"Percebi que vale a pena viver" - Daniel Mangeas fala do AVC que sofreu, de Vauquelin e de Ferrand-Prevot

Ciclismo
quarta-feira, 13 agosto 2025 a 12:00
Vollering Ferrand Prevot Niewiadoma
Daniel Mangeas, a voz inconfundível da Volta a França durante mais de quatro décadas, enfrentou este ano um dos maiores desafios da sua vida. O francês de 76 anos, que narrou a prova de 1974 até à sua reforma em 2014, sofreu um AVC no início de 2024. Após meses de recuperação, o antigo padeiro que se tornou um ícone da narração ciclística falou ao Cyclism'Actu sobre a sua história de recuperação.
"Hoje digo a mim próprio que a vida é bela, porque passei por momentos difíceis, momentos de dúvida. Não conseguia exprimir-me, era impossível pôr uma palavra atrás da outra. E era uma altura em que queria reencontrar os meus amigos, queria voltar a ver toda a família do ciclismo. Disse a mim próprio: ‘Vou lá chegar’."
O processo de reabilitação decorreu no centro Le Normandy, em Granville, local também frequentado pelo ator Jean-Paul Belmondo. "Houve um grande apoio por parte dos médicos e dos enfermeiros e, pouco a pouco, tudo foi regressando ao lugar. A certa altura, disse para mim mesmo: ‘Descobri uma nova palavra’. Ainda não recuperei a 100%, mas encaro isso como um desafio. O desejo de melhorar motiva-me todos os dias."
Determinando a retomar contacto com o ambiente das corridas, Mangeas marcou presença no Critérium de Lisieux. "Queria voltar, mas não era assim tão simples. Ao assistir, percebi que a fluidez das frases ainda não era a mesma de antes, mas que estava a melhorar. Vi também a felicidade à minha volta. O Paul Lapeira ofereceu-me a camisola de campeão de França, quis ver-me, e isso foi um momento de enorme alegria. Também o Kévin Vauquelin me apoiou e desejou que eu regressasse ao mais alto nível. Aos poucos, tudo está a regressar, e o que mais me satisfaz é ver que alguns automatismos estão sempre a voltar. Acredito que o amor que tenho pelo ciclismo está a ajudar-me a recuperar de forma positiva."
Mangeas encara agora a recuperação com paciência e foco. "Percebi que a vida vale a pena e, a partir daí, não me vou chatear. Vou fazer as coisas como deve ser e, se tudo evoluir no sentido certo, ficarei feliz por voltar a estar com os meus amigos do ciclismo."
Com mais de meio século atrás do microfone, sente uma ligação profunda ao desporto. "São mais de 50 anos de microfones, e isso cria inevitavelmente uma intimidade especial. Faço parte desta família e ela retribuiu-me. Recebi muitas mensagens de apoio e demonstrações de carinho. Foram momentos de verdadeira felicidade."
Este verão trouxe-lhe também a alegria de ver a França celebrar um título histórico, com Pauline Ferrand-Prévot a conquistar a Volta a França Feminina, tornando-se a primeira campeã francesa de uma das duas edições da prova desde 1989. "Para mim, ela é fenomenal. Conheço-a desde os 17 anos, quando era campeã francesa de cadetes e competiu na Polinormanda. Já nessa altura mostrava carácter. Quando a vi no ecrã, pensei: ‘Espero que tenha sucesso’. Ela tinha esse objetivo e queria testar-se na Volta a França. Foi campeã olímpica, várias vezes campeã mundial, define objetivos e alcança-os. É uma campeã muito, muito grande. Para mim, essa é a palavra: absolutamente fenomenal."
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