De 8 a 15 de junho, o pelotão profissional enfrenta o tradicional
Critérium du Dauphiné, considerada a maior antecâmara da Volta a França. Este ano, a prova ganha ainda mais brilho com a presença confirmada de Tadej Pogacar, Jonas Vingegaard e Remco Evenepoel, três dos principais candidatos à Camisola Amarela em julho.
O percurso desta edição está desenhado para testar todas as valências dos ciclistas. Serão três etapas de alta montanha, um contrarrelógio individual com
perfil montanhoso e quatro jornadas onde tanto sprinters como especialistas em clássicas ou caçadores de etapas poderão brilhar.
Ao longo desta semana intensa, os principais nomes afinarão a forma e medir-se-ão em cenários muito semelhantes aos que encontrarão dentro de semanas na Volta a França. Analisemos o perfil de cada uma das 8 etapas da competição.
1ª Etapa: Domérat - Montluçon; 195,1 quilómetros
O Critérium du Dauphiné 2025 arranca com uma etapa de 195 quilómetros com final em Montluçon. Embora o dia inaugural dificilmente vá definir a classificação geral, o traçado, com contornos semelhantes às Ardenas, promete abrir o apetite tanto aos candidatos ao título como aos ciclistas mais ofensivos.
O percurso é exigente e favorece movimentações nos quilómetros finais. O destaque do dia é uma subida de 600 metros a 8%, onde o pelotão passará por duas vezes, a última das quais a apenas 6,5 quilómetros da meta. Curta, mas explosiva, a ascensão é suficientemente dura para provocar ataques e colocar a resistência do pelotão à prova. Ainda assim, o topo está longe o bastante da linha de chegada para permitir reagrupamentos rápidos.
O desfecho é incerto: pode assistir-se a um sprint reduzido se o pelotão conseguir controlar as investidas, mas o perfil descendente em Montluçon favorece qualquer ciclista que consiga isolar-se. Um final aberto e estratégico, ideal para quem procurar vestir a primeira camisola amarela da prova.
2ª Etapa: Prémilhat - Issoire; 204,7 quilómetros
A segunda etapa da competição mantém o tom desafiante da abertura, embora com um perfil diferente. O início é muito mais exigente, aumentando a probabilidade de uma fuga forte se formar e até lutar pela liderança da corrida. Contudo, o final é mais acessível, o que poderá permitir aos sprinters que sobrevivam disputar a vitória em Issoire.
Os primeiros quilómetros são verdadeiramente explosivos, concentrando a maior parte dos 2800 metros de desnível acumulado. A dureza está especialmente marcada nos 3,2 quilómetros a 7% de inclinação, cuja ascensão termina ainda a 55 quilómetros da meta. Embora distante da chegada, esta subida pode causar danos, mas quem a superar encontrará um percurso progressivamente mais favorável.
Os últimos quilómetros serão planos, mas técnicos e traiçoeiros. Entre os 5 e os 3 quilómetros finais, o pelotão enfrentará uma longa descida com curvas apertadas, cenário ideal para esticar o grupo e intensificar a luta pelo posicionamento. A última curva, a apenas 400 metros da linha de chegada, será o ponto crítico para quem quiser sprintar por um triunfo em Issoire.
3ª Etapa: Brioude - Charantonnay; 206,9 quilómetros
O terceiro dia de corrida segue a linha traçada nas jornadas anteriores: um início exigente e um final propício a movimentações. Com 206 quilómetros e cerca de 3000 metros de desnível acumulado, a etapa será longa e pesada, favorecendo tanto os especialistas em fugas como os trepadores mais atentos às movimentações.
A derradeira dificuldade do dia será decisiva. A subida final apresenta 1,2 quilómetros a 9,5%, terminando a 18,5 quilómetros da meta. Curta, mas explosiva, será o momento ideal para ataques entre os homens da geral ou para quem pretenda surpreender. A inclinação acentuada promete partir o pelotão e deixar um grupo muito reduzido para os quilómetros finais.
Depois da subida, o percurso segue por um planalto, uma breve descida e um falso plano até Charantonnay. Este terreno irregular abrirá espaço para tácticas e ataques de longe, favorecendo ciclistas oportunistas num final sem favoritos claros. Um dia de desgaste acumulado que poderá causar mais estragos do que aparenta na luta pela classificação geral.
4ª Etapa (ITT): Charmes-sur-Rhone - Saint-Peray; 17,4 quilómetros
A quarta etapa do Critérium du Dauphiné apresenta o primeiro grande teste para os candidatos à vitória final: um contrarrelógio individual de 17 quilómetros. Longe de ser um percurso tradicional para especialistas, esta jornada introduz um perfil montanhoso que deverá favorecer os trepadores com boa capacidade de fazer um esforço prolongado.
O traçado inclui uma subida curta, mas exigente, a meio do percurso: 1,8 quilómetros a 8,5%, que não tem uma descida imediata logo após o topo. A ascensão não é suficientemente longa para justificar troca de bicicletas, mas é bastante íngreme para criar diferenças significativas entre os principais nomes da geral.
Depois do topo, o percurso torna-se mais favorável, permitindo velocidades elevadas até à linha de chegada. Um teste completo, onde gestão do esforço e potência em subida serão tão importantes quanto a aerodinâmica. Espera-se que este dia comece a desenhar a hierarquia na classificação geral para o resto da semana.
