O encerramento da época de estrada de 2025 trouxe consigo não apenas os tradicionais criteriums, como o de Saitama, vencido por Jonas Vingegaard, mas também reflexões profundas sobre o estado do ciclismo moderno. Entre as vozes mais influentes que se fizeram ouvir está Alex Carera, o agente de
Tadej Pogacar, que usou as redes sociais para lançar um apelo contundente à
UCI e a todo o pelotão profissional: o desporto precisa de uma reforma estrutural urgente.
Um alerta para o futuro imediato
"Chegou o momento de atuar, e tem de ser rapidamente", escreveu Carera na sua conta de Instagram. "Prevê-se que alguns patrocinadores se retirem em 2025, embora por razões diferentes. O que é que devemos fazer? Não há uma solução única, mas tenho duas ideias para gerar interesse nas ProTeams".
Segundo o agente, a chave passa por revitalizar as equipas ProTeam, que servem como elo essencial entre o ciclismo de desenvolvimento e o topo do WorldTour. Carera propõe um calendário próprio e estruturado para estas equipas, garantindo-lhes visibilidade e espaço competitivo, além de limitar o número de corridas 1.1 e 2.1 em que as equipas WorldTour podem alinhar.
"Estas equipas são a base do ciclismo profissional. É necessário criar um calendário específico para esta categoria (para garantir visibilidade aos patrocinadores) e estabelecer um número máximo de corridas 1.1 e 2.1 em que as equipas WorldTour podem participar", explicou.
Casos como o da Arkéa mostram que a falta de um patrocinador pode ditar o fim de uma equipa
Na visão de Carera, estas alterações trariam um efeito dominó positivo: vitórias mais equilibradas, classificações mais fiéis ao mérito desportivo e oportunidades reais de crescimento para as estruturas sub-23 e de desenvolvimento.
"Estas mudanças irão garantir vitórias mais equitativas, gerar entusiasmo e tornar a classificação de equipas da UCI mais precisa, uma vez que cada equipa participará no mesmo número de corridas ao longo do ano".
O papel das ProTeams no ecossistema do ciclismo
O agente de Pogacar fez questão de sublinhar o papel fundamental das equipas ProTeam no crescimento do desporto, lembrando exemplos recentes de sucesso.
"As ProTeams bem-sucedidas tornar-se-ão futuras equipas WorldTour, como já aconteceu com a
Alpecin-Deceuninck, a Uno-X Mobility e a Arkéa - B&B Hotels, ou com equipas importantes como a
Q36.5 Pro Cycling Team e a
Tudor Pro Cycling Team. O ciclismo é um desporto único, mas tem de olhar para o futuro".
Carera refere-se à necessidade de um modelo mais sustentável e previsível, num momento em que o período de três anos de licenças UCI chega ao fim e o equilíbrio económico do pelotão se encontra em mutação.
Uma categoria em risco
Nos últimos anos, o número de equipas WorldTour manteve-se estável em 18, mas o número de ProTeams reduziu-se drasticamente. Em 2018 havia 27 formações neste escalão intermédio; em 2026, serão apenas 16. Para Carera, este é um sinal preocupante.
O empresário cita também exemplos recentes de instabilidade, como a fusão entre a Lotto e a Intermarché, ou o colapso da Israel - Premier Tech,
que perdeu o principal patrocinador e deixará de estar associada ao país homónimo.O diagnóstico é claro: a segunda divisão do ciclismo profissional está a encolher, e as equipas continentais mais fortes, como a ATT Investments, a Terengganu Cycling Team ou a Li Ning Star, admitem que subir ao escalão ProTeam já não representa vantagem competitiva nem retorno financeiro.