Após semanas de silêncio,
Lenny Martinez abordou finalmente a polémica que marcou a sua estreia na
Volta a França. O jovem trepador francês, de 22 anos, admitiu que foi difícil lidar com a reação pública ao episódio das “
sticky bottles”, mas insistiu que nunca teve intenção de obter vantagem de forma irregular.
Durante a 18ª etapa, Martinez foi filmado a recolher três garrafas consecutivas do carro da
Bahrain - Victorious, dirigido por Roman Kreuziger, enquanto subia o Col du Glandon. As imagens levaram à penalização de oito pontos na classificação da montanha, num dia em que perdeu a Camisola das Bolinhas para Tadej Pogacar, e geraram duras críticas, inclusive do seu antigo colega de equipa Thibaut Pinot.
“Falta-nos lucidez quando estamos a subir”
Em declarações à RMC, Martinez reconheceu o impacto da controvérsia, admitindo que a tempestade mediática foi difícil de ignorar:
“É claro que é um pouco perturbador, tendo em conta tudo o que está a ser dito nas redes sociais. Embora tente não olhar muito para elas, acabei por ver o que se dizia.”
Apesar de compreender as críticas, o francês defende que a interpretação do público ignora o contexto do esforço extremo em alta montanha:
“Falta-nos lucidez quando estamos a fazer um grande esforço. As pessoas não compreendem esse aspeto. Muita gente vê a Volta a França e pensa que aguentar-se é batota, apesar de serem permitidos quatro segundos. Eu sei que não tive intenção de fazer batota. Estou em paz comigo próprio.”
Quanto à reação de Thibaut Pinot, Martinez preferiu não alimentar a polémica:
“Não sei porque é que ele reagiu daquela maneira. Não tenho muito a dizer sobre isso.”
Entre o talento e a maturidade: 2025, um ano de aprendizagem
Apesar da turbulência, Martinez encerrou 2025 com quatro vitórias, incluindo etapas no Paris-Nice e no Critérium du Dauphiné, confirmando-se como um dos trepadores mais promissores do pelotão francês. No entanto, a ausência de triunfo no Tour, e a perda da classificação da montanha, deixaram um sabor agridoce.
“Honestamente, não sei quais serão os objetivos para a Volta a França em 2026. Claro que ganhar uma etapa será um objetivo, mas quanto à classificação geral, ainda não sei. Veremos com a equipa.”
Martinez não esconde que a incerteza quanto ao seu papel em 2026 ainda está em aberto, mas garante que o foco estará em continuar a evoluir como ciclista completo.
O elogio a Paul Seixas: “Ele pode ganhar uma etapa no Tour”
Mesmo sem certezas sobre o próprio futuro, Martinez mostrou-se entusiasmado com a nova geração francesa, destacando o compatriota
Paul Seixas, da Decathlon AG2R La Mondiale, como um dos nomes a seguir com atenção.
“Estou muito impressionado com o que ele está a fazer. Na sua idade, está a um nível extraordinário e penso que tem um enorme potencial nas Grandes Voltas.”
O bronze no Campeonato da Europa e o sétimo lugar na Il Lombardia confirmaram o talento de Seixas, que já desperta grande expectativa no pelotão francês.
“Em 2026, ele pode aspirar a algo na Volta à França. Dado o seu nível este ano, pode ganhar uma etapa. Se preferir fazer a Vuelta, também será bom para ele. Mas tem tudo o que é preciso para brilhar.”
De polémico a protagonista: o foco volta à estrada
Entre a penalização nas montanhas, o debate nas redes sociais e as críticas internas, Martinez viveu uma temporada que o amadureceu mais do que qualquer vitória. Agora, o jovem da Bahrain Victorious procura transformar o episódio das garrafas adesivas num ponto de viragem, e voltar a ser falado apenas pelo que faz na bicicleta.
“Fiz o meu melhor, aprendi muito e sei que o que vem a seguir depende apenas de mim. Quero voltar a ganhar e deixar o resto para trás.”
Com 2026 à vista, Lenny Martinez tenta deixar o ruído para trás e reafirmar-se como a grande esperança francesa para as montanhas, num pelotão cada vez mais competitivo.