Do ouro olímpico no Rio de Janeiro à glória nas clássicas,
Greg Van Avermaet construiu uma das carreiras mais respeitadas do ciclismo moderno. Agora, dois anos depois de pendurar a bicicleta de estrada, o belga voltou a erguer os braços, desta vez nas margens de Marbella, onde conquistou o título mundial de triatlo Ironman 70.3 no seu escalão etário (40-44 anos).
O antigo profissional da BMC Racing e da AG2R Citroën continua a provar que a chama competitiva nunca se apaga. Depois de impressionar em junho, ao terminar segundo no Ironman 70.3 de Nice e primeiro na sua categoria, Van Avermaet mergulhou de corpo e alma na preparação para o Campeonato do Mundo, literalmente.
“Nadar no mar não é algo a que esteja habituado. É tudo uma questão de escolher a posição certa e manter uma boa visão do percurso”, explicou ao Het Nieuwsblad antes da prova. “Em Knokke, por exemplo, nadei completamente fora de linha. Depois há as transições, nas quais tenho pouca experiência. Podemos treinar durante semanas, mas em corrida é sempre diferente.”
Do pelotão ao triatlo: a mesma mentalidade vencedora
Mesmo retirado do ciclismo profissional desde 2023, Van Avermaet manteve o mesmo rigor e dedicação que o caracterizavam nas grandes voltas e nas clássicas de primavera. Entre treinos em Espanha e sessões de natação meticulosas, o belga reencontrou a adrenalina da competição, desta vez, em três modalidades.
“No último mês, arranjei mais tempo para treinar natação, cerca de duas vezes por semana”, explicou. “Mas não posso ganhar muito se nadar ainda mais. Quando estou na bicicleta, posso dar tudo por tudo, mesmo sem estar habituado a fazer noventa quilómetros numa bicicleta de contrarrelógio.”
O trabalho compensou. No domingo, em Marbella, Van Avermaet dominou o seu escalão etário e concluiu o percurso de 1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21,1 km de corrida com uma consistência que lembrou os seus dias de glória na estrada. O triunfo é mais uma medalha simbólica para um atleta que já venceu a Paris-Roubaix (2017), a Omloop Het Nieuwsblad e o Tirreno-Adriatico, entre muitas outras provas.
“Nunca faço as coisas pela metade”
Apesar de já não competir profissionalmente, o espírito de exigência permanece inalterado.
“Qualquer pessoa que tenha sido profissional a tempo inteiro quer preparar-se perfeitamente para cada desafio desportivo e não fazer as coisas pela metade”, afirmou.
O belga não se limitou a participar: preparou-se com a mesma minúcia que o levou ao ouro olímpico há quase uma década. O resultado é uma vitória que transcende o desporto, a confirmação de que, mesmo aos 40 anos, Van Avermaet continua a encontrar novas formas de desafiar o corpo e a mente.
O futuro: entre Nice e o lazer
A dúvida agora é se o belga defenderá o título no próximo ano.
“Ainda não decidi o que vai acontecer no próximo ano”, confessou. “Estou qualificado para o Campeonato do Mundo de 2026, em Nice, e posso muito bem aproveitar essa oportunidade. Em todo o caso, o meu objetivo é abandonar gradualmente a competição e continuar apenas em lazer. Já estou a ficar velho.”
Velho? Talvez. Mas, à semelhança das suas fugas implacáveis nas estradas flamengas, Van Avermaet mostrou em Marbella que o instinto competitivo ainda o guia.
Um novo capítulo na história de um campeão
A conquista do título mundial de Ironman 70.3 é o mais recente marco numa trajetória notável. Poucos ciclistas conseguiram transitar com tanto sucesso para uma nova disciplina, e menos ainda com a elegância e o profissionalismo que sempre definiram Van Avermaet.
Com a humildade de quem conhece o esforço e o prazer de recomeçar, o belga transformou o desafio do triatlo num novo palco para a sua eterna determinação. De um campeão olímpico a um campeão do mundo em meia distância, Greg Van Avermaet continua a provar que a classe não se reforma.