Pidcock reencontra-se em 2025 e prova que não é preciso uma super-equipa para brilhar

Ciclismo
segunda-feira, 27 outubro 2025 a 14:02
TomPidcock
Quando Tom Pidcock deixou a poderosa INEOS Grenadiers no inverno de 2024, o mundo do ciclismo reagiu com incredulidade. Poucos compreendiam a decisão de abandonar uma estrutura milionária, equipada com alguns dos melhores meios e nomes do pelotão, para ingressar na Q36.5 Pro Cycling Team, uma formação suíça de segundo plano, ainda em consolidação no pelotão internacional. Um ano depois, porém, o veredito é claro: o risco compensou.
Aos 26 anos, o britânico encerra a época de 2025 com um pódio na Volta a Espanha, vitórias em provas por etapas e um regresso à forma que o mundo via como inevitável desde que conquistou o Alpe d’Huez em 2022.

A ruptura com a INEOS: ambição, frustração e fim anunciado

A separação entre Pidcock e a INEOS foi tudo menos pacífica. O campeão olímpico de BTT e ciclocrosse nunca escondeu a ambição de disputar a classificação geral das Grandes Voltas, mas dentro da estrutura britânica, construida em torno de Carlos Rodríguez e Geraint Thomas, o espaço para uma liderança autónoma era praticamente inexistente.
Durante a Volta a França de 2025, as tensões atingiram o ponto de rutura. Pidcock começou a corrida com intenções declaradas de lutar pela classificação geral, mas acabou reduzido ao papel de apoio, numa estratégia que não resultou para ninguém. Desmoralizado, abandonou na segunda semana.
O episódio da Il Lombardia, onde foi excluído da equipa à última hora sem explicações, selou o divórcio. Quando o britânico publicou nas redes sociais que não tinha sido informado da decisão, o cenário já era irrecuperável. Pouco depois, a rescisão foi oficializada e a transferência para a Q36.5 tornou-se realidade.

Recomeço com humildade, e vitórias imediatas

Na nova equipa, Pidcock trocou o luxo logístico da INEOS por uma estrutura mais pequena, mas que lhe prometia liberdade total de calendário e ambição pessoal. O início da parceria foi perfeito.
No AlUla Tour, venceu as duas etapas montanhosas e conquistou a sua primeira vitória em provas por etapas. Seguiu-se a Volta à Andaluzia, onde somou mais uma vitória de etapa e terminou em terceiro na geral.
Esses resultados, embora longe da elite do World Tour, devolveram-lhe confiança e moral. Em março, confirmou o salto de qualidade com um segundo lugar na Strade Bianche, apenas atrás de Tadej Pogacar, e um sexto lugar na geral do Tirreno-Adriatico, provando que o seu rendimento em alta montanha era mais do que episódico.
A primavera terminou com pódios na Flèche Wallonne e top-10 em Amstel Gold Race e Liege-Bastogne-Liege, consolidando um regresso à consistência que lhe faltara.

Um Giro frustrante, mas um verão de renascimento

A estreia com a Q36.5 na Volta a Itália revelou-se um passo em falso. Pidcock chegou ao Giro exausto após uma primavera intensa e sem estágio de altitude. Tentou lutar pela geral, mas cedo percebeu que o corpo não correspondia. Terminou em 16.º lugar, caindo na etapa de gravilha onde era favorito, um revés que serviria de lição.
O verão trouxe o reset necessário. Depois de um período de descanso e treinos específicos, regressou mais forte. Na Arctic Race of Norway, demonstrou potência de 7,5W/kg numa chegada ao topo, apenas batido por Corbin Strong, sinal de que o motor estava novamente no ponto certo.

A consagração na Vuelta: Pidcock finalmente cumpre o seu destino

Chegou à Volta a Espanha com ambição realista de um top-10, mas rapidamente superou todas as expectativas. Na 9.ª etapa, em Valdezcaray, foi o único a acompanhar João Almeida e deixou nomes como Roglic e Evenepoel em dificuldades. Poucos dias depois, na etapa 11 em Bilbao, esteve em posição de vencer até à interrupção forçada por manifestantes.
Dessa vez, o destino esteve do lado certo: Pidcock subiu ao pódio final em Madrid, terminando em 3.º lugar da geral, atrás apenas de Jonas Vingegaard e João Almeida. Foi o resultado que lhe faltava, a confirmação de que podia ser um homem de Grandes Voltas.
“Durante anos disseram-me que eu não tinha o perfil para a classificação geral. Talvez estivessem certos, até eu mudar a forma de trabalhar”, disse no final da corrida.

Um final de época sólido e a consagração da versatilidade

Depois da Vuelta, Pidcock manteve o nível alto: 10.º lugar no Campeonato do Mundo de Kigali, 2.º no Giro dell’Emilia, 6.º na Il Lombardia e 6.º no Mundial de Gravel em Limburgo. O equilíbrio entre estrada, ciclocrosse e BTT voltou a parecer natural, mas sem comprometer o rendimento nas grandes voltas, algo que poucos conseguem.
A sua capacidade de adaptação continua a ser o maior trunfo. Entre clássicas, montanha e provas por etapas, Pidcock voltou a ser o ciclista mais completo do pelotão moderno, uma espécie de elo entre as gerações de Van der Poel e Pogacar.

O veredito: uma transferência arriscada, mas vitoriosa

Ao abandonar a INEOS e juntar-se à Q36.5, Tom Pidcock arriscou tudo: dinheiro, prestígio e estrutura. Em troca, ganhou liberdade, identidade e evolução. A aposta, vista inicialmente como um passo atrás, transformou-se num dos maiores sucessos da época de 2025.
De promessa sob pressão, Pidcock renasceu como líder incontestado e símbolo de independência num ciclismo cada vez mais corporativo.
Com contrato até 2027, o britânico olha agora para 2026 com o mesmo objetivo que o move desde os tempos de júnior: vencer uma Grande Volta. E, depois de um ano como este, ninguém mais se atreve a duvidar que é possível.
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