Michel Wuyts sobre Remco: "Os atletas de topo têm de continuar a ser heróis. Mesmo quando estão novamente no hospital"

Não é a primeira vez na sua carreira que Remco Evenepoel é vítima de um acidente grave. O ciclista da Soudal - Quick-Step já esteve algumas vezes hospitalizado com gravidade e esta semana, fez nova visita a um hospital após ter embatido contra uma carrinha, depois da condutora ter aberto a porta sem tomar as devidas precauções. De acordo com Michel Wuyts, talvez seja altura de Evenepoel fazer uma relexão.

"O melhor país do mundo para a prática do ciclismo continua a ter acidentes destes. É como ter de pagar um preço por teres demasiado talento. Parece duro, até mesmo derrotista, mas a realidade mostra que não é diferente", começa por dizer Wuyts na sua coluna para o HLN. "Aos 24 anos, Remco Evenepoel está pronto para a sua terceira grande recuperação. Fratura pélvica na Lombardia, fratura do ombro no País Basco, fratura em três sítios diferentes em Oetingen."

"Vejo fotografias de um Evenepoel já recuperado do susto, com o dedo polegar para cima. Um pouco abatido, mas a dizer 'ainda estou aqui'. Que optimismo. Porque isto fica bonito nos jornais. Os rapazes modelo têm de manter o espírito de uma nação em tempos muito negros. As pessoas não toleram mais miséria. Os atletas de topo têm de continuar a ser heróis. Mesmo quando estão novamente no hospital a juntar as partes que se partiram", continua Wuyts, um pouco cético.

"A verdade é naturalmente diferente. As dores por que Evenepoel está a passar, não são inventadas. Fisicamente e ainda mais mentalmente. Todos os dias, todas as horas, todos os cinco minutos. Há dúvidas por todo o lado. Irritações persistentes. Memórias que incomodam. A base alargada desapareceu. O primeiro campo de treinos da equipa foi-se, o segundo em janeiro possivelmente também. Chegar ou não a Paris-Nice? Chegarei a cem por cento â Liège? O mês de dezembro será um mês caótico. É bom que o Remco possa contar com a Oumi, com o pai, com a mãe, com o Instituto Lefevere. A estrutura social é a base de qualquer recuperação bem sucedida".

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Mas, a seu tempo, Evenepoel estará de volta, garante Wuyts. "Há o temperamento excecional de Remco. Aquela vontade imparável. O fogo em cada fibra. Eu vou e eu devo. Aquele ligeiramente colérico que me diz que vai ser mais rápido do que o esperado. Não, nunca dobrar", observa. "Acreditem que, assim que as dores passarem, Evenepoel vai pôr o seu chassis intacto a trabalhar. Vídeos nas redes sociais de Pogacar a trabalhar até à morte, Remco vai usá-los como gatilhos de motivação na reconstrução."

Wuyts sugere que o líder da Soudal - Quick-Step entre em contacto com outras vítimas de acidentes em série para obter tranquilidade e inspiração, bem como conselhos. "A troca de experiências com outros que estão a sofrer também é benéfica. Greg van Avermaet, Wout van Aert ou o especialista ultra-experiente Primoz Roglic, reconhecendo os pormenores das suas batalhas, serão estimulantes", conclui;