No ciclismo profissional, as Grandes Voltas, como a Volta a Itália e a Volta a Espanha, representam o topo das provas por etapas, atraindo equipas de elite, ciclistas e patrocinadores de todo o mundo. Tradicionalmente, o pelotão é composto por 18 equipas do World Tour, às quais é concedida entrada automática devido ao seu estatuto de primeira linha. Para além destas, os organizadores têm a possibilidade de convidar um número restrito de equipas ProTeam através de convites wildcard. Estes wildcards são oportunidades cobiçadas para as ProTeams competirem nas provas mais importantes do ciclismo, oferecendo-lhes exposição, experiência e a oportunidade de mostrarem o seu talento contra os melhores do mundo.
A decisão sobre quais as equipas que recebem wildcards é assim absolutamente crucial.
De acordo com o Cyclingnews, nos últimos dias, tanto a RCS Sport, organizadora da Volta a Itália, como a Unipublic, que gere a Volta a Espanha, solicitaram à UCI uma vaga adicional por wildcard para as edições de 2025 das respetivas Grandes Voltas. Se for aprovado, o número de equipas participantes em cada corrida aumentará para 23. A principal motivação por detrás deste pedido é acomodar o número crescente de ProTeams que competem por um lugar nestas Grandes Voltas. Ao garantir uma vaga extra, os organizadores pretendem incluir mais equipas merecedoras, melhorando assim o nível competitivo das corridas.
Para as ProTeams, receber um wildcard é uma conquista por si só, proporcionando-lhes um palco para competir ao mais alto nível e atrair mais patrocinadores para a sua equipa. Também oferece aos ciclistas uma experiência e exposição inestimáveis, que podem ser fundamentais para garantir futuros patrocínios e elevar o perfil da equipa. Para os organizadores de corridas, os wildcards permitem a inclusão de equipas que podem animar a corrida, envolver o público e defender os interesses nacionais. Basta recordar a Vuelta do ano passado, quando a Equipo Kern Pharma ganhou 3 etapas depois de ter entrado na corrida através de convite por wildcard.
No entanto, a atribuição de wildcards é um processo complexo, influenciado por vários fatores, incluindo o desempenho da equipa, a nacionalidade, considerações de patrocínios e interesses estratégicos dos organizadores. O número limitado de wildcards disponíveis torna o processo de seleção altamente competitivo, levando frequentemente a decisões difíceis e, por vezes, a controvérsia. A norma atual permite que os organizadores convidem até quatro ProTeams, mas dois desses convites são automaticamente atribuidos às ProTeams mais bem classificadas da época anterior, de acordo com os regulamentos da UCI. Este sistema deixa os organizadores com apenas dois wildcards livres, intensificando a disputa entre as restantes ProTeams. Mas quem será selecionado em 2025?
O pedido de um wildcard adicional por parte dos organizadores do Giro e da Vuelta reflete a crescente subida de nível de qualidade das ProTeams, com uma série de ciclistas de alto nível a deixarem as equipas WorldTour durante o inverno. Equipas como a Tudor Pro Cycling, reforçada por ciclistas como Julian Alaphilippe e Marc Hirschi, e a Q36.5 Pro Cycling Team, reforçada por nada mais nada menos do que o bicampeão olímpico Tom Pidcock. É claro que, sem os wildcards, ciclistas como Pidcock e Alaphilippe poderiam ver-se forçosamente fora das provas mais importantes do ciclismo em 2025.
No entanto, o alargamento do número de wildcards levanta preocupações, nomeadamente no que diz respeito à segurança. Um pelotão maior pode levar a um aumento do congestionamento em estradas estreitas, elevando o risco de quedas, algo com que o ciclismo já está a ter grandes problemas. Além disso, desafios logísticos como alojamento, transporte e apoio à corrida tornam-se mais complexos com mais equipas, e a UCI tem sido historicamente cautelosa quanto ao aumento do pelotão devido a estas preocupações. Em anteriores ocasiões, embora tenham sido feitas exceções para permitir wildcards extra, o organismo dirigente sublinhou a importância de manter pelotões de dimensões controláveis para garantir a segurança dos ciclistas e a integridade da corrida.
A decisão de conceder um wildcard extra tem também enormes implicações financeiras. Cada equipa adicional aumenta os custos de organização, incluindo alojamento, segurança e serviços de apoio por exemplo. Os organizadores têm de encontrar uma forma de equilibrar o que é possível, com o seu desejo de ter todos os grandes nomes nas grandes corridas.
O pedido dos organizadores do Giro e da Vuelta de um wildcard extra em 2025 poderá certamente melhorar o nível competitivo e proporcionar oportunidades valiosas para as equipas emergentes, mas é imperativo equilibrar estes benefícios com considerações de segurança e condicionalismos logísticos. A decisão da UCI terá de considerar cuidadosamente todos estes fatores para defender a integridade e a segurança do desporto.