Frans Maassen reflete sobre a era do EPO: "Passei de um ciclista de topo a um zé-ninguém"

Ciclismo
segunda-feira, 30 junho 2025 a 5:00
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Frans Maassen, hoje uma figura respeitada como diretor desportivo da Team Visma | Lease a Bike, rompeu o silêncio em torno da sua retirada precoce do ciclismo profissional, oferecendo um testemunho comovente sobre o impacto devastador da era EPO nos anos 90. Vencedor da Amstel Gold Race em 1991 e outrora uma das grandes esperanças do ciclismo neerlandês, Maassen viu a sua carreira estagnar aos 30 anos, não por falta de talento, mas por uma escolha ética.
Em entrevista ao podcast In deWaaier, o antigo ciclista foi frontal ao descrever como o pelotão foi sendo corroído pelo uso generalizado de substâncias dopantes, nomeadamente a eritropoetina. “Nunca consegui perceber como é que podia fazer tanta diferença, como é que a EPO podia tornar-nos tão mais fortes”, disse. “Era muito utilizada no pelotão.”
Maassen não aponta um momento de rutura abrupta, mas sim um processo gradual e cruel. Um episódio permanece vívido na sua memória: “Lembro-me de pensar que estava melhor do que nunca, e provavelmente estava. Mas na Drielandenpunt fui ultrapassado por mais de 100 ciclistas. E só estávamos a meio do caminho.”
Com valores de hematócrito entre 44 e 45%, Maassen competia sem qualquer tipo de auxílio farmacológico, numa altura em que muitos dos seus rivais ultrapassavam os 50% o valor que, anos depois, viria a ser usado como limite indicativo de possível doping com EPO. O fosso entre quem recorria a substâncias proibidas e quem se mantinha limpo tornou-se insuportável. “De repente, havia duas velocidades no ciclismo”, recorda. “Isso foi muito difícil para mim, porque já não ganhava prémios. E essa foi sempre a minha motivação, ser capaz de sofrer.”
A sua retirada não foi apenas o fim de um percurso desportivo, mas uma ferida profunda na sua identidade de atleta. “A certa altura, o elástico rebentou. Nessa altura, ganhei bastante dinheiro, mas nunca pude desfrutar dele”, admite. “Se nos pagam para sermos líderes e não conseguimos estar à altura, então sentimo-nos mesmo mal. Foram anos difíceis, sem dúvida. Mas não foi só para mim. Foi uma altura muito difícil para muitos ciclistas.”
Num desporto mergulhado na desconfiança e saturado de casos de doping, Maassen foi uma exceção moral, recusando o caminho que tantos outros seguiram. “Já pensei nisso, sim. Atrevo-me a dizer que estive perto de o fazer. Mas algo me impediu de o fazer e agora estou muito feliz por isso.”
O seu testemunho ganha especial relevância num momento em que o ciclismo profissional continua a lutar pela sua credibilidade histórica. Ao recordar com honestidade um período sombrio, Frans Maassen não apenas humaniza a dor de uma geração de atletas, como sublinha o valor da integridade num desporto onde, durante muito tempo, se pedalou na sombra.
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