5ª Etapa: Saint-Priest - Mâcon; 183,1 quilómetros
A quinta etapa volta a apresentar um perfil traiçoeiro. Apesar de um início plano, o dia contará com várias subidas moderadas, capazes de endurecer a corrida e dificultar a vida aos sprinters mais puros. É um cenário ideal para uma fuga bem organizada ou para um sprint em grupo reduzido.
As principais dificuldades acumulam-se na segunda metade da jornada: 6,7 quilómetros a 5,6% a cerca de 75 quilómetros da meta, 4,7 quilómetros a 5% a 63 quilómetros e, mais perto do final, 5,4 quilómetros a 4,6% a 28 quilómetros da chegada. Embora nenhuma destas subidas seja particularmente dura, a sequência e o ritmo elevado poderão partir o pelotão e permitir que ciclistas mais resistentes tentem a sua sorte.
Após a última descida, as estradas serão rápidas e planas em direção a Mâcon. Os últimos quilómetros serão relativamente simples, mas há uma curva de 180 graus dentro do último quilómetro que poderá baralhar as contas dos sprinters e colocar o posicionamento no centro da disputa pela vitória.
6ª Etapa: Valserhône - Combloux; 127,1 quilómetros
A alta montanha chega ao Critérium du Dauphiné com a primeira de três chegadas em alto consecutivas. A sexta etapa terminará em Combloux, local onde Jonas Vingegaard cimentou a sua vantagem sobre Tadej Pogacar na Volta a França de 2023. Desta vez, o final é ainda mais exigente, com a meta instalada em plena subida.
A etapa será relativamente curta, com um início acessível e propício a que o pelotão poupe forças para a parte decisiva. O primeiro grande desafio surge com o Mont-Saxonnex, uma subida de 5,5 quilómetros a 8,6% de inclinação, que termina a cerca de 50 quilómetros da chegada. Apesar da dureza, é improvável que este seja o ponto decisivo da jornada, pois todos estarão focados em guardar energias para o embate final.
A decisão será feita na Côte de Domancy, prolongada até Combloux. A subida completa tem 8,7 quilómetros com uma média de pouco mais de 7%, mas esconde armadilhas. A primeira secção, os célebres 2,5 quilómetros iniciais da Domancy, é extremamente explosiva, com inclinações superiores a 9% e múltiplas curvas apertadas, um verdadeiro teste anaeróbico onde é difícil impor ritmo e recuperar.
Após este segmento, a subida suaviza para valores entre 5% e 6% nos últimos sete quilómetros, embora com algumas rampas mais íngremes. Será um final onde os melhores trepadores poderão fazer diferenças importantes e onde os ataques terão de ser bem calculados, pois o esforço acumulado poderá cobrar um preço elevado até à linha de meta.
7ª Etapa: Grand-Aigueblanche - Valmenier 1800; 132 quilómetros
A sétima etapa do Critérium du Dauphiné é, sem dúvida, a etapa rainha da edição 2025. Apesar de ser uma etapa curta, o percurso concentra três colossos alpinos, prometendo um dia brutal para puros trepadores.
O percurso é simples de ser analisado e é implacável: três grandes montanhas e as suas respectivas descidas. O dia começa com a ascensão ao icónico Col de la Croix de Fer, uma subida interminável de 24,7 quilómetros a 6% de inclinação média, que servirá para seleccionar o pelotão e proporcionar desgaste.
Segue-se uma descida técnica e inclinada antes de os ciclistas enfrentarem o Col de la Madeleine. Embora relativamente mais curta, com 22,4 quilómetros de extensão, a Madeleine apresenta uma inclinação média de 7% e apenas uma breve secção plana que não diminui a dureza da ascensão. Trata-se de uma subida longa e constante, que exigirá mais de uma hora de esforço, com o topo a 61 quilómetros da meta.
Depois de uma longa descida e de uma transição plana, o destino final será Valmeinier 1800. A última subida é a mais curta do dia, mas não menos desafiante: 16,2 quilómetros a 6,8% de pendente média. A chegada instalada a 1800 metros de altitude, será palco para serem feitas diferenças importantes.
8ª Etapa: Val d'Arc - Plateau du Mont-Cenis; 133,5 quilómetros
A última etapa do Critérium du Dauphiné 2025 não é tão extrema como a etapa rainha, mas está longe de ser um dia fácil. Serão 133 quilómetros em grande parte ascendentes, acumulando desgaste desde o início e prometendo um final exigente no alto de Mont-Cenis.
Os primeiros quilómetros contam com duas subidas categorizadas que devem definir a formação da fuga do dia. A partir daí, o percurso entra numa fase contínua sempre em subida, não apresentando grandes descidas ou momentos para fazer uma recuperação. Antes da ascensão final, os ciclistas enfrentarão três subidas consecutivas: 6,7 quilómetros a 6,7%, 2,5 quilómetros a 7,5% e 6,3 quilómetros a 6,1%, com a terminar a apenas 32 quilómetros da meta.
Sem grandes pausas, inicia-se então a subida para Mont-Cenis, um esforço prolongado de 9,7 quilómetros a 7%, que levará os ciclistas até cerca de 2000 metros de altitude. Embora a subida termine a 5 quilómetros da chegada, o esforço não acaba ali: a aproximação à meta faz-se por estradas planas junto à margem do lago, onde o vento e a fadiga poderão desempenhar um papel decisivo.