estava na minha melhor forma, muito motivado para sprintar contra grandes nomes, e depois tive estas quedas que deixaram marcas”.
Com um calendário exigente e inserido numa equipa que bate recordes a toda a linha, liderada por Tadej Pogacar, há naturalmente pressão para render, mas isso também faz muitos elevarem o nível. A sua evolução é notória.
“Mas tudo aconteceu de forma natural, acho que melhorei muito em tudo, na minha forma de correr, na minha condição física, sinto que estou a evoluir cada vez mais, e é com este pensamento que vou para a próxima etapa: tentar vencer, e sei que eventualmente vou conseguir”.

Treino em casa

O CiclismoAtual pode agora confirmar que todo o bloco português da UAE vive em Andorra, mas Oliveira reparte o treino entre o microestado europeu e as estradas de casa. Perguntámos-lhe quais são os seus locais preferidos para treinar em Portugal.
“Quando estou em Portugal, gosto de treinar na minha zona, porque é a área que conheço, talvez agora haja um pouco mais de trânsito, mas é a minha zona. Não no Porto, mas na zona do Douro, muito em marginal, é aí que gosto de treinar”, responde. “A Serra da Freita, e também Arouca, são os meus locais de eleição”.
Por fim, partilha que também não faz estágios de altitude em casa desde que saiu para a UAE, embora os tenha feito nos tempos de sub-23. “Sim, não sei se se pode considerar estágio de altitude, foi na Serra da Estrela, a cerca de 1500 metros. Quando lá estivemos, foi por volta de 2018, o último ano em Portugal. Não há muitos mais locais para o fazer, é lá ou não é, mas foi a última vez”.
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