Com a camisola de campeão nacional vestida pela primeira vez na carreira,
Ivo Oliveira viveu este domingo um dos dias mais emocionantes da sua trajetória. Depois de vários pódios consecutivos nos Nacionais, o ciclista da UAE Team Emirates conquistou finalmente a vitória, numa edição marcada por uma queda aparatosa, esforço extremo e... caibras disfarçadas com mestria.
"Esta vitória é muito especial."
Assim começa o desabafo sincero de Ivo, ainda com a adrenalina da conquista a correr-lhe nas veias. O triunfo teve um sabor agridoce, pois parecia escapar-lhe mais uma vez após uma violenta queda já perto do final.
"Quando caí, a dois quilómetros da meta, fiquei bastante dorido no lado direito, todo raspado. Até pensei que não me fosse conseguir levantar. Fiquei um bocado abalado, mas levantei-me, regressei ao pelotão. Vi que as pernas iam mais ou menos."
Rui Oliveira bateu ao sprint Pedro Silva para se sagrar Campeão Nacional de estrada português
O plano inicial era claro: trabalhar para o irmão, Rui Oliveira, que já por quatro vezes tinha sido segundo classificado na prova. Mas a corrida acabaria por tomar outro rumo.
"A ideia era fazer a corrida para o meu irmão. Ele já foi, se não me engano, quatro vezes segundo (e.d.: foram 3 vezes no espaço de 4 anos). Mas depois encontrei-me numa fuga e perguntava constantemente ao diretor desportivo quando é que o António (Morgado) e o Rui (Oliveira) vinham para a frente, porque eu estava com pernas muito más. As sensações não foram boas."
Ivo não esconde que colaborou pouco na fuga, e faz questão de reconhecer o mérito dos adversários, com especial destaque para João Medeiros e Pedro Silva.
"É uma pena, porque não puxei com os meus colegas de fuga. Tenho de dar os parabéns especialmente ao Medeiros e ao Pedro, porque fizeram uma corrida excecional. Eles mereciam ganhar. Eu puxei menos um bocado, mas tive uma queda, as sensações não eram as melhores e tive de me defender como pude. A realidade foi essa e disse-lhes isso."
O desfecho da corrida foi ainda mais impressionante, tendo em conta os problemas físicos que o acompanharam nas voltas finais.
"A duas voltas do fim, já vinha com caibras. Disse isso ao Pedro. Fiz um bluff enorme para que, a uma volta e meia da meta, ele não me deixasse para trás. Acho que, se o Pedro arrancasse quando eu passei para a frente, ele deixava-me para trás porque eu vinha completamente vazio."
No auge do sofrimento, o incentivo do carro da UAE foi decisivo.
"Disse ao meu diretor que já tinha dificuldades só para ir na roda, e ele só me dizia: ‘acredita, acredita, tu vais ganhar’."
E foi isso mesmo que aconteceu. Com esforço, cabeça fria e uma pitada de bluff bem executado, Ivo Oliveira cruzou a meta e tornou-se novamente campeão nacional.
"Fui na roda do Pedro na subida inteira e, felizmente, consegui. Estou muito orgulhoso."
A vitória teve ainda um sabor pessoal profundo, como o próprio fez questão de sublinhar no final.
"Só tenho que agradecer aos meus amigos, à minha família e à minha namorada. Hoje foi um dia muito especial e estou muito emotivo."