A 15.ª etapa da
Volta a França de 2025 ficou marcada por uma queda significativa que envolveu dois dos homens em posição de pódio:
Jonas Vingegaard e
Florian Lipowitz. Apesar de ambos terem escapado sem ferimentos, o atraso provocado pelo incidente deixou-os fora do grupo principal momentaneamente. Ao contrário do que sucedeu numa situação semelhante no início da prova, quando
Tadej Pogacar caiu e o pelotão neutralizou momentaneamente a corrida, desta vez não houve qualquer gesto coletivo de contenção.
“Se um grupo tão grande fica retido, então ou a organização ou os próprios ciclistas devem garantir que se espera”, defendeu o antigo profissional belga
Sep Vanmarcke no podcast Tour da Sporza. Vanmarcke apontou diretamente o dedo à falta de iniciativa do pelotão, considerando “tímidos” os esforços de Pogacar, que envergava a Camisola Amarela, para controlar a corrida naquele momento.
O vencedor da etapa, Tim Wellens, viria a confirmar mais tarde que Pogacar tentou moderar o ritmo do grupo, mas sem grande sucesso. “Apesar das intenções do Pogacar, ninguém pareceu ouvir ou querer saber”, afirmou, reconhecendo que a dinâmica de corrida se impôs.
Para Vanmarcke, essa explicação não convence. “Se a fuga já estivesse consolidada, a situação seria outra. Mas ainda estávamos no início da etapa, e estamos a falar do segundo e terceiro da geral. Devia ter havido um entendimento mútuo para lhes dar hipótese de regressar. Felizmente, acabaram por conseguir reentrar, mas foi por esforço próprio.”
A posição de Vanmarcke gerou debate entre antigos ciclistas e comentadores.
Jan Bakelants, presente no programa Vive le Vélo, ofereceu uma leitura diferente. “É preciso contextualizar. Quando Pogacar caiu, já estávamos no meio da corrida, e o incidente foi entre os líderes da geral. Aqui, o cenário era diferente. A corrida ainda estava a tomar forma. Não era realista pedir uma paragem coletiva. E sejamos claros: se a situação fosse ao contrário, Pogacar teria sido o primeiro a manter a corrida viva.”
Stijn Steels, também presente na discussão, trouxe uma perspetiva mais emocional, evocando o impacto pessoal. “Pensei imediatamente na Trine, mulher do Jonas”, confessou. “Um segundo lugar na geral é mais importante do que vencer uma etapa. E quando vemos um momento como aquele, com potencial de alterar o rumo da corrida, é natural pensar que na Dinamarca muita gente ficou revoltada.”
A falta de uma resposta coletiva perante a queda reacendeu um debate antigo no pelotão: quando é que se deve esperar e quando é que a corrida deve seguir o seu curso natural? E será que o estatuto de um ciclista influencia o comportamento dos rivais?
O certo é que, mais uma vez, as entrelinhas da ética desportiva e das regras não escritas do ciclismo profissional voltaram a ser discutidas em praça pública, com Vingegaard e Lipowitz como figuras centrais de um episódio que poderá marcar, também simbolicamente, o tom das últimas etapas rumo a Paris.