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Volta a Espanha 2025 terminou envolta em polémica, com a 21ª etapa em Madrid a ser cancelada devido aos protestos pró-palestinianos que marcaram toda a corrida. O desfecho sem o tradicional sprint na capital espanhola deixou ciclistas e adeptos frustrados, reforçando a sensação de que a última grande volta da temporada se transformou num palco de tensão política em vez de celebração desportiva. Entre as vozes mais críticas após o fim da corrida destacou-se
Pello Bilbao, ausente da edição deste ano mas incisivo nas suas declarações ao Sport.
"Surpreende-me que só agora me perguntem sobre isto. Não sei do que estamos à espera, porque o que está a acontecer em Gaza é um genocídio. Se as autoridades tivessem tomado uma decisão antes da Vuelta, os protestos poderiam ter sido evitados", afirmou Bilbao. O basco sublinhou que a crise era previsível e que a falta de ação apenas deixou que os protestos se intensificassem perante a visibilidade mediática da corrida.
Bilbao procurou, no entanto, distinguir a sua crítica institucional da relação pessoal com alguns elementos da
Israel - Premier Tech: "É difícil para mim dizer que quero a Israel - Premier Tech fora do pelotão, porque tenho antigos colegas de equipa e conhecidos nessa equipa, com os quais me dou bem".
Mesmo reconhecendo esse dilema, o ciclista foi claro ao apontar incoerências: "É uma situação complicada e eles também estão a sofrer com isso. Mas não percebo a hipocrisia da
UCI, porque eles tomaram uma decisão diferente com a Gazprom russa". As suas palavras ecoam uma comparação que vários membros do pelotão fizeram em privado, mas que poucos expressaram de forma tão direta - a disparidade entre a exclusão imediata da equipa russa em 2022 e a permanência da formação israelita em 2025.
Protestos em Madrid garantiram o cancelamento da última etapa da Vuelta 2025, com muita violência à mistura
Críticas às instituições
Bilbao foi ainda mais longe, responsabilizando diretamente a UCI e o Governo espanhol pela falta de antecipação: "A UCI e o Governo espanhol deviam ter previsto esta situação, caso contrário não teria acontecido nada do que aconteceu na Volta". E acrescentou: "Será que os outros ciclistas pensam da mesma forma? Talvez não sejam tão radicais como eu, mas diria que a maioria do pelotão pensa da mesma forma. Mas ninguém é tão franco como eu, porque é fácil ficar calado".
Do lado da organização, Javier Guillén não escondeu o impacto do colapso da última etapa, admitindo que se tratou do ponto mais baixo da sua carreira como diretor da Vuelta: "Esta foi a Vuelta mais difícil. Lamento e condeno o que aconteceu na última etapa. As imagens falam por si. O que aconteceu foi inaceitável, especialmente no circuito. Nada de bom pode ser retirado disso, e não pode ser repetido".
Guillén justificou ainda o processo de decisão, remetendo responsabilidades para a UCI: "Discutimos a situação com a UCI para analisar os acontecimentos. Foi-lhes pedido que tomassem uma posição e emitiram uma declaração confirmando que a Israel podia continuar na corrida. Seguimos os seus critérios, de acordo com os regulamentos. Nenhuma federação vetou Israel. De uma perspetiva internacional, nenhuma instituição baniu os atletas israelitas. Mantivemo-nos neutros, dissemos que havia um problema e deixámos que fosse a UCI a decidir. Eles disseram que Israel podia correr, e a equipa correu. A própria equipa também optou por continuar".
A resposta política espanhola
Se a posição de Guillén procurou, e bem, mostrar neutralidade, o Conselho Superior do Desporto (CSD) em Espanha assumiu uma postura bem mais dura e tendenciosa. Em comunicado, o organismo contestou abertamente a presença da Israel - Premier Tech: "O desporto não pode ficar indiferente ao que se passa no mundo", afirmando ainda que "usar o desporto para branquear um genocídio como o de Gaza é uma posição política que contradiz a Carta Olímpica e os valores fundamentais do desporto".
O CSD foi mais longe, acusando a comunidade internacional de duplicidade: "É surpreendente que em nenhum lugar haja um apelo para que o governo de Netanyahu pare o massacre e a barbárie contra o povo palestino. Esta realidade deve obrigá-los a responder com a mesma força que fizeram em 2022 em relação à invasão da Rússia na Ucrânia".