O futuro de
Tadej Pogacar e o futuro do ciclocrosse podem estar mais ligados do que se imaginava. Poucos dias depois de o diretor da
UCI, Peter Van Den Abeele, ter sugerido que a
UAE Team Emirates - XRG estaria a impedir o campeão do mundo de competir na lama, o jornalista italiano Beppe Conti apresentou uma versão muito diferente, uma versão que coloca Pogacar no centro de um ambicioso plano para tornar o ciclocrosse olímpico.
Em declarações à RadioCorsa da RaiSport, Conti desmentiu categoricamente que a equipa tenha vetado o regresso do esloveno às corridas de inverno. Segundo o veterano repórter, Pogacar está, na verdade, a desempenhar um papel ativo e estratégico: o de embaixador da candidatura do ciclocrosse aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2030, que se realizarão na Savoie, em França.
“Foi dito que Pogacar queria experimentar o ciclocrosse este inverno e que a equipa o proibiu. Não é de todo o caso”, explicou Conti. “Tadej Pogacar é um embaixador, e isso é algo muito importante, para trazer o ciclocrosse para os Jogos Olímpicos de 2030. Ele poderia realmente tornar-se o embaixador da inclusão do desporto nos Jogos de Inverno, como merece, uma vez que se realiza no inverno, no meio da neve, do gelo e de condições difíceis.”
Da lama ao símbolo olímpico
A declaração de Conti surge em resposta à entrevista recente de Van Den Abeele ao
Het Nieuwsblad, na qual o dirigente da UCI afirmava que Pogacar “voltaria de bom grado ao cross, se a sua equipa o permitisse”.
Segundo Conti, o caso é precisamente o oposto: não se trata de uma proibição, mas de uma missão. O papel de Pogacar estaria ligado a uma campanha de diplomacia desportiva que visa convencer o Comité Olímpico Internacional a incluir o ciclocrosse no programa de Savoie 2030.
A ideia, que vem sendo trabalhada pela UCI há mais de dois anos, é transformar o ciclocrosse num desporto de inverno reconhecido, aproveitando o seu ambiente natural, lama, frio e neve, para criar uma ponte entre o ciclismo tradicional e os Jogos Olímpicos.
Van Den Abeele já tinha confirmado na semana passada que a proposta “não foi retirada da mesa” e continua em análise.
“Ainda não foi aprovada, mas a candidatura segue viva”, disse o dirigente.
Um projeto que pode redefinir o ciclocrosse
A entrada do ciclocrosse nos Jogos Olímpicos teria impacto histórico. Traria novos fluxos de financiamento, maior visibilidade global e, talvez o mais importante, um incentivo direto para as federações nacionais investirem no desenvolvimento da modalidade.
A UCI acredita que o reconhecimento olímpico permitiria atrair mais jovens ciclistas e novos patrocinadores, além de abrir portas para o envolvimento de ciclistas de estrada e de BTT num calendário de inverno mais estruturado.
Neste contexto, a figura de Pogacar ganha um peso simbólico tremendo. Nenhum outro ciclista encarna tão bem o espírito multidisciplinar e moderno que a UCI quer promover: um atleta capaz de dominar os Monumentos, os Grand Tours e de inspirar o público fora das estradas.
O embaixador perfeito para a lama olímpica
Desde o início da sua carreira, Pogacar tem demonstrado uma ligação natural ao todo-o-terreno, tanto pelo seu gosto pessoal pelo BTT como pela sua admiração por figuras híbridas como Mathieu van der Poel e Wout van Aert.
Mesmo sem competir regularmente no ciclocrosse, o esloveno nunca escondeu o seu respeito pela modalidade, que considera “a essência pura do ciclismo”.
A sua presença como embaixador olímpico seria, portanto, uma jogada estratégica: dar rosto e prestígio à candidatura da UCI, ao mesmo tempo que reforça a sua própria imagem como atleta total.
Se o projeto avançar, Pogacar não precisará sequer de alinhar num campeonato de lama para deixar a sua marca, bastará o seu envolvimento e influência mediática para legitimar o sonho olímpico do ciclocrosse.
Uma visão para o futuro
O eventual regresso simbólico de Pogacar ao cross não é apenas um gesto nostálgico, é o sinal de uma transformação mais ampla no ciclismo mundial.
Ao mesmo tempo que a UCI procura modernizar a estrutura da modalidade e atrair novos públicos, a imagem de Pogacar como ponte entre gerações e disciplinas pode tornar-se decisiva.
A confirmar-se o papel de embaixador, o campeão do mundo poderá estar a preparar-se não apenas para correr sobre a lama, mas para ajudar o ciclocrosse a dar o salto mais importante da sua história: entrar nos Jogos Olímpicos de Inverno.