"Ele merece ter a equipa toda atrás dele" Geraint Thomas enaltece a consistência de João Almeida nas grandes voltas e pede mais apoio para o português

Ciclismo
quarta-feira, 17 setembro 2025 a 9:17
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Tom Pidcock anunciou-se como ciclista de grandes voltas na Volta a Espanha de 2025, ao subir ao pódio final em Madrid atrás de Jonas Vingegaard e João Almeida. Para o britânico de 26 anos, que há muito se destacava fora da estrada mas nunca tinha confirmado plenamente as expectativas no asfalto, este terceiro lugar foi um marco. Pela primeira vez, mostrou que não só consegue sobreviver às três semanas, como também pode competir de igual para igual com os melhores trepadores e corredores de classificação geral do mundo. Para a sua equipa Q36.5 Pro Cycling Team, o resultado representou igualmente um momento decisivo, validando a aposta feita no ciclista de Yorkshire quando saiu da estrutura da INEOS.
No podcast Watts Occurring, Luke Rowe e o recém-reformado Geraint Thomas analisaram em detalhe o feito de Pidcock, refletindo sobre o impacto que pode ter no futuro do ciclismo britânico e também sobre a dinâmica do pelotão internacional. Entre surpresa, admiração e cautela, a dupla deixou claro que este pódio pode ter mudado a trajetória do ciclista e, por arrasto, de toda uma geração.

"Não estava nada à espera disto"

Rowe abriu o episódio de forma direta: "Um dos pontos mais falados desta Vuelta é, obviamente, o desempenho do Tom". Nem ele nem Thomas esconderam que não antecipavam ver Pidcock a lutar pelo pódio. "Se recuarmos até janeiro e alguém nos dissesse que ele ia terminar num pódio de uma grande volta este ano, eu não acreditava", confessou Rowe. "Talvez um top 10, mas pódio? Não".
Thomas, com toda a experiência acumulada de várias temporadas a lutar pela classificação geral, reforçou a ideia: "Olhemos para o Giro deste ano. O Pidcock entrou a pensar na CG e terminou em 16º lugar, a quase 45 minutos. Agora, apenas alguns meses depois, aparece na Vuelta, sobe com os melhores e acaba em terceiro a três minutos do Jonas. É uma diferença abismal".
O contraste entre o fracasso relativo no Giro e o sucesso em Espanha foi tema recorrente. Para Thomas, essa evolução num espaço de tempo tão curto mostra não só maturidade, mas também adaptação a uma rotina que exige regularidade extrema. "A três minutos do Vingegaard… é mesmo estar no grupo certo", frisou.

Resiliência na Bola del Mundo

Rowe evocou o momento mais emblemático da corrida: a subida da Bola del Mundo na 20ª etapa, quando Almeida tentou atacar mas foi Vingegaard a selar a vitória. 2O Tom estava sempre a perder a roda, mas depois voltava. Repetidamente. Era quase doloroso de ver, mas ele aguentou. Não implodiu. Manteve-se sempre no limite e conseguiu salvar o pódio".
Para os dois ex-INEOS, a resiliência mostrada pelo britânico foi tão reveladora como o próprio lugar na geral. "Basicamente, esteve sozinho quase todo o tempo", disse Rowe. "Não tinha um comboio de montanha como outros líderes, mas ainda assim conseguiu manter-se".
Thomas acrescentou que essa independência deu uma nova dimensão ao ciclista: "Não é só talento. É saber medir esforços, gerir a energia e nunca desistir. Foi isso que lhe deu o pódio".

A recompensa para a Q36.5

Para além do triunfo individual, a dupla do podcast destacou a importância deste resultado para o projeto da Q36.5. "Eles precisavam de uma Vuelta assim", afirmou Rowe. "É um resultado que lhes dá credibilidade no WorldTour, pontos UCI e uma nova dimensão de ambição".
Pidcock, por sua vez, reconheceu que este era o momento de afirmar-se: "Já não há volta a dar. É agora ou nunca". A forma como assumiu a responsabilidade reforça a ideia de que deixou de ser apenas uma promessa para se tornar numa aposta real da sua equipa.

