No ciclismo moderno há cada vez mais milhões... e desigualdades: "Não sou a favor de um sistema comunista que tente nivelar tudo"

Ciclismo
sábado, 07 junho 2025 a 5:00
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O ciclismo profissional em 2025 já pouco se assemelha àquele que fascinava os adeptos nas décadas passadas. De ciclistas patrocinadores próprios, que carregavam o próprio material mecânico, a equipas munidas de extensas estruturas de apoio e orçamentos de dezenas de milhões de euros, o ciclismo sofreu uma metamorfose profunda. Na verdade, trata-se hoje de uma modalidade radicalmente distinta.
Dries Smets, numa entrevista ao Het Nieuwsblad, sublinhou a magnitude dessa transformação. "Não acho que as equipas mais pequenas estejam necessariamente a perder a batalha", afirmou. "Mas os orçamentos para competir ao mais alto nível aumentaram drasticamente."
Num passado recente, um investimento de 20 a 25 milhões de euros era suficiente para construir uma equipa capaz de disputar a vitória numa Grande Volta. Actualmente esse valor duplicou. "Não digo que seja impossível para uma estrutura belga estar entre as melhores", disse Smets, "mas é necessário encontrar um patrocinador de peso. Uma empresa belga disposta a investir cinco milhões de euros já não chega para competir entre os grandes."
Smets traçou ainda um paralelo com o futebol, apontando desigualdades orçamentais. "Não é o que também vemos no futebol? O Barcelona, o PSG e o Manchester City destacam-se porque têm muito mais dinheiro do que clubes como o Anderlecht ou o Club Brugge. No ciclismo, o fosso entre as equipas de topo e o restante pelotão também aumentou substancialmente."
Há dez anos, uma equipa de topo tinha o dobro do orçamento de uma equipa modesta. Hoje, essa diferença multiplicou-se por três ou quatro. As estruturas mais poderosas, como a UAE Team Emirates-XRG e a INEOS Grenadiers, dispõem de meios antes inimagináveis. Ainda assim, Smets lembra que o dinheiro, embora determinante, não é o único factor para o sucesso. "A Intermarché-Wanty, por exemplo, não tem um dos maiores orçamentos, mas no ano passado conquistou três etapas da Volta a França e a Camisola Verde. Os orçamentos não são a explicação para tudo."
Frente a este cenário de disparidade crescente, surgem propostas como a implementação de um teto salarial para tentar reequilibrar o pelotão. Smets, porém, mostra-se céptico. "Não sou a favor de um sistema comunista que tente nivelar tudo. Ainda que o objectivo não deva ser permitir que as grandes equipas esmaguem as pequenas, como já começa a acontecer, temos de encontrar soluções."
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