Quando
Tadej Pogacar conquistou o seu quarto título da
Volta a França, em julho, igualando o recorde de
Chris Froome, as comparações entre os dois tornaram-se inevitáveis. Ambos fenómenos da sua geração, ambos moldados pelo domínio na maior corrida de ciclismo, e ambos conscientes da linha ténue que separa a grandeza do excesso de esforço.
Em declarações ao Bici.Pro durante a Volta à Polónia de 2025, Froome apresentou uma análise calma e ponderada sobre o feito de Pogacar, sublinhando não apenas o desgaste físico de vencer Grandes Voltas, mas também a pressão mental que se acumula ano após ano. "Não prestei muita atenção ao aspeto de Pogacar", disse Froome. "Mas acho que é completamente normal que ele pareça cansado. Há muito tempo que corre ao mais alto nível e todos os anos se espera mais dele. De certa forma, vejo um pouco de mim próprio nisso".
Froome já não é a figura dominante que foi entre 2013 e 2018, mas nesse período foi praticamente imbatível nas batalhas pela geral. Quatro Tours, duas Voltas a Espanha e uma
Volta a Itália em seis anos construíram um legado tão implacável quanto vitorioso. Ainda assim, reconhece que as margens acabam por se esgotar: "Quando ganhei o Tour, a Vuelta e o Giro em rápida sucessão entre 2017 e 2018, cheguei ao Tour desse ano em boa forma, mas mentalmente estava a ficar vazio", recorda. "Ainda terminei em terceiro lugar, mas os sinais estavam lá".
O britânico admite que a chave para a longevidade está em saber escolher: "A dada altura, apercebemo-nos de que temos de começar a dizer ‘não’ a certas coisas ou, pelo menos, a planear a época de forma diferente", explica. "A única forma de nos mantermos afiados ao longo de tantos anos de treino estruturado é a motivação. Precisamos de novos objetivos para nos mantermos concentrados, mas também temos de ter cuidado. Exigir demasiado mentalmente é desgastante e torna tudo mais difícil".
O custo da amarela
Froome sabe que a corrida não acaba na meta. Uma das lições mais marcantes do seu domínio não veio das subidas dos Alpes ou do pavé do norte de França, mas sim das exigências intermináveis do pódio. Após a vitória no Tour de 2013, começou a analisar o impacto das cerimónias pós-etapa na recuperação: "Duas horas perdidas", resumia. "Duas horas que não foram gastas a comer, a receber massagens ou a dormir".
Não surpreende que Pogacar, ciclista de instinto, tenha deixado passar a camisola da montanha para Tim Wellens no início deste Tour ou que não tenha lutado para manter a amarela em todas as etapas. São decisões calculadas, tomadas para preservar a frescura ao longo da corrida.
"Comecei a contar os anos até à reforma"
O próprio Pogacar admitiu recentemente estar consciente do desgaste. Ao canal esloveno RTVSlo, após a vitória em Paris, confessou: "Comecei a contar os anos até à reforma. Comecei a ganhar cedo, por isso sei que também pode haver épocas com menos resultados. Mas provavelmente vou participar em mais alguns Tours, é a maior corrida e duvido que a equipa me deixe de fora nos próximos anos".
Se o esloveno já pensa na rampa de saída, isso pode refletir a intensidade emocional de uma carreira vivida no topo. Para Froome, que conheceu tanto os pontos altos do amarelo como a solidão da recuperação após a queda que lhe estragou a carreira em 2019, a mensagem é simples: a preservação não é sinal de fraqueza; é uma estratégia. "A motivação é tudo", diz. "Mas temos de nos dar espaço para respirar. Se não o fizeres, eventualmente, toda a estrutura começa a rachar".
Longe de críticas, as palavras de Froome soam a um conselho silencioso de quem já percorreu esse caminho e talvez desejasse ter dado ouvidos a essa voz mais cedo.