Riccardo Magrini responde a De Vlaeminck: “Comparar Pogacar a Merckx é absurdo”

Ciclismo
terça-feira, 11 novembro 2025 a 14:00
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As palavras inflamadas de Roger De Vlaeminck voltaram a incendiar o debate sobre gerações no ciclismo. O tetracampeão da Paris-Roubaix provocou polémica ao afirmar que Tadej Pogacar “não serve para calçar os sapatos de Eddy Merckx” e que “não me deixaria cair se eu ainda estivesse no pelotão”. As declarações rapidamente ultrapassaram as fronteiras da Bélgica e chegaram a Itália, onde Riccardo Magrini, antigo rival de De Vlaeminck, ex-diretor desportivo e atualmente comentador do Eurosport, respondeu com dureza, acusando o belga de “viver no passado” e de “não perceber nada” sobre o ciclismo moderno.

“Merckx era Merckx, Pogacar é Pogacar. Ponto final.”

Em entrevista à QuiBiciSport, Magrini, que competiu lado a lado com De Vlaeminck no final dos anos 70, não poupou críticas: “Sempre tive um grande respeito pelo Roger como ciclista, e também tivemos uma boa relação pessoal”, começou por dizer. “Mas os seus comentários sobre Pogacar parecem-me completamente descabidos. É absurdo comparar épocas diferentes. Demasiadas coisas mudaram, o treino, a alimentação, o material. Merckx era Merckx, Hinault era Hinault, Pogacar é Pogacar. Ponto final.”
O italiano reconheceu o legado de De Vlaeminck, mas considerou que o tom das suas palavras reflete uma dificuldade de adaptação a uma nova realidade. “Talvez o Roger esteja a ficar um pouco velho, digamos assim. Quando envelhecemos, temos tendência para pensar apenas no que fizemos”, comentou, num misto de ironia e respeito.

A defesa do ciclismo moderno

Para Magrini, o discurso nostálgico de algumas lendas ignora a evolução da modalidade. “Pessoalmente, gosto muito do ciclismo moderno e gosto de ver Pogacar. Não percebo aqueles que dizem que ele não tem rivais ou que torna as corridas aborrecidas. O ciclismo moderno está cheio de ciclistas fenomenais.”
O italiano destacou a atual “geração de ouro” como prova de que o nível competitivo é mais alto do que nunca: “Pogacar, Van der Poel, Vingegaard, Evenepoel, Roglic... o pelotão está mais profundo do que em qualquer outra era. As pessoas esquecem-se de como o ciclismo atual é rápido, táctico e fisicamente exigente. Não é fácil dominar como Pogacar faz.”
Magrini sublinha que a evolução técnica e científica transformou o ciclismo num desporto mais controlado e imprevisível, onde o talento é apenas uma das variáveis. “Hoje, o menor erro custa caro. É outro mundo, comparar gerações já não faz sentido.”

“Comparar épocas já não faz sentido”

A discussão sobre se Pogacar poderá igualar Merckx, ou se De Vlaeminck conseguiria acompanhar o esloveno é, segundo Magrini, um debate “mal colocado”. “É como perguntar como Maradona ou Sivori se sairiam no futebol de hoje, contra defesas modernas. O Roger foi um campeão e teria sido em qualquer época, mas não faz sentido perguntar se ele aguentaria a roda do Pogacar. Prefiro apenas apreciar os campeões de hoje como apreciei os do passado.”

Entre nostalgia e evolução

O contraste entre as visões de De Vlaeminck e Magrini simboliza um dilema recorrente no ciclismo: a resistência de parte da velha guarda em aceitar a nova geração de fenómenos que redefinem o desporto. De Vlaeminck continua a falar com a franqueza que o tornou lendário, mas Magrini defende uma perspetiva mais aberta, valorizando o presente sem reescrever o passado.
“O ciclismo evoluiu, mas não perdeu alma”, concluiu o italiano. “Merckx foi o maior da sua época, mas Pogacar está a escrever a sua própria história. E isso é o que importa.”
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