Geraint Thomas despede-se simbolicamente da
Volta a França com uma investida nostálgica na etapa 7, ao integrar a fuga inicial num dia marcado pelo regresso do Mur de Bretagne. O britânico de 38 anos, vencedor da edição de 2018, confirmou assim a sua última presença na corrida, protagonizando um derradeiro gesto de combatividade antes de se ver irremediavelmente descolado ainda na primeira passagem pela mítica colina bretã.
"Foi uma grande luta pela fuga, por isso foi uma espécie de 'OK, vou tentar, porque se for grande o suficiente nunca se sabe'", explicou Thomas à ITV após cruzar a meta. "Percebeu-se que a Emirates e a Alpecin queriam controlar, mas só porque alguém quer controlar, não se deve deixar."
A sua ação ofensiva estava condenada ao insucesso. Integrado num grupo de cinco unidades, Thomas viu o pelotão manter sempre a diferença sob controlo, sobretudo com a UAE Team Emirates a trabalhar para Tadej Pogacar, que acabaria por vencer a etapa com autoridade. "No final, éramos apenas cinco e eles não nos deram tempo. Éramos apenas cordeiros à espera do abate, amigo", admitiu o galês, com o humor que sempre o caracterizou.
Ainda assim, a tentativa teve um valor mais simbólico do que desportivo. Numa etapa que não lhe traria qualquer resultado relevante, Thomas preferiu expor-se à frente do pelotão, longe da luta pela geral, mas fiel ao seu espírito combativo. "Bem, temos de o aceitar. Podíamos tentar tornar as coisas mais difíceis para eles, mas depois acabávamos por nos enterrar num buraco", explicou. "Mas ia ser sempre difícil. Pelo menos houve pontos positivos, não tive de rodar em dificuldades no pelotão durante todo o dia."
Para um corredor cuja carreira foi construída sobre regularidade, inteligência táctica e capacidade de sofrer em silêncio, este último lampejo numa fuga inglória será talvez o adeus mais coerente possível. Sem palco nem pódio, mas com a dignidade de quem sempre respeitou o ciclismo.