“Somos tão caros como a F1, mas sem receitas”: Vaughters preocupado com o modelo financeiro desatualizado do ciclismo

Ciclismo
sexta-feira, 19 dezembro 2025 a 15:00
TadejPogacar_UAETeamEmirates (2)
Durante quanto tempo pode o ciclismo continuar a funcionar com o modelo financeiro atual? É a pergunta que muitos patrocinadores se fazem antes de recusarem, com diplomacia, uma proposta de parceria. Não admira que a divisão Pro tenha encolhido de 27 equipas em 2018 para 16 em 2026. Mas para a típica equipa WorldTour, a luta pela sobrevivência é anual. E a UCI? Parece não se incomodar com o rumo dos acontecimentos.
“As equipas operam com estas licenças frágeis de três anos que, na realidade, são revistas todos os anos”, afirma Jonathan Vaughters, proprietário da EF Education-EasyPost, no podcast Domestique Hotseat. “Portanto, na prática é uma licença de um ano”.
“Certamente, o maior aumento de custos no ciclismo está nos salários dos ciclistas e em toda a periferia, a ciência do desporto e o apoio à volta disso. Uma equipa como a UAE diz ‘vamos gastar o que for preciso para ganhar tudo’. Isso vai contagiar o resto do mercado. Vai inflacionar tudo”.
A UAE Team Emirates - XRG liderada por Tadej Pogacar parece um nível acima da concorrência neste momento
Equipas como a Emirates, Red Bull e Ineos operam com orçamentos anuais superiores a 50 milhões de euros
E outras equipas parecem ter decidido combater fogo com ainda mais fogo. “A Red Bull tem, neste momento, a mesma filosofia: ‘vamos gastar até lá chegar’”, diz. O efeito dominó é previsível e penalizador para todos os restantes. “Aumenta o custo de patrocinar uma equipa vencedora, uma equipa capaz de ganhar coisas grandes”.

Tão caro como a F1 ou o futebol

Os montantes envolvidos nas transferências no topo da hierarquia preocupam Vaughters. A sua EF Education-EasyPost nunca pertenceu ao lote das formações mais ricas do pelotão. Agora, o fosso cresce ainda mais e Vaughters teme o dia em que os agentes lhe comuniquem que um contrato foi rescindido por uma soma avultada.
Mas o que realmente o move é o sistema financeiro desatualizado do ciclismo. Hoje, todo o modelo assenta no capricho de um ou dois patrocinadores que se juntam para sustentar o projeto de uma equipa. Depois investem dinheiro que dificilmente terá retorno. Isto porque os organizadores, como a ASO, monopolizam os lucros.
“Somos tão caros como a F1. Somos tão caros como o futebol europeu, ou muitos desportos americanos”, enumera Vaughters. Nesses desportos, argumenta, o patrocínio não suporta toda a estrutura. “Esses desportos operam com o princípio de que a receita central são os direitos mediáticos. E ainda merchandising e bilhética. O patrocínio é só a cobertura do bolo, certo?”

O ciclismo é um navio a afundar

O ciclismo, por contraste, tenta flutuar sem casco. “Estamos a tentar manter o barco à tona apenas com patrocínios porque essas outras fontes de receita não existem”, afirma. “Não temos merchandising coletivo. As equipas não recebem nada dos direitos mediáticos”.
Se isto soa a algo solucionável, Vaughters não partilha do otimismo. “É complicado porque a ASO detém essencialmente todos os direitos mediáticos, ou pelo menos os valiosos”, diz. E este braço de ferro entre equipas e entidades como a ASO dura há três décadas.
Os camisola dos vencedores da Volta a França 2025: Jonathan Milan (verde), Tadej Pogacar (amarela e de bolas) e Florian Lipowitz (branca)
Os vencedores das camisolas da Volta a França 2025: Jonathan Milan (verde), Tadej Pogacar (amarela e das bolinhas) e Florian Lipowitz (branca)

Como sair deste círculo vicioso?

Vaughters propõe uma ou duas soluções para tornar o ciclismo mais sustentável. A primeira é criar identidades de equipa com as quais o público se possa identificar. Hoje, há formações que mudam mais de cinco patrocinadores-título em cinco épocas, destruindo qualquer identidade:
“Criar franquias permanentes, para que as pessoas invistam em vez de doar, e manter os custos um pouco mais controlados, tornando o ciclismo um espaço atrativo que gera valor para um patrocinador”.
E depois limitar as opções financeiras praticamente ilimitadas de alguns patrocinadores, para nivelar o terreno. “Podemos chamar o que quisermos; tetos salariais ou limites orçamentais”, afirma.
Uma tentativa surgiu em 2023 - o projeto One Cycling. Porém, a sua proposta foi deitada pela janela pela UCI. Vaughters tem a sua leitura: “A UCI, na verdade, contraria os interesses comerciais das equipas”.
aplausos 0visitantes 0
loading

Últimas notícias

Notícias populares

Últimos Comentarios

Loading