A
Volta à Holanda 2025 tem sido marcada tanto pela excelência desportiva como pela polémica. Enquanto Ethan Hayter venceu os dois contrarrelógios e Tim Merlier se impôs num sprint em pelotão compacto, o destaque fora da estrada recaiu sobre a desqualificação de
Jan-Willem van Schip, um episódio que gerou grande contestação e críticas à UCI e à federação neerlandesa de ciclismo.
O motivo da exclusão do ciclista do Parkhotel Valkenburg esteve relacionado com o espigão do selim da sua bicicleta, considerado irregular pelos comissários. A decisão surpreendeu a equipa, que garante ter seguido todas as normas e apresentando documentação em conformidade.
“O Jan-Willem já anda connosco há três anos. Tivemos sempre muitas discussões com os comissários da UCI sobre o seu guiador, mas nunca sobre o espigão do selim. Trazemos sempre documentação connosco e mostramo-la sempre. Com base nisso, ele é sempre autorizado a continuar a sua corrida”, afirmou Paul Tabak, diretor desportivo da equipa, ao
Wielerflits.
“Estão à procura dele”
Para Tabak, a decisão tem contornos pessoais e revela um tratamento desigual em relação ao ciclista de 31 anos, conhecido pelas suas posições aerodinâmicas pouco convencionais e pela criatividade no uso do material.
“Não é preciso explicar ao Jan-Willem quais são as regras da UCI e o que ele tem de cumprir. O facto de parecer um pouco diferente e de ele ser um pouco diferente dos outros apenas o torna especial. Penso que ele está a ser tratado com pouco respeito pela federação neerlandesa de ciclismo.”
O dirigente acredita que existe uma “caça ao homem” contra Van Schip, lembrando que o atleta foi excluído do programa de pista nacional, uma decisão que considera injustificada e prejudicial para um dos nomes mais experientes e inovadores do ciclismo neerlandês.
“Com a sua exclusão da seleção de pista, pergunto-me: porquê? Ele é realmente um atleta de topo e uma força motriz na nossa equipa e para os outros colegas. Parece, de facto, um ajuste de contas. Estão à procura dele. Já o disse em tom de brincadeira: se ele tivesse rapado mal o bigode, também o teriam desclassificado.”
Um final de época amargo
A desqualificação é mais um golpe numa temporada difícil para Van Schip, que mal competiu na estrada até setembro e procurava agora recuperar ritmo nas últimas semanas do ano. O ciclista estava motivado e tinha definido a Volta à Holanda como o ponto de relançamento da sua carreira, antes da época de pista.
“Está desiludido e triste, e com razão. Ele está a sair de um vale muito profundo e já conseguiu sair dele. Traçamos-lhe um caminho para a Volta à Holanda e para a época de pista, e depois temos este problema. Porque é uma verdadeira treta”, lamentou Tabak.
O dirigente considera ainda que a decisão é incoerente, uma vez que o material de Van Schip foi visto e aprovado antes da prova.
“Ele estava no pódio com a sua bicicleta na véspera da corrida. Os responsáveis já lá estavam. Jan-Willem também estava lá no dia do contrarrelógio, com a sua bicicleta. Toda a gente viu isso. Se nos tivessem dito antes da partida, mudávamos de ideias. Isto é como abater o cavalo depois de ele ter fugido.”
O caso reacende o debate sobre os limites da inovação no ciclismo moderno e o rigor das regras da UCI. Para Van Schip e a sua equipa, o episódio representa mais do que uma penalização técnica, é o símbolo de um sistema que muitas vezes sufoca a criatividade em nome da conformidade.
Num fim de época em que procurava simplesmente voltar a competir, Jan-Willem van Schip vê o seu regresso interrompido por aquilo que muitos já descrevem como um ato desnecessário e desrespeitoso para com um dos ciclistas mais originais do pelotão.