Jay Vine vive um dos melhores momentos da sua carreira. O australiano da
UAE Team Emirates - XRG já soma três vitórias em 2025, incluindo um triunfo recente e convincente numa etapa da
Volta à Romandia. No entanto, a sua forma atual ganha um significado ainda mais profundo quando se recorda o grave acidente que sofreu na
Volta ao País Basco de 2024 - um momento que quase pôs fim à sua carreira e que, segundo o próprio, transformou a sua forma de ver a vida e o ciclismo.
“Estava realmente entusiasmado para correr o Giro com o Tadej. Esse era o grande objetivo daquele ano”, recorda Vine em conversa com o CyclingNews. "Fiquei desapontado por não ter conseguido alinhar com ele, mas depois do acidente... bem, cada dia passou a ser uma espécie de bênção. Sinto-me a pessoa mais sortuda e ao mesmo tempo a mais azarada do mundo, pela forma como tudo se desenrolou. Primeiro poder andar, depois pedalar, e eventualmente voltar a competir".
As palavras não são exageradas. As imagens de Vine deitado numa cama de hospital com um colar cervical após o violento acidente correram as redes sociais e o pelotão profissional. O próprio admite que poderia ter sido muito pior. Hoje, ainda lida com as consequências físicas da queda, o que só reforça o mérito do seu regresso.
“A recuperação foi longa e continuo com dores nas costas durante as corridas. Ainda tenho de fazer reabilitação para o resto da vida, basicamente. Tenho uma vértebra esmagada — e não há como desesmagar uma vértebra”, explicou. “Vai melhorar gradualmente e estou a aprender a viver com isso".
Desde então, a segurança dos ciclistas passou a ocupar um lugar central nas suas preocupações. "Nunca fui de correr grandes riscos. Sou provavelmente uma das pessoas mais lentas nos treinos, porque não há necessidade de arriscar fora da corrida. Isso não mudou, mas pensar na melhor forma de cuidar da minha família tornou-se uma prioridade ainda maior".
Vine venceu de forma categórica na Volta à Romandia, com um ataque tardio e calculado que lhe garantiu a vitória a solo - uma resposta simbólica a um ano de recuperação e superação. Mas o australiano vai mais longe, e não se coíbe de apontar falhas estruturais no ciclismo atual no que toca à proteção dos atletas.
Vine venceu sozinho a Volta à Romandia com um ataque tardio lançado no timing certo
“A nossa modalidade ainda é muito arcaica no que toca à segurança. Em termos de inovação, avançámos imenso: pneus, nutrição, vestuário aerodinâmico, treino... tudo isso evoluiu muito. Mas no que toca à proteção, ainda estamos na idade das trevas. A Lycra continua sem qualquer proteção adicional. Não há sensores de concussão nos capacetes. Não há progresso".
Vine acredita que a mudança tem de partir de cima. “A UCI tem de fazer mais. Se criam uma regra, o desporto muda. Tal como na Fórmula 1, quando introduziram o Halo - passou a ser obrigatório e de repente todos os carros tinham Halo. Aqui também é preciso vontade política para mudar as coisas".