A época de 2025 ficará marcada como o ano em que
Isaac Del Toro e
Juan Ayuso, duas das maiores promessas do ciclismo mundial, seguiram trajetórias radicalmente diferentes. Ambos começaram sob as cores da
UAE Team Emirates - XRG, apontados como o futuro da equipa e herdeiros naturais de Tadej Pogacar. No entanto, à medida que os meses avançaram, as suas temporadas divergiram: um disparou para o estrelato mundial, o outro viu o brilho esmorecer.
O ponto de partida: Ayuso com ambições, Del Toro em aprendizagem
Para Juan Ayuso, 2025 era o ano de redenção. Depois de uma Volta a França 2024 marcada por tensão interna e abandono, o espanhol assumiu-se como um dos líderes designados da UAE, determinado a mostrar maturidade e consistência.
Já Isaac Del Toro, então com apenas 21 anos, era o projeto de longo prazo da equipa. O mexicano, campeão do Tour de l’Avenir em 2023, devia ter um calendário controlado, com o Giro d’Italia como primeira experiência de peso. O plano, no papel, parecia equilibrado. Na estrada, rebentou logo no arranque da época.
Fogo de artifício antecipado: um arranque explosivo
O mês de março foi o primeiro ponto de viragem.
Ayuso começou de forma imperial, vencendo a Faun Drôme Classic e o Trofeo Laigueglia, antes de dominar no Tirreno-Adriatico com vitória em etapa e conquista da geral. Pouco depois, brilhou novamente na Volta à Catalunha, onde apenas Primož Roglic o superou.
Ao mesmo tempo, Del Toro dava o primeiro sinal de grandeza: vitória na Milão-Turim, mostrando maturidade tática e potência de um veterano. A partir desse momento, o mexicano deixou de ser promessa, tornou-se protagonista.
Giro d’Italia: a corrida que os separou
O Giro d’Italia de 2025 deveria ser o ponto alto da convivência entre os dois jovens da UAE.
No entanto, enquanto Ayuso lutava por encontrar ritmo e salvava o orgulho com uma vitória isolada, Del Toro foi a revelação absoluta.
De camisola rosa vestida durante quase toda a corrida, venceu uma etapa e só perdeu a classificação geral no penúltimo dia, quando Simon Yates o ultrapassou na última subida. A Camisola Rosa escapou-lhe por pouco, mas o impacto estava feito: nascia uma nova estrela.
Depois de Itália: as marés inverteram-se
Após o Giro, os caminhos dos dois ciclistas inverteram-se completamente.
Ayuso, desgastado e sem confiança, desapareceu do radar durante o verão. Já Del Toro iniciou uma sequência de vitórias tão extensa quanto impressionante:
- Volta à Áustria (três etapas e a geral),
- Clàssica Terres de l'Ebre, Circuito de Getxo, Volta a Burgos,
- GP Industria & Artigianato, Giro della Toscana, Coppa Sabatini, Trofeo Matteotti, Giro dell’Emilia, Gran Piemonte, Giro del Veneto,
- e ainda a dobradinha nacional no Campeonato do México, tanto em contrarrelógio como na prova de estrada.
A consistência de Del Toro, com 16 vitórias na temporada, transformou-o num fenómeno global.
Ayuso, por seu lado, apenas reencontrou a luz na Volta a Espanha, onde substituiu Pogacar à última hora e conquistou duas etapas, um final digno, mas longe das expectativas. Pouco depois, confirmou-se a sua saída para a Lidl-Trek, encerrando uma ligação turbulenta com a UAE.
Estatísticas vs. contexto: quem realmente brilhou?
Em números puros, Del Toro termina 2025 com 16 vitórias, o dobro das 8 de Ayuso.
Mas, em termos de prestígio, o espanhol mantém vantagem: seis das suas vitórias ocorreram em provas WorldTour, incluindo três em Grandes Voltass, enquanto Del Toro brilhou sobretudo em provas de um dia e competições de menor categoria.
Ainda assim, para um estreante no escalão máximo, o mexicano exibiu um nível de regularidade inédito para alguém da sua idade.
A nova hierarquia da UAE Team Emirates - XRG
O contraste entre ambos deixa inevitavelmente marcas dentro da equipa.
A UAE sempre apostou num modelo de desenvolvimento sustentado, mas a ascensão meteórica de Del Toro poderá obrigar a uma redefinição de lideranças.
Com Pogacar ainda no auge e Del Toro a emergir como sucessor natural, o espaço de Ayuso acabou por se estreitar, razão pela qual a sua transferência para a Lidl-Trek pode ser vista como um recomeço necessário.
Para a Emirates, no entanto, o quadro é positivo: a aposta em juventude continua a dar frutos, e Del Toro surge como o símbolo de uma nova geração de talentos latino-americanos a afirmar-se no topo do ciclismo mundial.
Conclusão: duas histórias, um desfecho simbólico
A temporada de 2025 foi, em última análise, um estudo sobre carreiras em direções opostas.
Ayuso começou como líder e terminou a recomeçar. Del Toro começou como aprendiz e terminou como fenómeno.
Ambos, porém, continuam a representar o futuro, um pela promessa de redenção, o outro pela confirmação da grandeza.
No coração da UAE Team Emirates - XRG, as eras sucedem-se com rapidez, e 2025 ficará como o ano em que a estrela mexicana começou a brilhar mais intensamente que nunca.