A época de ciclocrosse 2024-2025 começou oficialmente em Mechelen, nos Países Baixos, onde tivemos a primeira grande corrida profissional este fim de semana. De outubro a fevereiro, teremos um calendário recheado de acção na modalidade e nós analisamos o que se pode esperar, bem como as mudanças dignas de nota.
A 15 de setembro, a corrida em Mechelen já contou com ciclistas fortes do circuito, com a corrida masculina a ser ganha por Jens Adams, enquanto a corrida feminina foi ganha por Inge van der Heijden, à frente de Aniek van Alphen. No dia 12 de outubro, em Beringen, teremos o primeiro grande cross do ano em Beringen, onde são esperadas muitas das estrelas da modalidade enquanto a primeira corrida da Taça terá lugar no dia 20 de outubro com o Superprestige Ruddervoorde.
À medida que a época de estrada começa a chegar ao seu final em meados de outubro, as estrelas do ciclocrosse ganham destaque e, quando chegarmos ao Natal, os nomes de Tadej Pogacar ou Remco Evenepoel serão apenas secundários quando comparados com a ação que tem lugar sobretudo na Bélgica e nos Países Baixos.
O calendário é uma das maiores mudanças a destacar para o próximo inverno e, na nossa opinião, uma mudança muito positiva. Os organizadores ouviram os ciclistas e criaram um calendário em que as três taças não são distribuídas uniformemente ao longo do ano, o que torna impossível aos ciclistas regulares concentrarem-se nas três ao seu melhor nível. Em vez disso, tem havido uma maior concentração no agrupamento das corridas das taças individuais, de modo a permitir que os ciclistas tenham períodos específicos em que procurarão atingir a sua melhor forma - sem destruir a sua época.
Na época passada, foi notória a ausência dos homens da Baloise - Trek Lions na luta pela Taça do Mundo. Apesar do talento natural que todos eles têm, nem Lars van der Haar, nem Joris Nieuwenhuis, nem Pim Ronhaar, nem Thibau Nys começaram a época com esse objetivo e todos eles já tinham falhado uma corrida a contar para a Taça do Mundo quando os ciclistas entraram no período de Natal. E isto depois do quarteto ter terminado no Top 5 na primeira ronda nos EUA.
Van der Haar era quem falava mais alto. "Não se pode viver seis meses com as condições do verão. Especialmente se em breve tivermos três ciclistas de topo (Mathieu van der Poel, Wout van Aert e Tom Pidcock) fisicamente frescos, connosco já meio mortos", disse ao explicar por que razão só se concentrou no X2O Badkamers Trofee na época passada. Relativamente à Taça do Mundo, van der Haar chegou mesmo a chamar o sistema de pontuação de "podre". As 14 corridas (um número que cresceu exponencialmente na temporada 2021-2022) foram disputadas entre 15 de outubro e 28 de janeiro. Eli Iserbyt foi o único ciclista do topo que se concentrou em vencê-la desde a primeira ronda, mas nem mesmo ele conseguiu pontuar em todas as corridas. Apenas um ciclista conseguiu pontuar em todas as corridas: Toon Vandebosch.
Van der Haar venceu a Taça X20, enquanto Eli Iserbyt se concentrou em vencer a Taça do Mundo e o Superprestige. Um caso atípico, mas o belga conseguiu ser bastante consistente ao longo do inverno e determinado a correr todas as provas destas duas competições (juntamente com a X2O, mas aí contentou-se com o segundo lugar). Enquanto que nomes como Mathieu van der Poel, Wout van Aert e Tom Pidcock só começam a época mais tarde e têm normalmente como objetivo os Campeonatos do Mundo e os treinos de inverno, encontram-se muito mais frescos e em melhores condições do que os profissionais experientes que têm de estar activos e em boa forma desde outubro se quiserem disputar pelo menos uma das competições.
Por isso, há mudanças. O X2O Badkamers é o que menos se vê, recomeça a 1 de novembro com o Koppenbergcross, mas mantém-se relativamente espalhado ao longo do ano. É talvez aquela em que os ciclistas menos se vão concentrar. O Superprestige terá 2 corridas no final de outubro; 2 em meados de novembro, 2 no final de dezembro e 2 no início de fevereiro. Não se pode dizer que não estejam distribuídas uniformemente ao longo da época, mas há intervalos consideráveis entre os grupos de corridas.
