OPINIÃO: Mads Pedersen ainda não aprendeu a correr contra Mathieu van der Poel

Ciclismo
terça-feira, 15 abril 2025 a 14:00
pedersen
Não se deixem enganar pelo pódio. Mads Pedersen teve muito azar no domingo em Paris-Roubaix.
O furo que sofreu, mesmo quando a corrida explodia sob a potência de Tadej Pogacar e Mathieu van der Poel, foi cruel. Perdeu o comboio decisivo no pior momento possível, e ainda assim terminou em terceiro, atrás do campeão do mundo e do esloveno estreante.
Mas a verdade é que o azar não conta toda a história.
Mais uma vez, o dinamarquês foi vítima de decisões tácticas discutíveis — precisamente contra o homem que ninguém pode dar-se ao luxo de ajudar.

O erro recorrente

Não é a primeira vez. E, se nada mudar, não será a última.
Na fase decisiva da corrida, já depois da Trouée d'Arenberg, Pedersen voltou a colaborar com a Alpecin-Deceuninck, partilhando o trabalho com Van der Poel e Jasper Philipsen. Em vez de deixar que os favoritos assumissem o peso da perseguição, ajudou a manter o grupo unido. Voltou a cair na armadilha.
O mesmo já tinha acontecido na E3 Saxo Classic. O dinamarquês esteve com Van der Poel num grupo seleto... até ser deixado para trás no Oude Kwaremont.
A lição? Quando corres com o ciclista mais dominador da sua geração, a última coisa que deves fazer é facilitar-lhe a vida.

Sagan já nos ensinou isso

Durante o reinado de Peter Sagan, o pelotão aprendeu rapidamente. Ninguém o ajudava. Ninguém puxava por ele. Forçavam-no a desgastar-se sozinho e apostavam na imprevisibilidade. Era a única forma de vencer.
Contra Van der Poel, Pedersen parece ignorar essa lição. E paga caro.
Espectáculo? Sim. Eficácia? Nem sempre.
O dinamarquês é um dos ciclistas mais combativos do pelotão. Ataca com regularidade, anima as corridas e não tem medo de arriscar. Mas, por vezes, essa energia é mal canalizada.
Roubaix não é o sítio para movimentos inócuos a 100 km do fim com ventos cruzados. São esforços que se pagam caro quando se chega aos sectores decisivos. E foi precisamente o que aconteceu: quando Van der Poel acelerou, Pedersen ficou — desta vez por causa de um furo, mas já sem força para mais.
Uma primavera quase perfeita… mas sem um Monumento
A campanha de clássicas de Mads Pedersen foi notável:
  • 7º na Milan-Sanremo
  • 2º na E3 Saxo Classic
  • 2º na Volta à Flandres
  • 1º na Gent-Wevelgem
  • 3º na Paris-Roubaix
Pedersen só tem em falta uma vitória em monumentos no seu palmarés
Pedersen só tem em falta uma vitória em monumentos no seu palmarés
É um currículo de sonho. Mas falta o que conta mais: a vitória num Monumento.
Pedersen tem o talento. Tem o motor. Tem o instinto. Mas enquanto continuar a colaborar com Van der Poel, continuará a ser o melhor dos outros.

O azar de uma geração invencível

O contexto também não ajuda. Pedersen compete numa era em que Van der Poel, Pogacar e Evenepoel têm transformado os Monumentos numa monarquia absoluta.
Desde o início de 2022, esse trio venceu 19 das últimas 22 grandes corridas de um dia. Um domínio avassalador.
Mas o próprio Pedersen sabe disto.
Antes da Flandres, disse com honestidade: “Se deixarmos que a luta se reduza a um mano a mano, o Mathieu vai deixar-me cair.”
Então porquê, corrida após corrida, continuar a ajudá-lo?

Está na hora de mudar

As grandes vitórias não se ganham apenas com pernas. Ganham-se com cabeça. Com leitura. Com frieza.
Van der Poel já provou que pode ser vencido: Kasper Asgreen fê-lo na Flandres em 2021, obrigando-o a trabalhar mais. Philippe Gilbert fê-lo a Peter Sagan em 2017, isolando-se cedo e apostando na confusão.
A Pedersen falta essa astúcia. Falta a coragem de dizer: “Hoje, eu não puxo.”
Porque enquanto não correr contra Van der Poel, vai continuar a ser o grande protagonista dos segundos e terceiros lugares.
E Mads Pedersen é demasiado bom para se contentar com isso.
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