Quando a Red Bull foi anunciada como um dos principais patrocinadores da BORA -hansgrohe, o mundo do ciclismo foi posto em sentido. Uma marca conhecida por transformar projetos desportivos em máquinas vencedoras estava agora a investir no ciclismo profissional ao mais alto nível, mas o que significava isto para os adversários? Com a contratação de
Primoz Roglic como novo líder da equipa para 2024, as expetativas eram elevadas, e, embora a época não tenha corrido na perfeição, as bases estão agora estabelecidas.
Para mim, a trajetória é clara: a
Red Bull - BORA - hansgrohe está a caminho de se tornar a próxima grande super-equipa do ciclismo. Isso não significa que eu pense que, nas próximas duas ou três épocas, eles vão contratar ciclistas como Tadej Pogacar ou Jonas Vingegaard, mas acredito que a aposta no ciclismo seja cada vez mais reforçada.
A época de 2024 foi de transição, crescimento e lições. Roglic, apesar das dificuldades iniciais, lembrou a todos porque é que continua a ser um dos melhores ciclistas do mundo. A equipa começa a rechear-se cada vez com mais estrelas e, com os rumores de uma transferência de Remco Evenepoel em 2026, o futuro parece cada vez mais risonho.
Para aqueles que duvidam das ambições a longo prazo da Red Bull - BORA - hansgrohe, basta dar uma olhadela à história desportiva da Red Bull para tirar todas as dúvidas. Este não é um projeto a curto prazo, é um projeto rumo à glória, e vamos mostrar-lhe porquê.
2024: O sucesso da Vuelta encobre o horror da Volta a França
O primeiro ano da BORA - hansgrohe com o apoio da Red Bull era suposto ser para impôr uma posição, mas os resultados não foram exatamente os que tinham imaginado desde o início. A chegada de Primoz Roglic significava que a equipa tinha finalmente um líder de Grandes Voltas realisticamente capaz de as ganhar, mas a sua tentativa de vencer o Tour em julho não correu como planeado.
Roglic não estava no seu melhor, a estrutura da equipa à sua volta não era suficientemente forte e as táticas não conseguiram perturbar Tadej Pogacar, Jonas Vingegaard ou Remco Evenepoel. Comparado com a UAE Team Emirates e a Team Visma | Lease a Bike, a BORA simplesmente não tinha a números nem o poder de fogo para competir pela camisola amarela. Ah, e claro, Roglic continua a ser amaldiçoado no Tour e caiu mais uma vez.
No entanto, o que separa as grandes equipas das boas é a forma como respondem aos contratempos. Roglic regressou na Volta a Espanha, onde foi significativamente mais forte e garantiu o seu quarto título na Vuelta, igualando o recorde absoluto.
Primoz Roglic continua a ser o rei de Espanha
A equipa aprendeu muito com as dificuldades da Volta a França e o chefe de equipa Ralph Denk já falou sobre as mudanças necessárias para atingir o próximo nível. Com o poder financeiro da Red Bull, a equipa não vai fazer apenas pequenos ajustes, mas sim grandes mudanças estruturais para garantir que são verdadeiros candidatos ao Tour em 2025 e mais além.
O Roglic está a ficar velho, mas está a melhorar?
Aos 35 anos, Primoz Roglic está a aproximar-se da idade em que a maioria dos candidatos a Grandes Voltas começa a perder o gás. No entanto, o esloveno ainda não mostrou sinais de abrandamento e tanto ele como a equipa acreditam que ainda pode vencer a Volta a França. Ou será que acreditam?
As estatísticas, evidentemente, sugerem o contrário. Desde 1922 que nenhum ciclista vence a sua primeira Volta a França depois dos 34 anos e a história recente mostra que os vencedores da camisola amarela são cada vez mais jovens. Pogacar, Evenepoel e Vingegaard estão todos na casa dos 20 anos e, muito honestamente, este trio esteve muito acima dos restantes no passado mês de julho.
Mas Roglic nunca foi um ciclista convencional. O antigo saltador de esqui entrou tarde no ciclismo, o que significa que tem muito menos anos de corrida nas pernas em comparação com outros ciclistas da sua idade, e as suas prestações na Vuelta de 2024 provam que ainda tem capacidade para competir com os melhores.
Até o próprio Roglic reconheceu que está "realmente a ficar velho", mas a sua mentalidade continua a ser a de uma melhoria constante. A Red Bull - BORA - hansgrohe construiu a sua equipa em torno dele e, a curto prazo, o seu sucesso dependerá em grande medida da sua capacidade de vencer uma segunda Volta a Itália este ano, bem como uma Volta a França mais bem sucedida.
O historial desportivo da Red Bull
A Red Bull tem a reputação de transformar investimentos em domínio inabalável. Quer seja no desporto motorizado, no futebol ou agora no ciclismo, não se limitam a participar, ganham.