É na Taça do Mundo que isto é mais importante. Na época passada as 14 corridas foram repartidas por 3 meses e 2 semanas. Este ano realizam-se em apenas 2 meses e 2 dias. Na época passada, a primeira corrida foi a 15 de outubro e nos EUA (uma grande viagem), enquanto este ano é apenas a 24 de novembro (nessa altura, na época passada, os ciclistas já tinham 4 corridas). O número de corridas foi reduzido para 12 em vez de 14 e haverá pelo menos uma por semana, excepto no fim de semana dos campeonatos nacionais em meados de dezembro. Isto significa que os ciclistas que querem lutar pela Taça do Mundo podem dar-se ao luxo de entrar na época com mais calma ou saltar corridas em outubro e novembro sem pressão, antes de se concentrarem no que é mais importante. Além disso, isto aumenta as hipóteses dos ciclistas que correm uma época de estrada completa também terem a oportunidade de lutar pelos lugares de topo nesta competição.
No entanto Sven Nys mostrou-se desagradado com esta situação "quanto mais perto estiverem as corridas umas das outras, mais os ciclistas farão escolhas e cancelarão corridas. Não se pode correr tudo", argumentou.
Espera-se uma batalha a duas frentes para as equipas mais fortes, como foi o caso no ano passado. De um lado a Pauwels Sauzen - Bingoal com Eli Iserbyt e Michael Vanthourenhout na liderança e do outro a Baloise - Trek Lions com Lars van der Haar, Pim Ronhaar e Thibau Nys. A Baloise perdeu, no entanto, Joris Nieuwenhuis, um ativo muito valioso e há rumores de que assumirá a liderança de uma nova equipa patrocinada pela Ridley.
Temos Toon Aerts a correr pela equipa Deschacht - Hens - FSP. O belga regressou às corridas em meados de fevereiro. Ele só conseguiu começar três corridas, mas as duas que ele terminou tiveram como resultado dois quartos lugares e durante o verão ele provou ser forte em alguns eventos de gravel e estrada. Ele será um homem a ter em consideração, pois não perdeu o seu nível após ter cumprido a sua suspensão de dois anos. Laurens Sweeck (Crelan - Corendon) não teve a melhor das temporadas no ano passado e terá a pressão sobre os seus ombros para mais uma vez ser competitivo contra os melhores.
Será interessante ver se Gerben Kuypers (Charles Liégeois Roastery CX) será capaz de manter a consistência e fazer grandes performances como foi o caso no ano passado. Temos o peso dos ciclistas "internacionais" nos ombros de Felipe Orts (que terá o Campeonato da Europa em Pontevedra, prova que venceu na época passada) e o britânico Cameron Mason que lutou pela vitória no Troféu X20 Badkamers, que se têm tornado cada vez mais figuras de destaque no circuito, tal como Kevin Kuhn (Suíça) e Michael Boros (República Checa).
No que diz respeito aos que não correm toda a temporada, mas que vão fazer manchetes... Mathieu van der Poel até agora tem mantido a boca fechada sobre a temporada de ciclocrosse, por boas razões naturalmente, uma vez que ainda está totalmente focado no Campeonato do Mundo de estrada. O holandês tem estado num estado de saúde e forma incrível no último ano e meio e na última temporada dominou todas as corridas, excepto uma, em que participou. Chegando muitas vezes no seu próprio carro, descontraído e sem pressão à maioria das provas, ele arrasava a concorrência confortavelmente. Tinha apenas um objetivo: o Campeonato do Mundo, que ganhou - embora não tão dominador como muitos esperavam. Não há razão para que não regresse à modalidade este inverno, para perseguir um sétimo título mundial que o levaria a igualar o recorde de Erick de Vlaeminck.
Wout van Aert também não disse nada até agora, mas ele não irá correr mais durante a temporada de estrada em curso devido a um acidente na Volta a Espanha. Com uma temporada cheia de lesões, ele irá dizer presente de certeza absoluta - provavelmente começando em dezembro. Ainda não está decidido se vai concentrar-se na Taça do Mundo ou se vai apenas utilizar o ciclocrosse para se preparar para a época de estrada. No entanto, o Campeonato do Mundo terá lugar em Dendermonde, uma pista que é frequentemente muito lamacenta e que lhe assenta na perfeição.
