OPINIÃO: João Almeida ainda terá a oportunidade de ser líder na UAE ou terá que procurar outra equipa para conseguir ganhar uma grande volta?

Ciclismo
segunda-feira, 10 fevereiro 2025 a 17:21
joaoalmeida

João Almeida construiu uma reputação como um dos ciclistas de corridas por etapas mais consistentes e fiáveis do ciclismo profissional neste momento. O ciclista português de 26 anos nunca terminou fora dos dez primeiros numa grande volta, uma estatística notável que reflete a sua resistência, capacidade como trepador e um talento natural. Não, Almeida não estará feliz por ter falhado a classificação geral na recente Volta à Comunidade Valenciana, mas não vai deixar que esta derrota para Santiago Buitrago defina o que acreditamos ser um ano importante para ele.

Apesar de ter provado repetidamente o seu valor, Almeida continua preso a um papel secundário na UAE Team Emirates - XRG, ofuscado pela busca incessante de grandeza de Tadej Pogacar. Até ao momento, não ouvimos palavras de descontentamento por parte de Almeida em relação a este papel, mas não será ele um ciclista destinado a mais?

Na época passada, Almeida mostrou todo o seu talento ao apoiar a Pogacar na Volta a França. Apesar de ter entrado na prova como gregário de luxo, conseguiu terminar em quarto lugar da geral, um feito incrível tendo em conta as exigências físicas de trabalhar para um líder. Em qualquer outra equipa, um resultado destes teria sido suficiente para ganhar o estatuto de líder na época seguinte. Mas na UAE Team Emirates - XRG, nenhum ciclista está acima de Pogacar, uma vez que o esloveno é, sem dúvida, um dos ciclistas mais talentosos que alguma vez vimos.

Em 2025, Almeida terá pela frente mais uma época em que se espera que corra ao lado do líder da sua equipa, enquanto procura oportunidades para deixar a sua própria marca. A questão é se ele consegue encontrar espaço para brilhar dentro da estrutura da UAE Team Emirates, ou se está a ser forçado a um papel que limita permanentemente as suas ambições. Se a UAE Team Emirates não o deixar lutar por vitórias nas grandes voltas, então talvez seja altura de procurar a liderança noutro lado.

Poderá Almeida ser um líder de equipa?

Desde que se juntou à UAE Team Emirates em 2022, Almeida tem sido um exemplo de consistência. A sua regularidade ao longo das provas de 3 semanas nunca foi posta em causa, como demonstram os seus resultados ao longo da sua carreira até à data. Terminou em quarto lugar na Volta a Itália na sua estreia em 2020, em sexto no ano seguinte e em terceiro em 2023, provando todo o seu potencial nos maiores palcos do ciclismo. Na Volta a Espanha também tem sido bastante regular, assegurando o quinto lugar em 2022 e o nono em 2023, antes do covid ter cruelmente posto fim à sua campanha de 2024, quando era considerado um dos favoritos à Geral antes da corrida e ocupava a segunda posição da geral.

A sua estreia na Volta a França em 2024 foi, sem dúvida, as três semanas mais impressionantes da sua carreira até agora, considerando todos os factores. Enquanto Pogacar dominou a corrida, Almeida trabalhou discretamente nos bastidores, garantindo que o seu líder tinha tudo o que precisava para ter sucesso. Apesar da carga física exigida de correr como gregário, Almeida ainda terminou em quarto lugar na geral. No entanto, o seu desempenho foi largamente ofuscado pela batalha a três entre Pogacar, Vingegaard e Evenepoel, com Almeida a terminar a 10 minutos de Evenepoel que ficou em terceiro.

Se João Almeida estivesse numa equipa diferente, onde fosse claramente um líder, poderia ter tentado lutar pelo pódio. Pensamos que a posição de Almeida na classificação geral teria sido diferente no Tour se ele estivesse numa equipa diferente? Não, não achamos que ele tivesse capacidades para desafiar os 3 primeiros. Mas na UAE, ele pode nem sequer ter a oportunidade de descobrir se se poderá bater contra o "Big Three".

Como é que Almeida se encaixa na UAE?

A UAE Team Emirates teve uma época histórica em 2024, encabeçada pela tripla coroa de Pogacar, vencendo o Giro, a Volta a França e o Campeonato do Mundo no mesmo ano. Foi uma época que provavelmente nunca mais se repetirá e que cimentou o estatuto de Pogacar como o melhor ciclista da actualidade.

Sem surpresa, a UAE Team Emirates construiu toda a sua estratégia para 2025 em torno do apoio a Pogacar na sua tentativa de manter o título da Volta a França e assim conquistar a sua quarta camisola amarela. Almeida vai voltar ao seu papel de domestique, trabalhando ao lado de Adam Yates para dar ao esloveno o máximo de força e profundidade possível nas montanhas. A equipa acredita que sacrificar as ambições individuais é o preço a pagar por de fazer parte de um projeto que está a reescrever a história do ciclismo.