A nova geração britânica

O pódio de Pidcock surge poucos meses depois de Oscar Onley ter terminado em quarto lugar na Volta a França, atrás de Pogacar, Vingegaard e Lipowitz. Para uma nação que se habituou, durante mais de uma década, a ver Wiggins, Froome e Thomas no topo, estes resultados assinalam um renascimento.
"Em apenas três meses, tivemos dois britânicos no top 4 de Grandes Voltas", sublinhou Rowe. "Isso muda o panorama. Depois de alguns anos mais discretos, o Reino Unido volta a ter gente para disputar estas corridas".
Thomas concordou: "Com a minha reforma, havia dúvidas sobre quem assumiria esse papel. Agora já sabemos que o futuro passa por Pidcock e Onley".
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Onley quase terminou no pódio da Volta à França em julho, tendo sido uma das grandes surpresas da corrida

Volta a França: já em 2026?

A grande questão é se Pidcock pode repetir a façanha na Volta a França. Rowe foi prudente: "No próximo ano? Não, não acho. Mas no futuro, sim. Tem 26 anos, ainda vai crescer".
Thomas também temperou expectativas: "O coração diz que sim, a cabeça diz que não. Ele pode chegar ao pódio do Tour, mas precisa de tempo, preparação e da equipa certa à volta".
Ambos concordaram, porém, que o pódio em Espanha muda as contas para o convite da Q36.5 ao Tour. "Um wildcard com o nome do Pidcock no pódio da Vuelta? Isso interessa à ASO. Pode ser a carta que lhes abre a porta".

Pogacar e Vingegaard continuam no topo

Ao discutir a hierarquia, Thomas foi taxativo: "Vingegaard é o segundo melhor corredor de 3 semanas da geração. Se o Pogacar não existisse, ele seria o melhor de todos, sem discussão".
Rowe recordou o ataque decisivo do dinamarquês na Bola del Mundo: "Ele esperou pelo momento certo e disparou. Foi simples e devastador".
Ambos reconheceram que Pogacar e Vingegaard continuam a definir a era atual, deixando pouco espaço para novos campeões. "São eles a referência. Todos os outros, incluindo o Pidcock, têm de medir-se por esse padrão".

Os protestos que mancharam a corrida

O podcast não evitou o tema mais desconfortável: os protestos que marcaram a Vuelta e culminaram no cancelamento da etapa final em Madrid. "Etapa 21, parque de estacionamento, pódio em cima de caixas de cerveja… que confusão", resumiu Rowe.
Thomas acrescentou: "Foi cómico, mas também triste. Uma corrida desta dimensão não pode terminar assim. O Jonas merecia um final à altura".
Ainda assim, os dois reconheceram o esforço dos organizadores em improvisar uma cerimónia. "No mínimo, deram-lhe um pódio digno, mesmo em condições absurdas", comentou Rowe.

A frustração de João Almeida

Outro tema foi a abordagem da UAE Team Emirates - XRG. Para Rowe, a equipa poderia ter explorado melhor a fraqueza temporária de Vingegaard. “Na segunda semana, o Jonas não estava no seu melhor. Se todos tivessem trabalhado a fundo para o Almeida, talvez o desfecho fosse diferente".
Thomas destacou a consistência do português: "Em todas as Grandes Voltas ele termina sempre perto do pódio. Segundo, terceiro, quarto… Ele merece ter a equipa toda atrás dele. Os números não enganam".

Quem é Pidcock fora da estrada?

No meio da análise, Rowe e Thomas lembraram também a personalidade do britânico. "Ele é alguém que gosta de trabalhar num círculo muito pequeno, com pessoas em quem confia", explicou Rowe. Para Thomas, essa característica pode ser decisiva: 2Na INEOS era só mais um. Aqui é líder, e isso muda tudo. Ele precisa desse ambiente próximo e de confiança".

O que significa este pódio?

No final, a dupla do podcast foi clara: o pódio de Pidcock não foi um acaso. Foi fruto de consistência, maturidade e evolução. Para o ciclismo britânico, representa o regresso à elite. Para a Q36.5, legitima o projeto. E para o próprio ciclista, abre a porta ao próximo grande objetivo: estar entre os melhores no Tour.
"Ele agora é um concorrente", concluiu Thomas. "Não um outsider, não uma promessa. Um verdadeiro corredor de classificação geral".
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