Quando a Red Bull Racing entrou na Fórmula 1 em 2005, era apenas mais uma equipa de meio da tabela. Em cinco anos, ganhou o seu primeiro Campeonato do Mundo com Sebastian Vettel em 2010. Daí até 2024, conquistaram oito títulos de pilotos e seis títulos de construtores, o que faz dela uma das equipas mais dominantes da história da F1. É claro que muito disto se deve à incrível capacidade de Sebastian Vettel e Max Verstappen, mas a infraestrutura, os recursos e o conhecimento que a Red Bull traz são verdadeiramente de elite.
Quando a Red Bull investe, investe para ganhar!
A Red Bull também adquiriu o SV Austria Salzburg em 2005, mudando a sua designação para Red Bull Salzburg. Desde então, conquistou 14 títulos da Bundesliga austríaca e 9 Taças da Áustria, estabelecendo-se como a potência incontestada do futebol austríaco.
Depois há o RB Leipzig, fundado em 2009. Em apenas 15 anos, alcançou três segundos lugares na Bundesliga, jogou na Liga dos Campeões e ganhou vários troféus da DFB-Pokal. Não, ainda não atingiram mesmo nível da equipa de futebol austríaca ou a equipa de Formula 1, mas, para sermos justos, enfrentam um dominante Bayern de Munique no campeonato alemão.
O padrão é claro: quando a Red Bull investe, segue-se o sucesso. Se a história se repetir, a Red Bull - BORA - hansgrohe não se tornará apenas uma boa equipa de ciclismo, está destinada a tornar-se uma das melhores.
O caso de Remco Evenepoel
Enquanto Roglic continua a ser o atual líder da equipa, o plano a longo prazo pode envolver uma estrela mais jovem. Crescem os rumores de que a RedBull - BORA - hansgrohe está a preparar a chegada de Remco Evenepoel em 2026.
O belga tem sido associado a uma saída da Soudal -Quick-Step, e muitos acreditam que as transferências de inverno da Red Bull - BORA foram cuidadosamente concebidas para lançar as bases para a sua chegada. Se não fosse a época histórica de Tadej Pogacar, Evenepoel teria provavelmente sido o melhor ciclista do ano, já que, para além do seu primeiro pódio na Volta a França, tornou-se o primeiro homem a ganhar o ouro olímpico na corrida de estrada e no contrarrelógio na mesma edição dos Jogos Olímpicos
Denk mantém-se misterioso sobre a situação, mas não exclui a possibilidade, dizendo que "Evenepoel encaixar-se-ia bem na nossa equipa, mas já deixou claro onde vê o seu futuro".
Para já, Evenepoel mantém-se na Quick-Step, mas 2026 está ainda muito longe. Se a Red Bull - BORA - hansgrohe conseguir provar que está pronta para lutar pelas vitórias na Volta a França, Evenepoel poderá vê-los como o destino perfeito.
Se ele entrar, a transformação da equipa poderá ficar completa, uma vez que estará mais perto de desafiar a UAE Team Emirates - XRG e a Team Visma | Lease a Bike nas maiores corridas do mundo.
Embora grande parte da atenção tenha sido dada aos ciclistas de Grandes Voltas, a força da RedBull - BORA - hansgrohe noutras áreas não deve ser negligenciada. Sam Welsford teve um início de ano muito forte em 2025 e espera ter mais sucesso à medida que o ano avança.
O próprio Welsford admitiu que a equipa aprendeu muito com as dificuldades de 2024, e essas lições já estão a dar frutos. Se continuar a sua trajetória ascendente, poderá afirmar-se como um dos melhores sprinters do mundo.
A UAE Team Emirates tem Juan Ayuso, João Almeida, Adam Yates e Marc Soler a apoiar a Pogacar. E a Team Visma | Lease a Bike construiu uma equipa de clássicas dominante ao lado dos seus ciclistas de Grandes Voltas, porque Wout van Aert não é um "domestique" qualquer!
Para que a Red Bull - BORA - hansgrohe se torne uma verdadeira super-equipa, vão precisar de ciclistas como Welsford, Aleksandr Vlasov e Jai Hindley para se destacarem e cumprirem as suas funções em várias corridas. Talvez esta afirmação seja um pouco injusta para Hindley, que teve um ano difícil em 2024, mas ele é, afinal, um vencedor de Grandes Voltas e pode certamente recuperar em 2025.
A Red Bull - BORA - hansgrohe pode não ser ainda uma super-equipa, mas tudo aponta para que se torne uma. O apoio da Red Bull, a presença de um líder de Grandes Voltas como Roglic e toda uma série de outros talentos sugerem que estão a ir na direção certa. Os rumores sobre a possível chegada de Remco Evenepoel são, por enquanto, apenas rumores, mas mesmo sem ele, a equipa parece ser a que tem mais probabilidades de reduzir a diferença para as duas equipas rivais a longo prazo.
Já aprenderam lições valiosas com as dificuldades da Volta a França de 2024 e, com os recursos de que dispõem, esperam não voltar a cometer os mesmos erros em 2025.
Se os sucessos passados da Red Bull servirem de referência, não tardará muito até que a Red Bull - BORA - hansgrohe se torne favorita em todas as corridas importantes.