Juan Ayuso é outro dos ciclistas da UAE que poderá rumar a outras paragens para sair da sombra de Pogacar
Juan Ayuso é outro dos ciclistas da UAE que poderá rumar a outras paragens para sair da sombra de Pogacar

É aqui que Almeida enfrenta o seu maior desafio. Ele é claramente uma parte integrante do sucesso de Pogacar, mas é também um ciclista que poderia tentar ganhar grandes corridas. Aos 26 anos, ele passou anos a desempenhar o papel de domestique. Mas quando é que ele deixará de ser um futuro vencedor de grandes voltas e começa a ser visto apenas como um gregário de luxo?

Vuelta 2024: uma grande oportunidade perdida

Se Almeida quer ganhar a sua primeira Grande Volta, a Volta a Espanha parece ser a sua melhor oportunidade. Em 2024, era considerado um dos principais candidatos antes de infelizmente ser forçado a abandonar a corrida. Os seus primeiros desempenhos na corrida sugeriam que poderia ter desafiado o vencedor Primoz Roglic e, se a sa~ude o tivesse permitido, seria perfeitamente possível que pudesse ter conquistado a vitória ou, pelo menos, estar no pódio em Madrid.

Este ano a Vuelta poderá ser o seu momento de redenção, mas apenas se a UAE Team Emirates lhe der a oportunidade de liderar a equipa.

Isso no entanto está longe de estar garantido, mais uma vez graças a um esloveno. Se Pogacar decidir fazer a dobradinha Tour-Vuelta, então Almeida pode mais uma vez fazer papel de domestique, sacrificando as suas ambições pessoais para ajudar o esloveno a tentar conquistar mais um pedaço de história, enquanto tenta completar o seu conjunto de grandes voltas.

A certa altura, Almeida terá de perguntar a si mesmo quantas grandes voltas mais estará disposto a sacrificar pela equipa, especialmente tendo em conta que um certo Juan Ayuso terá a liberdade de tentar a vitória no Giro este ano.

Um dos traços caraterísticos de Almeida é a sua lealdade. Apesar dos conflitos internos com Juan Ayuso no passado (nomeadamente a subida ao Galibier na Volta do ano passado), manteve-se sempre profissional, desdramatizando publicamente as tensões e concentrando-se no sucesso coletivo da equipa. Nunca se queixou do seu papel, nem deu sinais de querer assumir a liderança em detrimento dos objetivos da equipa.

No entanto mesmo os gregários mais leais acabam por chegar a um ponto em que querem mais. Almeida já provou que pode competir com os melhores, o que ainda não lhe foi dado é a oportunidade de liderar de forma incontestada.

Talvez não estejamos a ver o quão feliz Almeida está na UAE. Afinal, veja-se o caso da Visma, onde Sepp Kuss declarou abertamente que prefere um papel de domestique e que prefere a vida fora das luzes da ribalta. Mas Kuss tem uma coisa que Almeida não tem: uma vitória numa grande volta.

Deverá Almeida manter as suas opções em aberto?

Se 2025 seguir o mesmo padrão dos anos anteriores, apoiando a Pogacar no Tour e potencialmente perdendo a liderança na Vuelta, Almeida deverá considerar seriamente se a UAE Team Emirates - XRG será o melhor lugar para ele.

Há várias equipas onde ele poderia ser líder. Uma mudança para a INEOS Grenadiers poderia permitir-lhe liderar o Giro ou a Vuelta sem qualquer dúvida. A Bahrain Victorious e a Movistar já construíram equipas com trepadores fortes, mas têm apenas 1 líder para a classificação geral e poderiam proporcionar um ambiente mais adequado para Almeida lutar pelas suas ambições. Mesmo uma mudança para uma equipa em ascensão como a Red Bull- BORA - hansgrohe, onde não há um claro segundo líder para lá de Roglic, poderia representar uma oportunidade atrativa.

Se João Almeida permanecer na UAE, deve ter a certeza de que acabará por ter a sua própria oportunidade. Caso contrário, arrisca-se a tornar-se num ciclista que sempre foi suficientemente bom para ganhar uma Grande Volta, mas a quem nunca foi dada a oportunidade de o fazer.

Pensamos que Almeida poderá estar numa encruzilhada na sua carreira. É um dos ciclistas de grandes voltas mais consistentes do mundo, mas ainda está à espera da sua oportunidade.

Na UAE Team Emirates, é um homem de confiança, uma peça-chave dos planos tácticos da equipa e um corredor cujos contributos ajudaram a Pogacar a fazer história. Mas à medida que a época passa, quanto tempo mais poderá ele esperar pela sua oportunidade de liderar uma grande corrida?

Em 2025, voltará a apoiar a Pogacar na Volta a França, pelo que, o que acontecer na Volta a Espanha será crucial. Mas se mais uma vez, lhe for pedido que sacrifique as suas ambições pessoais, então talvez seja altura de Almeida procurar outro lugar.

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