Tal como Primoz Roglic,
Florian Lipowitz não iniciou o seu percurso no ciclismo no asfalto, mas sim sobre a neve.
"Comecei a praticar biatlo quando tinha sete ou oito anos, seguindo os passos do meu irmão Philipp, porque havia uma arena de biatlo muito perto da nossa casa", contou Lipowitz à Rouleur. Cresceu no sudoeste da Alemanha e os desportos de inverno pareciam um destino natural. "Não tínhamos muita neve, por isso, quando eu tinha 14 anos e o meu irmão 15, mudámo-nos para um colégio interno na Áustria."
Esse colégio interno não era uma escola qualquer, mas o prestigiado liceu de Stams Ski High School, em Tirol, reconhecido por formar campeões olímpicos e mundiais em desportos de inverno. Os irmãos Lipowitz destacaram-se: Florian ficava regularmente entre os dez melhores a nível nacional e Philipp sagrou-se campeão mundial júnior em 2021.
"Queríamos ser profissionais e competir na Taça do Mundo e aquele era o local ideal", recorda Florian. "A maioria das pessoas pensava que eu seguiria uma carreira no biatlo."
Contudo, uma sucessão de lesões mudou-lhe o rumo. Primeiro um problema no joelho, depois uma rotura do ligamento cruzado anterior, contraída durante umas férias enquanto praticava kitesurf, acabaram por pôr fim ao sonho de um futuro na neve. Foi então que Lipowitz se virou para o ciclismo.
As primeiras corridas surgiram no início de 2020, nas Clássicas croatas de um dia, a Trofej Umag e a Poreč Trophy. "Foi super perigoso, com muitas quedas e eu caí duas vezes em Umag. Foi horrível", relembra. "E uma semana depois, começou a pandemia da Covid-19 e deixei de ter corridas. Perguntava-me se tinha feito a escolha certa e se devia mesmo ter deixado o biatlo."
O ponto de viragem deu-se em 2021. Com apenas 20 anos, Lipowitz terminou em terceiro lugar da Juventude na Volta aos Alpes, naquela que era apenas a sua décima corrida. "Foi o meu primeiro grande resultado e a primeira vez que realmente gostei de correr, porque as corridas de sub-23 eram muito stressantes."
Hoje aos 24 anos, integra a
Red Bull - BORA - hansgrohe e vai impondo gradualmente o seu lugar no pelotão, talhado ás lutas pela classificação geral. "Não diria que sou um trepador puro porque sou demasiado pesado", explica, mencionando os seus 68 kg. "Mas sou equilibrado: consigo fazer bons contrarrelógios, tenho bons números no plano e tenho bons desempenhos em subidas íngremes, embora prefira subidas de 5 a 7%."
Primoz Roglic celebra a vitória na Volta a Espanha de 2024
As suas ambições estão bem definidas. "O meu objetivo é claramente ser um ciclista para a classificação geral, disputar pódios em corridas de uma semana e depois dar o passo para ser co-líder em Grandes Voltas, ao lado do Primoz"
A experiência de trabalhar ao lado de Primoz Roglic na Volta a Espanha foi marcante. "Nunca tinha passado tanto tempo seguido em cima da bicicleta!", sorri. "Fisicamente não estava no limite, mas mentalmente foi extenuante."
Discreto e reservado no contacto com a imprensa, Lipowitz ainda se vai habituando à crescente atenção mediática. "Sou alguém que não gosta muito dos holofotes e a equipa tem feito um bom trabalho a ajudar-me a lidar com os meios de comunicação social", admite. "Não sei até onde chegarei, mas aceito que no futuro possa haver mais atenção sobre mim. Estou a aprender a lidar com isso."
Esse reconhecimento já é palpável. "Agora há muito mais gente no pelotão que me conhece e sinto que sou mais observado nas corridas e até antes delas", confessa. "Quando entras no World Tour sem resultados, questionas se pertences ali e também és questionado pelos outros. Agora já provei a mim mesmo e aos demais que sou capaz de competir a este nível."