A nuvem do doping paira sobre o ciclismo há muitos anos e dentro do pelotão português têm surgido vários casos, nos últimos anos, nomeadamente no âmbito da "Operação Prova Limpa" que acabou por levar ao afastamento da W52 - FC Porto do pelotão nacional. Vários ciclistas da formação azul e branca confessaram mesmo o uso de substâncias ilegais para melhorar o desempenho.
E a luta continua: "Há cinco processos de passaportes biológicos e dois processos de resultados adversos positivos. Neste momento, é a ADoP que está a fazer a instrução do processo e seguirá para o Colégio Disciplinar Antidopagem", revelou o Presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), em declarações à Agência Lusa.
Quando um ciclista apresenta anomalias no passaporte biológico, é habitual enfrentarem uma suspensão preventiva pela UCI até que uma decisão final seja tomada sobre o seu processo. No entanto, o dirigente da ADoP explica porque tal ação não é possível em Portugal: "A lei não permite, só no fim […] da análise e da decisão do Colégio Disciplinar Antidopagem é que eles podem ser suspensos. No caso, se fosse uma análise normal laboratorial, poderia ser suspenso depois de ser ouvido. Mas as garantias de defesa estão muito consagradas na lei. E, portanto, aqui não pode haver suspensão preventiva como a outra, digamos, nos casos mais usuais de processos de antidopagem."
Manuel Brito explica porque é que este processo demora mais em Portugal do que no caso dos processos levados a cabo pela UCI: "Quando há um caso de passaporte biológico, há um relatório de três peritos internacionais, cientistas de renome, um deles português, um caso muito honroso para Portugal, que é o professor Paulo Paixão [...]O relatório é em inglês e, pela lei portuguesa, pelo código administrativo, tem de ser traduzido, demora a ser traduzido, com custos. Depois, o arguido tem direito à defesa, explicar o que é que se passou. Esse relatório tem de ser traduzido, tem de ser enviado para os peritos. Os peritos dão uma outra resposta, em inglês, que tem de ser traduzida. Estes processos na UCI é tudo em inglês, não há traduções para ninguém. E, portanto, são muito mais rápidos do que em Portugal, em que temos de cumprir todas as exigências da lei"
O Presidente da ADoP ressalva que fica satisfeito por os ciclistas terem a sua defesa assegurada, nestes processos. "Estamos num país de direito democrático e, portanto, as garantias de defesa estão absolutamente consagradas na lei e elas são exercidas. Isso, para mim, tranquiliza-me. É lento? É lento. Mas não passamos por cima dos direitos individuais"
Há dois anos, a ADoP e a Federação Portuguesa de Ciclismo assinaram um protocolo que passou a obrigar os ciclistas das equipas portuguesas no escalão continental a possuir o passaporte biológico. Se este protocolo está a funcionar? Manuel Brito diz que sim e usa a Volta a Portugal como argumento: "A tal incerteza do resultado, que é um dos princípios do desporto, a equidade, está a ser bem clara na Volta a Portugal. Tive a oportunidade até de conversar sobre isto, várias vezes, com o presidente da FPC, com o diretor da prova também, eles concordam. Portanto, há uma volta na Volta a Portugal. Eu creio que se deve ao passaporte biológico"