Ex-ciclista irlandês completa curso da UCI e pode regressar como diretor desportivo

Depois de quase duas décadas como profissional e dois triunfos em etapas da Volta a Espanha, Nicolas Roche afastou-se do pelotão no final de 2021. Mas o irlandês, agora com 41 anos, nunca se distanciou verdadeiramente do ciclismo. Dividido entre as corridas de gravel, o papel de comentador televisivo e o cargo de embaixador da marca Bianchi, Roche continua a viver o desporto de perto, e parece pronto para regressar oficialmente à estrada, desta vez como diretor desportivo.

“Já falei com algumas equipas e foi-me oferecido um emprego este ano”, revelou ao Stickybottle. “Candidatei-me ao exame da UCI no início do ano e disse a mim próprio: ‘Quero ter estas opções’.”

Com uma carreira que o levou por equipas como a Cofidis, AG2R, Team Sunweb e Team DSM, Roche já tinha completado automaticamente os níveis 1 e 2 do curso de diretor desportivo da UCI, disponíveis para antigos ciclistas do WorldTour. Em 2023, decidiu dar o passo seguinte e concluir o nível 3, requisito obrigatório para trabalhar como DD no escalão máximo.

Durante os últimos anos, o irlandês ganhou experiência prática com a Trinity Racing, equipa de desenvolvimento britânica, e colaborou ainda com a seleção nacional da Irlanda. A experiência confirmou-lhe que o papel fora da bicicleta é algo que o motiva.

“Não vou andar em corridas de gravilha e ser embaixador da marca para sempre”, admitiu. “A dada altura, haverá alguém mais novo e mais interessante para ocupar esse lugar. Mas quero ter essa opção de trabalhar no WorldTour nos próximos dois ou três anos.”

Apesar de estar a viver uma fase gratificante nas provas de gravel, Roche reconhece que a transição para uma função de gestão é apenas uma questão de tempo.

“Foi uma grande aventura com a Bianchi nestes três anos. Vou certamente fazer mais um ano com eles, viajando para eventos por todo o mundo. Mas tenho falado com uma equipa de forma mais séria para o futuro próximo”, explicou.

A sua versatilidade, entre o microfone, o cascalho e o volante do carro da equipa, poderá permitir-lhe um papel a tempo parcial como diretor desportivo, uma prática cada vez mais comum no WorldTour.

“Os diretores desportivos a tempo inteiro passam muitas vezes até um terço do ano na estrada”, disse. “Mas há equipas que contratam pessoal a tempo parcial, o que me permitiria conciliar com os comentários na televisão e os outros projetos.”

Roche não esconde a nostalgia que sente pelas grandes corridas em que tanto brilhou como ciclista.

“Seria excitante fazer uma volta de três semanas com uma equipa”, confessou. “Por agora trata-se de encontrar um projeto e um calendário que funcionem. Não fiz o exame só por fazer, quero ter essa escolha quando chegar a altura.”

O irlandês, que somou 17 participações em Grandes Voltas, incluindo duas vitórias de etapa na Vuelta, mantém a mesma paixão pelo desporto que herdou do pai, o lendário Stephen Roche, vencedor da Tripla Coroa de 1987 (Volta a Itália, Volta a França e Campeonato do Mundo).

A nova fase de Nicolas Roche representa a transição natural de um ciclista experiente para um mentor e estratega, papel que já começou a desempenhar nos bastidores. O irlandês alia a visão táctica adquirida ao longo dos anos com uma abordagem moderna, moldada pelo contacto direto com jovens talentos da Trinity Racing.

“Passei anos a ouvir diretores desportivos e sei o quanto uma boa orientação pode mudar uma corrida. Agora quero poder retribuir isso”, afirmou recentemente numa entrevista ao Cyclingnews.

Se tudo correr como planeado, poderemos ver Roche no carro de direção de uma equipa do WorldTour já em 2026, fechando assim o ciclo perfeito: de ciclista a comentador, e de comentador a estratega.