Tadej Pogacar voltou a agitar o mundo do ciclismo esta quarta-feira ao publicar no Strava um treino de reconhecimento do percurso da Paris-Roubaix, onde bateu recordes em vários dos setores empedrados mais icónicos da corrida.
A performance do esloveno, a poucos dias da sua estreia no "Inferno do Norte", chamou a atenção de José De Cauwer, que não hesita em reconhecer que o ciclismo mudou profundamente - em parte devido à evolução tecnológica, mas também ao refinamento da preparação física e tática.
"Nos últimos anos, tem havido uma grande diferença entre a Paris-Roubaix de agora e a do passado", explicou De Cauwer ao Sporza. "A escolha e o desenvolvimento de equipamento evoluíram tanto que o lado artesanal da corrida tem sido, de certo modo, ofuscado".
Segundo o comentador belga, essa mudança ajuda a explicar como ciclistas como Pogacar, tradicionalmente mais talhados para as montanhas, conseguem hoje competir ao mais alto nível em corridas de pavé.
"Hoje em dia já quase não se vê ciclistas com bolhas. As bicicletas rolam melhor, os pneus são mais largos e mais robustos, há configurações completamente diferentes. Por isso, o peso já não é tão determinante como antigamente. Chegámos a ouvir dizer que era preciso pesar no mínimo 70 kg para aguentar em Roubaix. Vais ver, o Pogacar vai conseguir aguentar".
De Cauwer realça ainda a importância do treino específico para este tipo de prova - nomeadamente o treino atrás da mota.
"Não é a mesma coisa entrar na floresta de Arenberg a 35 km/h ou a 60 km/h. É uma diferença brutal." "Por isso é que a chicane foi introduzida no percurso em 2023 — para travar um pelotão de 100 ciclistas a alta velocidade antes de entrarem num setor de cinco estrelas".
Em 2024, foi precisamente a Alpecin-Deceuninck que garantiu a entrada na frente em Arenberg, graças a uma seleção precoce por abanicos. Mas no próximo domingo, com uma abordagem mais direta ao setor, espera-se um cenário de maior velocidade e, por consequência, maior risco.
"Nos primeiros 500 metros, o importante é simplesmente sobreviver", avisa De Cauwer. "É um contexto completamente diferente. Por isso é essencial fazer este tipo de reconhecimento atrás de um carro ou mota, para simular as velocidades reais".