Com apenas 19 anos, Jakob Omrzel já carrega o peso das comparações inevitáveis com
Tadej Pogacar, mas o jovem esloveno, recém-promovido à
Bahrain - Victorious para 2026, faz questão de traçar o seu próprio rumo.
“Tadej não é o melhor do mundo apenas porque tem um talento incrível. Ele dedica todo o seu tempo ao ciclismo. Tudo na sua vida é estruturado em torno da modalidade: dieta, descanso, treino… Ele faz tudo a 100%. É por isso que é o melhor ciclista do mundo”, disse Omrzel ao
Siol.
Mais do que idolatrar o compatriota, Omrzel quer seguir o seu exemplo de disciplina, o método, e não a mística. “Posso aprender muito com isso. O meu objetivo é viver como ele vive.”
Do Baby Giro ao título nacional: o ano que mudou tudo
A temporada de 2025 foi o ponto de viragem na carreira do jovem esloveno. Venceu a geral do Giro Next Gen, conquistou o campeonato nacional de estrada e arrebatou as camisolas de melhor jovem na Volta à Eslovénia e na CRO Race. “O principal objetivo da época era o Baby Giro, e alcançámo-lo com a vitória. Depois disso, tudo correu melhor do que esperávamos, dos campeonatos nacionais às corridas italianas e as Voltas à Eslovénia e da Croácia”, resumiu.
Esses resultados convenceram a Bahrain Victorious a acelerar a sua promoção ao WorldTour. “Discutimos o assunto com a equipa e todos concordámos que o único passo lógico era a passagem para o WorldTour. A Bahrain é um ambiente caseiro, com gente da casa assenta-me perfeitamente.”
Uma “família” dentro da Bahrain Victorious
Omrzel vai reencontrar em 2026 o seu grande amigo Zak Erzen, colega dos tempos da Adria Mobil, além de contar com o apoio literal da família, o seu irmão Aljaz conduz o autocarro da equipa.
“O Zak e eu somos grandes amigos, estamos juntos quase todos os dias. O facto de agora sermos colegas de equipa é fantástico. Ter esse ambiente de apoio à nossa volta ajuda muito quando as coisas ficam stressantes.”
A tricolor nas costas, e a cabeça no lugar
Como campeão nacional da Eslovénia, Omrzel alinhará em 2026 com a camisola tricolor, símbolo de orgulho e de responsabilidade. “Vestir a camisola do campeão nacional dá-nos uma motivação especial. É a confirmação de que conquistámos o nosso lugar. É uma sensação incrível.”
Mas, ao contrário de muitos jovens prodígios, não quer apressar o salto para as Grandes Voltas. “Vou fazer 20 anos no próximo ano. É demasiado cedo para pensar numa Grande Volta. Se quero uma carreira longa e de qualidade, não há mal nenhum em esperar. Prefiro concentrar-me em corridas de uma semana.”
Entre as provas que quer descobrir, menciona Tirreno-Adriatico, Volta à Catalunha, Volta aos Alpes, Eslovénia e Croácia, corridas ideais para amadurecer sem se queimar.
“A equipa entende isso. Se eu disser que não estou preparado para algo, respeitam. É muito importante ouvir o corpo, e eles compreendem isso.”
“O dia mais difícil da época foi o da morte de Samuele Privitera”
Entre as muitas experiências da sua curta carreira, há uma que Omrzel nunca esquecerá: a tragédia no Valle d’Aosta, onde o jovem italiano Samuele Privitera, de 19 anos, perdeu a vida.
“Foi o principal fator que nos quebrou completamente. Não necessariamente fisicamente, mas mentalmente. Aprendi muito com essa experiência sobre mim próprio, sobre como reagir e processar algo tão duro. Foi a corrida mais difícil da época.”
“No final, as pernas mostram quem pertence ao lugar”
A forma serena como encara o sucesso revela uma maturidade invulgar. Omrzel sabe que já atrai o respeito dos veteranos do pelotão.
“Os ciclistas mais velhos sabem quem eu sou. Quando chegamos às subidas, sabem que sou competitivo. Testam-me um pouco, claro, mas no final as pernas mostram sempre quem pertence ao lugar.”
Apesar de ser visto como um futuro líder, não hesita em ajudar os outros quando necessário:
“Nas Voltas da Eslovénia e da Croácia, disse logo que queria ajudar. É importante manter humildade. Sei que ainda tenho muito a aprender.”
“É na crise que se aprende mais”
Omrzel mostra uma relação adulta com a adversidade. “Os momentos de desilusão são os mais importantes. Quando tudo corre bem, nada parece difícil. Mas é nas crises que aprendemos e crescemos mais.”
Depois de um período de quebra de forma após o Baby Giro, reconstruiu-se e terminou a época em grande nível, com bons desempenhos no Campeonato do Mundo e na CRO Race, exatamente o padrão que a Bahrain Victorious queria ver num futuro líder de classificação geral.
O futuro em perspetiva
A história de Jakob Omrzel pode ser lida de duas formas:
- a do prodígio esloveno, vencedor do Baby Giro e campeão nacional, chamado ao World Tour com 19 anos.
- e a do jovem consciente, que recusa a pressa e foca-se em construir uma carreira sólida, passo a passo.
“Se quero ter uma carreira longa e de qualidade, não há mal nenhum em esperar um pouco mais. É melhor focar-me nas provas de uma semana do que precipitar-me numa Grande Volta.”
Omrzel não quer ser “o novo Pogacar”, quer ser ele próprio, mas com a mesma entrega que transformou o compatriota num fenómeno global:
“Tudo na vida dele gira em torno do ciclismo. Ele faz tudo a 100%. É por isso que é o melhor ciclista do mundo.”