Tom Pidcock voltou a sagrar-se Campeão Olímpico de BTT e esta parece ser a disciplina onde se encontra ao seu mais alto nível . Na estrada, venceu a Amstel Gold Race, mas pouco mais há a mencionar sobre a sua época, enquanto na época passada, no ciclocrosse, uma doença durante o mês de dezembro fez com que a sua forma física descarrilasse. Tal como van Aert, acabou por decidir não participar no Campeonato do Mundo por não acreditar que pudesse competir contra van der Poel.
Thibau Nys é a "nova estrela". Normalmente muito inconsistente, a última temporada não foi excepção, mas o filho da lenda Sven Nys correu uma temporada completa (embora não se tenha concentrado em nenhuma taça) e parecia estar em boa forma no final da época. A consistência é algo vital em que ele ainda precisa de trabalhar. Mas em termos de talento já deu provas, tendo vencido em Waterloo e na Koppenbergcross logo no início do ano passado. A sua época de estrada foi incrível, tendo ganho 9 corridas ao longo do ano (5 delas do nível World Tour, para além de ter vencido todas as provas por etapas em que participou). Correu de finais de abril a finais de agosto, 4 meses ao mais alto nível num pelotão World Tour e com excelentes resultados. É o calendário de primavera/verão perfeito para ele e será uma grande ajuda para a próxima época.
Ainda não sabemos se vai lutar por alguma taça especifica, mas com o calendário da Taça do Mundo a ser reduzido em quase mês e meio, Nys é um dos poucos ciclistas que pode, de forma muito realista, vencer e desafiar Eli Iserbyt. Recentemente, numa entrevista ele disse que "em primeiro lugar e acima de tudo, quero estar a um nível alto do princípio ao fim da época- isso não aconteceu no inverno passado (devido a dores nas costas, ed.)".
Na Taça do Mundo tivemos uma situação semelhante à dos homens, onde Ceylin del Carmen Alvarado se concentrou em ganhar a Taça do Mundo e a Superprestige e conseguiu voltar ao seu melhor nível, alcançando estes dois triunfos com consistência e com o objetivo de participar em todas as provas, enquanto as suas rivais não o fizeram. Mas o calendário mais reduzido da Taça do Mundo deste inverno pode significar que ela terá mais concorrência para poder voltar a repetir os feitos do ano transato.
No entanto, foi Fem van Empel quem mais ganhou. A holandesa com apenas 22 anos de idade, venceu os Campeonatos da Europa e do Mundo, juntando-lhe o Troféu X2O Badkamers. Os Europeus no início de novembro, podem ser demasiado cedo para ela se apresentar na sua melhor forma, especialmente depois de uma época completa na estrada.
Puck Pieterse correu um calendário reduzido no ano passado, tendo no entanto participado em corridas tanto no início como no final da época... Mas a talentosa ciclista multi disciplinar - tal como Tom Pidcock - surpreendeu mais no BTT, vencendo os Campeonatos do Mundo e da Europa de XCO. Também venceu uma etapa na Volta a França Feminina, ganhando a classificação da juventude final. Com o seu sucesso fora do ciclocrosse, é pouco provável que se concentre numa época completa na modalidade ou numa época com objectivos a longo prazo. A sua fórmula atual já funciona bem.
Embora o domínio de Sanne Cant tenha desaparecido, a belga vê surgir uma nova esperança de pelo menos representar a Holanda em algumas corridas, uma vez que Laura Verdonschot e Marion Norbert Riberolle venceram algumas corridas na temporada passada, Annemarie Worst regressou a um bom nível na época passada e será uma candidata às taças, uma vez que costuma correr épocas inteiras, enquanto que jovens talentos como Zoe Bäckstedt, Leonie Bentvelt, Marie Schreiber e Kristyna Zemanová chamarão muito à atenção - e talvez, uma delas dê o salto para se juntar ao 'Top 4'. Blanka Kata Vas também parece estar perto de dar o salto, mas a sua prioridade está na estrada e isso acaba por ter um papel importante na hora de escolher. Será também interessante ver se Marianne Vos é capaz de regressar às vitórias após uma época difícil e se a sua nova colega de equipa Pauline Ferrand-Prévot regressará ás pistas.