Mark Cavendish teve este ano a última época da sua carreira profissional e terminou-a em grande. Um "final de conto de fadas", algo que a maioria dos ciclistas não tem direito e ele explica como conseguiu muito do que ganhou devido ao seu lado táctico e não por ser mais forte do que os outros.
"Eu não seria um profissional agora se tantas pessoas olhassem apenas para a parte científica, o que deixa uma lacuna aberta para alguém que olha para as coisas de forma táctica", disse Cavendish em declarações à BBC Radio 5 Live. Em comparação com outros sprinters, o veterano esteve sempre longe dos pesos pesados em termos de números brutos, mas singrou com a sua posição aerodinâmica nos sprints que lhe valeu a alcunha de "Manx Missile".
Para além disso era também um sprinter puro, que tinha dificuldades em todos os outros tipos de terreno, mas nos casos frequentes de sprints planos em grupo, argumenta que desenvolveu não só os atributos físicos, mas também os atributos mentais para ter um posicionamento perfeito e uma gestão de energia superior aos restantes nos seus tempos áureos.
"Tudo é quantificável. A potência que se tem, o peso que se tem e isso torna tudo mais difícil para quem tem uma mente táctica. Mesmo quando era mais novo e o ciclismo não era tão científico, não conseguia 'acertar nos números', por isso nunca devia ter sido um profissional", admite. "Nunca negligenciei o meu treino físico, mas é igualmente importante treinar a nossa mente para ler uma situação. Olhar para os resultados, olhar para as tácticas das outras equipas. Eu fiz isso e outros não".
Cavendish passou os últimos anos a lutar para bater o recorde de vitórias em etapas na Volta a França e, de forma surpreendente, terminou a sua luta este verão, vencendo a 5ª etapa da Grand Boucle, num sprint de grupo executado na perfeição. Depois teve duas últimas semanas relativamente tranquilas na corrida que mais marcou a sua carreira, antes de fazer uma longa pausa nas corridas, sem saber se voltaria ou não. A resposta acabou por ser negativa e no fim de semana passado, correu o Critérium de Singapura como última prova da sua carreira profissional - onde lhe foi permitido ganhar a corrida como forma de o homenagear.
"Eu penso que tive a sorte de ter conseguido correr mais alguns anos extra na minha carreira. A maioria dos atletas nunca terá um final que seja um conto de fadas", reconhece. "As pessoas com quem me tornei profissional e com quem corri já abandonaram o profissionalismo, os filhos deles também penduraram a bicicleta. Isso faz-me sentir velho. Não há ninguém competitivo com esta idade. Tenho a sorte de ter tido o apoio da minha equipa e da minha família, que acreditaram em mim, mais pelo meu lado táctico do que pela minha capacidade física."