Poucos temas no ciclismo suscitaram tanto debate em 2025 como os wildcards para as Grandes Voltas. A questão, que tem estado a fervilhar desde o inverno, tornou-se ainda mais premente à medida que ciclistas de alto nível como
Julian Alaphilippe e
Tom Pidcock se juntaram à equipas ProTeams, tornando a escolha dos wildcards ainda mais competitiva. A controvérsia gira em torno da questão de saber se as Grandes Voltas devem aumentar para 23 equipas ou se o sistema atual, que permite apenas 22 equipas de oito ciclistas, deve permanecer inalterado.
Atualmente cada Grande Volta acolhe 22 equipas, cada uma composta por oito ciclistas. Há alguns anos, os organizadores das corridas reduziram o número de atletas por equipa de nove para oito, num esforço para aumentar a segurança e tornar as corridas mais imprevisíveis.
As 18 equipas do World Tour têm um lugar garantido em todas as Grandes Voltas, enquanto as duas ProTeams mais bem classificadas do anterior ciclo do World Tour (Lotto e Israel-Premier Tech) recebem um convite de forma automático. No entanto, a Lotto optou por renunciar ao seu lugar no Giro, deixando três wildcards em aberto para serem distribuídos pelos organizadores da prova.
Isso terá certamente chamado a atenção de Pidcock e Alaphilippe. Tradicionalmente, os convites para os wildcards são divididos entre equipas Continentais fortes e equipas nacionais do país que acolhe a corrida. No Giro isto significa normalmente um lugar para a Bardiani, no Tour para a
TotalEnergies e na Vuelta para a Burgos-BH.
Este ano a situação ficou mais complicada devido à contratação de grandes nomes por equipas ProTeam. A presença de ciclistas como Alaphilippe, Pidcock e
Marc Hirschi nos escalões Pro Continental, significa que a procura de wildcards disparou, levando a atrasos invulgares na sua atribuição. Como resultado, o mundo do ciclismo tem estado dividido sobre se o ciclismo deve permitir que passem a ser 23 equipas na linha de partida para as Grandes Voltas, por forma a satisfazer as pretenções de todos os envolvidos.
A proposta ganhou força entre alguns organizadores de corridas, mas enfrenta forte resistência por parte de figuras chave da modalidade. O patrão da Team Visma | Lease aBike, Richard Plugge, tem sido um dos críticos mais veementes, recusando-se a apoiar o aumento do número de equipas. A sua posição baseia-se na crença de que a redução do número de equipas se destinava a tornar as corridas mais seguras e mais dinâmicas e que o aumento do número de equipas iria contradizer esse objetivo.
No entanto, a questão fundamental mantém-se: será que um pelotão mais pequeno torna as corridas mais seguras ou apenas as torna menos previsíveis? Embora a posição de Plugge seja compreensível, a realidade é que o atual sistema obriga os organizadores de corridas a excluir ciclistas de alto nível que poderiam aumentar significativamente o interesse do público.
O diretor da corrida da
Volta a Itália,
Mauro Vegni, lançou outra perspectiva no debate. Em vez de se concentrarem apenas no aumento do numero de equipas presentes em cada uma das corridas, levantou a questão do interesse de todas as equipas do escalão World Tour quererem participar em todas as Grandes Voltas.
"Há demasiadas equipas que participam em todas as Grandes Voltas, que nem sequer lá querem ir", disse Vegni ao Sporza.
Vegni interrogou-se se equipas como a Cofidis ou a Groupama-FDJ, por exemplo, optariam por correr se não fossem obrigadas. Se as equipas não tiverem um líder claro ou um foco estratégico numa determinada Grande Volta, deverão ser obrigadas a participar?
A ideia de dar mais flexibilidade às equipas World Tour para optarem por não participar poderia abrir lugares adicionais para distribuir wildcards, sem existir a necessidade de aumentar o número total de equipas. No entanto, isto poria em causa a noção tradicional de que as Grandes Voltas têm de apresentar todas as equipas World Tour.
Para já, o Conselho de Ciclismo Profissional deverá reunir-se a 26 de março para discutir a questão, deixando atletas como Pidcock, Alaphilippe e Hirschi na incerteza quanto aos seus calendários para as Grandes Voltas. "Todos os grandes organizadores estão a pedir mais wildcards. Vejo aqui uma grande oportunidade para permitir que hajam mais equipas mais pequenas a competir com as equipas de topo", afirmou Vegni.
No entanto, ele ainda não revelou a sua própria decisão sobre a distribuição dos wildcards para a Volta a Itália de 2025. "Seria uma pena que o Pidcock não estivesse presente, mas o mesmo se pode dizer das equipas que formam jovens ciclistas como a Bardiani".