Historicamente, a combinação
Volta a Itália - Vollta a Espanha sempre foi considerada uma sequência acessível, graças ao maior espaço de recuperação. Mas Bartoli destaca que o cenário muda radicalmente quando se trata de ligar a
Volta a França à
Volta a Espanha:
“As margens são incrivelmente apertadas. Se um ciclista precisar de mais de 10 dias para recuperar, já está em apuros. Tudo se torna uma corrida contra o tempo – física, logística e mentalmente.”
O italiano sugere até que, em alguns casos, o abandono precoce do Tour pode ser mais sensato se a Vuelta for o verdadeiro objetivo:
“Completar uma Grande Volta nem sempre é útil. Se estivermos vazios, é melhor parar, redefinir e preparar a próxima.”
O desgaste mental antes da quebra física
Para Bartoli, cinco vezes vencedor de Monumentos, os avanços científicos em treino e recuperação permitem hoje que os ciclistas voltem rapidamente à forma. O problema, diz, está na cabeça:
“Podemos estar nas melhores condições, mas se não tivermos a mente alinhada, o rendimento não aparece. É por isso que prefiro trabalhar com ciclistas experientes: sabem dar feedback claro, entendem os sacrifícios e percebem quando estão perto do limite.”
Grandes Voltas como escola para os jovens
Apesar do receio de sobrecarga, Bartoli considera as Grandes Voltas essenciais para a evolução dos mais novos:
“Perder uma Grande Volta é mais importante do que muitos pensam. Não é só experiência, é criar uma base atlética sólida. Uma corrida de três semanas transforma o corpo de uma forma que nenhum bloco de treino consegue replicar.”
Ainda assim, reconhece o papel das ferramentas modernas:
“Com a monitorização e o planeamento nutricional que temos hoje, até os jovens podem enfrentar duas Grandes Voltas. Mas sem motivação interna, transforma-se numa enorme responsabilidade.”
E lembra uma vantagem clara de fechar a época na Vuelta:
“Terminamos a época com um condicionamento mais profundo e ritmo competitivo, o que cria uma plataforma mais forte para o ano seguinte.”
Uma segunda Grande Volta é um teste mental
À medida que o pelotão se prepara para Madrid, a discussão continuará a girar em torno de watts, peso e gráficos de forma. Mas Bartoli insiste que o fator decisivo vai além dos números:
“Entre Grandes Voltas, o treino não muda muito. O peso e a potência são os mesmos. Mas na segunda Grande Volta é a mente que tem de levar o corpo. Se a cabeça ceder, acabou, mesmo que as pernas ainda lá estejam.”