O terceiro lugar de
Tom Pidcock na
Volta a Espanha 2025 foi saudado como um ponto de viragem na sua carreira – não apenas pelo próprio britânico, mas também pelo seu treinador de longa data, Kurt Bogaerts. Embora o crescimento do ciclista de 26 anos na luta pela classificação geral tenha reacendido o debate sobre o seu potencial para as Grandes Voltas, o belga insiste na necessidade de ter paciência. Para Bogaerts, o modelo perfeito a seguir é a ascensão gradual do antigo colega de equipa Geraint Thomas até ter ganho a Volta a França.
Até este verão, a relação de Pidcock com as provas de três semanas era, no mínimo, desconfortável. Repetidamente assumiu que vencer a Volta a França era a sua maior ambição, mas admitia que a corrida lhe parecia monótona face à espontaneidade das Clássicas ou do BTT. Em Espanha, porém, comprometeu-se pela primeira vez em correr para a geral – e a recompensa foi um pódio histórico.
“Nas Grandes Voltas não se pode correr apenas por instinto e isso sempre foi muito importante para o Tom”, explicou Bogaerts numa entrevista ao Wielerflits. “Nesta Vuelta, pusemos conscientemente tudo por trás da classificação geral. Foi a primeira vez que a classificação geral foi o principal objetivo desde o primeiro dia, em vez de ser um projeto secundário atrás de algo como os Jogos Olímpicos ou um Mundial de BTT.”
Essa mudança de mentalidade permitiu a Pidcock medir-se com os melhores trepadores. “Na etapa de Bilbao, distanciou-se do Jonas Vingegaard na subida”, recordou Bogaerts. “Isso já foi de si bastante singular e foi um sinal muito positivo para o futuro.” Para o belga, foi a prova de que o britânico pode figurar entre a elite das corridas mais exigentes do calendário.
Ambição moderada
Apesar do pódio, Bogaerts fez questão de acalmar o entusiasmo. “Isto significa que o pódio deve ser o objetivo em todas as Grandes Voltas a partir de agora? De nenhum modo. Se fizermos a Volta a França no próximo ano, diria que é uma ambição perigosa. Ele precisa de tempo e nós temos um plano. A concorrência também está sempre a avançar, por isso o Tom tem de progredir passo a passo. Como o Geraint Thomas, que só ganhou o Tour aos 32 anos.”
A comparação com Thomas é pertinente. O galês trilhou uma carreira de forma paciente – da pista às Clássicas, até assumir a liderança numa Grande Volta. Pidcock, por outro lado, é puxado para várias direções: BTT, ciclocrosse, monumentos e o Tour. Para Bogaerts, essa diversidade é simultaneamente uma força e um desafio. “Ainda não ganhámos um Monumento e isso é um objetivo em si mesmo. Mas não se pode correr atrás de tudo ao mesmo tempo.”
A Volta a Espanha também expôs áreas onde Pidcock ainda tem margem para crescer. Até agora, a sua preparação privilegiava esforços explosivos de curta duração, mas as Grandes Voltas exigem resistência em subidas longas e consistência nos contrarrelógios. Desde a Volta a Itália, o britânico tem mostrado progressos nesse campo, mas o caminho continua em aberto. “O Tom nunca terá muita corda nas fugas. Se ele quiser ganhar uma Grande Volta, terá de ser frente a frente com os melhores. Isso significa trabalhar mais nas subidas e no contrarrelógio. Mas ele também gasta energia noutras disciplinas e o BTT continuará a fazer parte do seu calendário.”