De pioneiro africano a domestique chave de Pogacar e Pedersen - Ryan Gibbons põe fim à sua carreira profissional

O sul-africano Ryan Gibbons, da Lidl-Trek, revelou que a temporada de 2025 será a sua última no pelotão profissional, encerrando mais de uma década a competir ao mais alto nível. O ciclista de 31 anos comunicou a decisão numa mensagem emotiva nas redes sociais, descrevendo o ciclismo como a sua "identidade durante mais de metade da minha vida", mas reconhecendo que "agora é o momento de e pôr fim à minha carreira".

Profissional desde 2017 com a Dimension Data, Gibbons construiu um percurso marcado pela resiliência e pela polivalência. Inicialmente reconhecido pela sua velocidade ao sprint, evoluiu para um dos corredores mais fiáveis e completos do WorldTour. Depois de representar a UAE Team Emirates, ingressou na Lidl-Trek em 2024. O seu palmarés conta com a vitória na geral do Tour de Langkawi, um título continental africano de estrada e participações em todas as grandes corridas do calendário internacional, das Grandes Voltas aos Campeonatos do Mundo.

Em retrospetiva, Gibbons disse sentir-se "privilegiado por viver o sonho nos últimos 10 anos, correndo e vivendo no estrangeiro", lado a lado com os "melhores ciclistas do mundo" e "conhecendo as pessoas mais extraordinárias". O ciclismo, explicou, deu-lhe "a oportunidade de fazer coisas para além dos meus sonhos mais loucos e uma vida que nunca poderia ter imaginado".

Contudo, nem tudo foram sucessos. O sul-africano recordou "lesões, doenças e pura má sorte", somadas às dificuldades de construir uma carreira longe de casa. "O facto de vir da África do Sul também trouxe grandes desafios à prossecução desta carreira", admitiu. "As questões relacionadas com a residência e os vistos têm sido uma luta constante e interminável e um stress que muitos nunca entenderão ou compreenderão."

Gibbons deixou uma palavra especial às formações que representou (Dimension Data, UAE Team Emirates e Lidl-Trek) bem como a colegas e staff que o acompanharam. "Sofremos juntos, ganhamos juntos e perdemos juntos. Tenho muito respeito por todos e cada um de vós e sinto-me humilde e orgulhoso por ter partilhado esta experiência convosco."

O ciclista destacou também o apoio fundamental da sua família, sobretudo da mulher e do filho, que estiveram ao seu lado ao longo de todas as exigências da vida de ciclista. "Esta vida não tem sido simples nem fácil e o vosso sacrifício e amor incondicional têm-me levado até ao fim. Viram os altos e baixos e estiveram presentes em cada passo do caminho. Nunca poderei agradecer-vos o suficiente."

No ciclismo sul-africano, Gibbons foi uma das figuras de referência num contexto em que a distância, a logística e as oportunidades muitas vezes dificultam a progressão fora da Europa. A sua passagem para a UAE Team Emirates, em 2021, colocou-o numa das equipas mais fortes do pelotão, onde se tornou um domestique de confiança de Tadej Pogacar. Já em 2024, a mudança para a Lidl-Trek confirmou o seu valor como ciclista versátil, útil em provas por etapas e nas clássicas.

Embora o número de vitórias não rivalize com as maiores estrelas, a consistência, a ética de trabalho e a capacidade de adaptação, de sprinter a gregário nas montanhas, fizeram dele uma presença fiável e respeitada do pelotão internacional.

À beira da sua última temporada, Gibbons reconhece que a decisão não foi simples, mas sente que chegou a altura de encerrar o ciclo. "Foi uma viagem louca, mas agora é hora de voltar para casa", escreveu, assinando a mensagem com a bandeira sul-africana.