O triplo Tour–Olimpíadas–Mundiais de
Tadej Pogacar em 2025 marcou uma das épocas mais dominantes da história recente do ciclismo. Mas se havia dúvidas sobre o que viria a seguir,
Tejay van Garderen tratou de dissipá-las: o esloveno, diz ele, “não tem rival”.
Falando no podcast
Beyond the Podium com Bob Roll, o antigo finalista do pódio da
Volta a França analisou o recém-revelado percurso de 2026 e deixou claro que o cenário, por mais equilibrado que pareça no papel, dificilmente mudará o resultado.
“Há um par de anos, pensei que Pogacar era o melhor ciclista de todo-o-terreno, mas Vingegaard o melhor em três semanas. Este ano ambos chegaram saudáveis… e Pogacar arrasou. Por isso, por muito que eu quisesse uma verdadeira rivalidade, neste momento ele não tem rival.”
Um percurso feito para todos, mas dominado por um
A edição de 2026 traz um traçado mais versátil: um contrarrelógio por equipas logo na abertura, duas passagens pelo Alpe d’Huez, oportunidades generosas para sprinters e terreno suficiente para fugas audaciosas.
Mas para Van Garderen, nada disso altera a essência: quando um ciclista está num patamar superior, o mapa torna-se irrelevante.
“Conhecendo o Pogacar, ele vai atacar em qualquer oportunidade que veja. Talvez tente impor a sua autoridade logo nos primeiros dias”, afirmou o americano.
Desde o primeiro teste nos Pirenéus, na terceira etapa, até ao duplo Alpe na semana final, o veredito de ambos é o mesmo: Pogacar não espera pelos espaços, cria-os.
“Pogacar está a perseguir fantasmas”
O comentário mais poético da conversa veio de Bob Roll, que vê o esloveno num momento raro da história do desporto:
“Ele não está apenas a tentar ganhar a Volta a França. Está a perseguir fantasmas. Quer ganhar as etapas, bater o recorde de Cavendish. Ele quer tudo.”
A ambição total de Pogacar já não se mede em camisolas amarelas, mas em legados. E Roll acredita que essa mentalidade é o verdadeiro motor do seu domínio: uma fome insaciável de deixar marca em todas as frentes.
A análise direta: “Ninguém está a ganhar ao Pogacar”
Quando questionado se 2026 poderia oferecer uma luta mais equilibrada, Roll foi categórico:
“Vou fazer um comentário rápido: ninguém vai ganhar ao Tadej Pogacar na Volta a França do próximo ano.”
Mesmo reconhecendo que as primeiras etapas, com o contrarrelógio coletivo e os primeiros testes de montanha, podem manter as contas próximas, o antigo profissional vê o percurso perfeito para o estilo de Pogacar.
“Pode ser mais renhido, pode haver mais drama, mas este Tour foi feito para ele.”
Vingegaard e Evenepoel: os rivais sem margem
Para Van Garderen, a diferença não está apenas nas pernas, mas também no contexto.
A rivalidade com
Jonas Vingegaard, que proporcionou alguns dos duelos mais intensos dos últimos anos, perdeu força em 2025:
“No ano passado ainda pensei que o Jonas precisava de descanso depois da queda no País Basco. Este ano ambos chegaram saudáveis, e o Tadej arrasou-o.”
Quanto a
Remco Evenepoel, o americano reconhece o seu poder no cronómetro, mas considera que o percurso de 2026 não lhe oferece o suficiente para ameaçar Pogacar:
“Acabei de ver o Campeonato do Mundo, onde o Remco colocou dois minutos e meio no Pogacar... Se queremos uma corrida emocionante, devíamos ter mais quilómetros de contrarrelógio. Vinte e dois não são suficientes.”
Roll concordou:
“Hoje em dia, os líderes da geral dominam os contrarrelógios. Precisamos de percursos longos para ver quem é realmente o melhor.”
O fator Red Bull BORA e o equilíbrio tático
A transferência de Evenepoel para a Red Bull BORA também entrou em debate. Van Garderen vê potencial, mas levanta dúvidas sobre a dinâmica interna:
“Com Roglic e Lipowitz no mesmo alinhamento, será uma equipa poderosa, mas será que vão jogar bem?”
O americano acredita que a hierarquia dentro da nova estrutura alemã pode ser o maior obstáculo do belga, não a falta de talento.
A engrenagem da UAE e o papel de João Almeida
Outro ponto discutido foi o apoio tático da UAE Team Emirates - XRG, que por vezes pareceu hesitante em 2025.
Van Garderen destacou a ausência de João Almeida como fator decisivo em algumas falhas estratégicas:
“Se ele tivesse lá estado, eles teriam fechado muitas fugas. Pogacar podia ter ganho oito etapas. Ele não pode fazer o trabalho de quatro ciclistas, mas uma UAE completa vai tentar vencer tudo.”
O que está realmente em jogo
O tema final trouxe a conversa para o plano histórico. Roll sintetizou o sentimento geral:
“Ele não está apenas a tentar ganhar o Tour, está a perseguir fantasmas.”
Uma quinta Camisola Amarela colocaria Pogacar lado a lado com Merckx, Hinault, Indurain e Anquetil, e os analistas acreditam que a fome do esloveno só vai aumentar.
Mesmo que chegue à última etapa com minutos de vantagem, Roll não tem dúvidas:
“Ele vai tentar ganhar a última etapa também.”
Conclusão
O percurso de 2026 promete espetáculo: duplo Alpe d’Huez, um início explosivo e terreno para surpresas.
Mas, para Tejay van Garderen e Bob Roll, a equação mantém-se simples:
“Para ganhar a Volta a França”, conclui Van Garderen,
“primeiro é preciso vencer Tadej Pogacar. E neste momento, isso é muito mais fácil de dizer do que de fazer.”