Thomas Voeckler, antigo ciclista profissional com quatro vitórias em etapas da Volta a França e uma vitória na classificação de montanha em 2012, é agora o selecionador francês. Em declarações ao Cyclism'Actu,Voeckler partilhou os seus pensamentos sobre os Jogos Olímpicos de Paris, onde os ciclistas franceses garantiram duas medalhas de ciclismo de estrada, e refletiu sobre a temporada dominante de Tadej Pogacar.
Quando questionado sobre as suas emoções após os Jogos Olímpicos, Voeckler revelou uma surpreendente falta de sentimentalismo. Embora o sucesso da equipa francesa tenha excedido as expetativas, com dois ciclistas a juntarem-se a Remco Evenepoel no pódio, Voeckler rapidamente se concentrou nos desafios futuros.
"Mas é evidente que excedeu as nossas expetativas, é preciso olhar para as coisas com objetividade. Se nos tivessem dito que haveria dois franceses atrás de Remco Evenepoel no pódio... Eu acreditava na possibilidade de disputar o título, estava mesmo convencido disso, mas quando penso noutros ciclistas à partida...", explicou. "Se se retirasse apenas o Pogacar... bem, "apenas" talvez não seja o termo correto. Além disso, só de pensar em Pogacar, estou convencido de que se ele estivesse lá, a situação e a corrida teriam mudado completamente. Dizem que os ausentes estão sempre errados, mas não me incomodou o facto de ele não estar lá... De qualquer forma, foi melhor para nós".
Embora o feito tenha sido histórico, Voeckler admitiu que as suas emoções foram muito mais moderadas do que o esperado. "Para mim, os Jogos Olímpicos, o sábado depois da corrida, no dia seguinte estava a conduzir o carro do Paul Brousse para a equipa feminina e já tínhamos virado a página. Não parece tão difícil assim, mas é assim que eu trabalho". Apesar da atmosfera extraordinária e do fervor que envolveu os Jogos Olímpicos, Voeckler manteve-se concentrado. "Mesmo quando o Valentin (Madouas) passou a meta, não reagi, estava à espera de ver como seria para o Christophe (Laporte). E só nessa altura é que gritámos no carro".
A abordagem pragmática de Voeckler reflete o seu espírito profissional. "Virei a página, mas isso não quer dizer que não esteja orgulhoso, que não goste do que os rapazes fizeram e da aventura que tivemos", esclarece, sublinhando a sua mentalidade de olhar sempre para o futuro.
Voltando a sua atenção para o estado atual do ciclismo, Voeckler elogiou o domínio sem precedentes de Tadej Pogacar em 2024, comparando os seus feitos com os da lenda do ciclismo Eddy Merckx. "É um ano Merckx, numa época que já não é a de Merckx. Onde tudo evoluiu, onde a competição é normalmente muito mais globalizada, onde todos têm mais ou menos os mesmos métodos de trabalho."
Para Voeckler, o sucesso de Pogacar destaca-se ainda mais tendo em conta a igualdade de condições do ciclismo moderno. "Para mim, o que ele fez é ainda mais forte do que o que Merckx fez. Eddy Merckx e Bernard Hinault eram sempre os mais fortes à partida, só tinham de carregar nos pedais. Hoje, Pogacar é o mais forte, apesar de tudo estar otimizado".
Voeckler sublinhou a evolução do desporto, destacando as palavras de Romain Bardet. "As palavras que me marcaram foram as de Romain Bardet, que numa entrevista no início do ano disse que o que há 7 ou 8 anos apenas 10 ciclistas eram capazes de fazer, hoje há 40 que conseguem fazer o mesmo, o que dá uma ideia, o Romain não é uma pessoa que fale assim no ar".
Apesar de ter elogiado a elegância de Pogacar e o brilhantismo das suas manobras, Voeckler admitiu que o domínio do esloveno pode, por vezes, levar a uma falta de emoção nas corridas. "Quando ele ataca tão longe da meta, atrás é emocionante, mas é apenas para o 2º lugar", comentou Voeckler. Voeckler também estabeleceu paralelismos com a prestação de Mathieu van der Poel no Paris-Roubaix, descrevendo-o como "magnífico", mas igualmente carente de entretenimento.