Juan Ayuso, um dos ciclistas mais falados do pelotão profissional, abordou recentemente os motivos que o levaram a abandonar a
UAE Team Emirates - XRG após anos de convívio conturbado com a direção da equipa. Numa entrevista a
Daniel Benson, Ayuso explicou que a relação deteriorou-se ao longo de dois anos, principalmente devido a divergências sobre calendário, papéis na equipa e negociações de contrato.
"Foi uma acumulação de pequenas situações, e quando chegávamos a casa sentia-se sempre que não havia química ou ligação. Mesmo na Vuelta de 2023, pensei que se tivesse a oportunidade de sair, consideraria", afirmou Ayuso. O espanhol, agora confirmado na
Lidl-Trek, rescindiu o contrato que o ligava à Emirates até 2028, assinado ainda nos seus anos de formação como ciclista.
Conflitos com a direção, não com os colegas
Ayuso esclareceu que grande parte das tensões não surgiram com os colegas de equipa, mas sim com a gestão. "Sempre que conversava com a direção, a resposta era ‘não’. Parecia impossível sair, então tentei tirar o melhor partido possível. Mas quando estas situações se acumulam, chega um ponto em que pensamos ‘estou aqui para pedalar e desfrutar’."
Embora tivesse havido momentos de tensão com Tadej Pogacar e João Almeida, Ayuso sublinha que nunca desafiou diretamente os colegas. "Não era com o Almeida, nem com outros colegas. O problema estava na direção, que nunca clarificou os papéis nem resolveu os erros. Isso custou-me energia, mais do que os acontecimentos em si."
Proposta de renovação controversa
No início deste ano, a direção apresentou-lhe uma proposta para prolongar o contrato até 2030, com uma clausula de rescisão elevada caso Ayuso quisesse sair no futuro. "Não aceitei os termos, e a partir daí a direção tornou-se muito agressiva. Disseram que, se não assinasse, iríam definir o meu calendário à sua maneira", revelou. Este momento marcou a decisão de deixar a equipa.
A nova etapa na Lidl-Trek
Com a mudança confirmada, Ayuso encara a Lidl-Trek como uma oportunidade de redefinir a sua carreira e mostrar quem é de facto dentro e fora do pelotão. Apesar de algum ceticismo inicial de Mattias Skjelmose, o co-líder da equipa, Ayuso garante estar comprometido com o trabalho coletivo: "No campo de treinos, espero que vejam quem eu sou realmente e como me relaciono com os colegas. Quero ser o primeiro a apoiar os outros a atingir os seus objetivos."
Ayuso reforça que, apesar das dificuldades, mantém relações cordiais com outros ciclistas: "Durante a Vuelta, Mads Pedersen foi super acolhedor, mesmo sem ainda ter sido feito o anúncio oficial. Também falei brevemente com Giulio Ciccone, e foi positivo. Estou disponível para colaborar e quero demonstrar que posso contribuir para o sucesso da equipa."