A 17ª etapa da Volta a Espanha 2025 acabou por ser um marco para Giulio Pellizzari. O jovem italiano de 21 anos assinou a sua primeira vitória profissional ao atacar com frieza na última subida para o Alto de El Morredero, deixando para trás os favoritos à geral e confirmando-se como uma das maiores promessas do pelotão. Um triunfo de enorme impacto que lhe garantiu também o reforço da liderança da camisola branca.
No entanto, o brilho do dia não se esgotou na vitória de Pellizzari. As análises de Johan Bruyneel e Spencer Martin, no podcast The Move, sublinharam outros pontos quentes: a aparente falta de fulgor de Jonas Vingegaard, o isolamento preocupante de João Almeida face a uma UAE Team Emirates - XRG cada vez mais desgastada e, sobretudo, a notícia de que o contrarrelógio da 18ª etapa foi drasticamente encurtado de 27 para apenas 12 quilómetros devido a questões de segurança.
Pellizzari confirma talento em ascensão
A Red Bull - BORA - hansgrohe mostrou a profundidade do seu bloco. Com Jai Hindley já no top 5, o triunfo de Pellizzari reforçou o peso da equipa na classificação geral. “Quando houve um momento de acalmia, Pellizzari atacou. Ninguém quis ir atrás e ele pedalou para a sua primeira vitória profissional”, explicou Spencer Martin.
O italiano já tinha dado sinais no Giro e mostrou que pode ser mais do que uma promessa. Para Bruyneel, a forma como resistiu numa das subidas mais duras da Vuelta prova que tem perfil de candidato a Grandes Voltas no futuro.
Vingegaard no vermelho
Apesar do ritmo forte imposto pela Team Visma | Lease a Bike durante a etapa, Jonas Vingegaard nunca atacou na última subida, mesmo quando Almeida parecia em dificuldades. “Jonas não tentou uma única vez. Está a liderar, deve vencer esta Vuelta, mas não está a 100%”, afirmou Bruyneel.
A impressão é de que o dinamarquês gere forças e aposta no controlo da corrida, mas sem a chama de outros anos.
João Almeida outra vez isolado
O português da UAE voltou a enfrentar a subida sem apoio nos momentos decisivos. Marc Soler e Jay Vine desapareceram cedo, e a ausência de Juan Ayuso foi notória. “Não pode ser que a Visma tenha quatro ciclistas com o líder e o Almeida esteja sozinho”, criticou Bruyneel.
Almeida perdeu apenas dois segundos para Vingegaard, mas a imagem de vulnerabilidade repetiu-se, aumentando a pressão sobre a Emirates.
Ventos fortes e cenário de incêndios
O dia foi ainda endurecido pelo vento intenso no alto do El Morredero e pelas encostas negras de incêndios recentes, que criaram um ambiente quase irreal. “O vento era incrivelmente forte, estavam até a considerar encurtar a etapa no topo”, relatou Bruyneel.
Contrarrelógio reduzido a 12 km: vantagem para Vingegaard
A verdadeira bomba chegou após a etapa: os organizadores encurtaram o contrarrelógio da 18ª etapa de 27 km para apenas 12 km, citando riscos de segurança devido a novos protestos. “De 27 para 12 km… isto muda tudo. É enorme para Jonas”, reagiu Martin.
Para Almeida, a redução é um duro golpe nas suas ambições, já que a longa distância poderia ser a oportunidade para recuperar tempo. Para especialistas como Filippo Ganna, a alteração abre caminho para um triunfo quase certo.
Um futuro inquietante para o ciclismo
Os protestos e a vulnerabilidade do ciclismo de estrada estiveram novamente no centro das preocupações. Bruyneel deixou um alerta: “Qualquer pessoa pode aparecer e acabar com a corrida. É um futuro sombrio para o ciclismo se isto continuar.”
A segurança reforçada em Madrid, com números semelhantes aos da cimeira da NATO em 2022, mostra a dimensão do problema.
O que esperar?
Com Pellizzari em ascensão, Almeida cada vez mais exposto e Vingegaard a gerir vantagem, a Vuelta entrou numa fase decisiva. Mas, com etapas encurtadas, metas improvisadas e tensão fora da estrada, cresce a sensação de que a camisola vermelha poderá ser decidida tanto por pernas como por circunstâncias externas.